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quarta-feira, 31 de agosto de 2011

NORTERIOGRANDENSES ILUSTRE - V

FELINTO ELÍSIO DE OLIVEIRA AZEVEDO

José Ozildo dos Santos

F
oi uma das maiores expressões políticas do Seridó potiguar. Homem íntegro, dedicado à causa pública, Felinto Elísio nasceu a 29 de novembro de 1852, na Fazenda Sombrio’, município de Jardim do Seridó. Filho do casal Manoel Ildefonso de Oliveira Azevedo e Teresa Florindo de Jesus, pelo lado paterno, era bisneto do Antônio de Azevedo Maio, patriarca da família Azevedo, na região e fundador da fazenda Conceição’, núcleo inicial da cidade de Jardim do Seridó.

Felinto Elísio, na juventude


Iniciou sua carreira política aos dezoito anos de idade, assumindo a chefia do Partido Conservador no município de Jardim do Seridó, em substituição ao seu pai, que transferiu-se para a cidade paraibana de Campina Grande, com porte da família. Eleito membro do Conselho da Intendência (1877-1884), administrou o município de Jardim do Seridó, de 1878 a 1880, em substituição ao Padre João Avelino de Albuquerque Silva.
Prestigiado em seu partido, elegeu-se, deputado provincial por duas legislaturas. E, proclamada a República, assumiu a chefia política do município de Jardim do Seridó, de cuja liderança somente foi destituído pela Revolução de 1930. Membro do Conselho da Intendência Municipal, administrou sua cidade natal, nos períodos de 1894-1896, 1905-1907, 1908- 1910, 1911- 1913 e 1914­-1916, quando passou o cargo ao Dr. Heráclito Pires Fernandes, seu amigo e correligionário.

Felinto Elísio, na velhice

Eleito deputado estadual por várias legislaturas, presidiu a Assembléia Legislativa Estadual e na condição de Vice-Governador, o Coronel Felinto Elísio administrou interinamente o Rio Grande do Norte, por duas vezes. E, até o presente, foi o único filho de Jardim de Seridó a governar seu Estado.
Em sua terra natal, Felinto Elísio ocupou as mais variadas funções públicas. Capitão da antiga Guarda Nacional (02-01-1877), foi distinguido com a patente de Coronel, por decreto datado de 23 de janeiro de 1893, assinado pelo Marechal Floriano Peixoto, Vice-Presidente da República, em exercício.
Homem de grande cultura jurídica, ocupou o cargo de Promotor Público da Comarca de Jardim do Seridó, no período de 1886 a 1890. Registra Antídio de Azevedo, que o Coronel Felinto Elísio quando moço,era tido como um dos rapazes mais elegantes de sua terra” e era um homem que lia multo, tendo um vasto conhecimento na atualidade de então. Tinha uma agradável palestra e de palavras fáceis, porém, gago. Tomou-se, portanto, um homem ilustre, considerado grande sabedor da história política da Província e do Estado”.

Fazenda Sombrio, antiga propriedade de Felinto Elísio, em 1923

Figura das mais ilustres da política norte-riograndense durante a Primeira República, Felinto Elísio foi uma das vítimas da onda de violência, levada a cargo pelo Governo Mário Câmara, no Estado. Em 1935, numa visível demonstração de abuso de autoridade e poder, o delegado Francisco Efraim, a serviço do ódio partidário, invadiu a residência do velho patriarca, na fazenda Sombrio’, espancando-o e prendendo-o, simplesmente pelo de ser um dos opositores ao Governo Estadual, naquele município.
Iniciado o processo de reconstitucionalização do país, filiou-se as hastes do Partido Popular, fundado e dirigido no Estado por José Augusto e, em seu município, contribuiu fortemente para a vitória dos candidatos populares à Assembléia Estadual Constituinte (1935), responsável pela eleição do sucessor do Interventor Mário Câmara.
Durante mais de meio século, o Coronel Felinto Elísio fez política e foi um autêntico representante de seu povo. Em Jardim do Seridó, onde viveu toda a sua vida, possuía grandes laços de amizade e gozava da mais alta estima por parte de seus conterrâneos, que, ouviam sua palavra, acatavam e seguiam seus conselhos. Na condição de homem público, participou como elemento de conselho e decisão de todos fotos relevantes da vida política da tetra potiguar”.
Casado em primeiras núpcias com a senhora Noenísia Amélia Cunha de Azevedo, enviuvando, contraiu novo matrimônio com Verônica Cunha de Azevedo, irmã de sua falecida esposa. De ambas uniões, nasceram 16 filhos.
Administrador probo, realizou em Jardim do Seridó grandes obras, voltadas para o melhoramento das condições de vida de seus munícipes. Herdeiro natural das tradições seridoenses, Felinto Elísio de Oliveira Azevedo faleceu no dia 11 de abril de 1944, aos 92 anos de idade, mas inteiramente lúcido. Seu corpo, acompanhado por uma grande multidão, foi conduzido e sepultado no Cemitério Público de Jardim do Seridó, de cuja cidade, foi um de seus mais ilustres filhos.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

PADRE ASSIS

SANTO E SÁBIO

José Ozildo dos Santos


E
xistem homens que nascem e morrem sem terem a oportunidade ou condições de imprimirem seu nome na história. Outros, por dinamismo, competência, atos e qualidades, destacam-se nos mais variados segmentos da vida humana, projetam-se no futuro e eternizam-se após a morte. A este segundo grupo, pertence o padre Assis, que viveu mais de quarenta anos na cidade de Patos, no sertão paraibano, prestando relevantes serviços como sacerdote, professor e jornalista.
Joaquim de Assis Ferreira nasceu aos 24 de novembro de 1908, na fazenda ‘São João Francisco’, em território atualmente pertencente ao município de Malta, e, que à época, integrava o antigo município de Pombal, no alto sertão paraibano. Foram seus pais Antônio Ferreira Lima e dona Maria Olindina de Assis, ambos agricultores e católicos.
Ainda muito jovem descobriu sua vocação para o sacerdócio. E, após concluir o primário, devidamente autorizado por seus pais, ingressou no tradicional Seminário Arquidiocesano da Paraíba. Ali, cursou o ginasial e o secundário, além de perfazer seus estudos superiores de Teologia e Filosofia. Seminarista, cedo revelou-se portador de uma inteligência extraordinária, recebendo elogios de seus colegas de estudos, professores e do próprio reitor do Seminário.

Padre Assis no início de sua vida sacerdotal

Ordenou-se sacerdote no dia 26 de novembro de 1933, aos 25 anos de idade, em solenidade realizada na Catedral de Cajazeiras, a cuja Diocese pertencia. Sua primeira nomeação eclesiástica foi para ocupar o cargo de vigário da Paróquia de Catolé do Rocha (1934-1935). Zeloso em sua missão, logo tornou-se estimado por seus paroquianos. Educador nato, “realizou elogiável trabalho em favor da juventude daquela comunidade", fundando ali um educandário.
Durante sua permanência naquela cidade, além de ter promovido uma ampla reformação na Igreja Matriz, recebeu em sua paróquia, com grande estilo, a visita do missionário capuchinho Frei Damião de Bonzano, por quem tinha grande apreço e admiração.
Em 1936, após aceitar convite formulado por dom Mota, bispo de Cajazeiras, tornou-se diretor do tradicional Colégio ‘Padre Rolim’, sediado naquela cidade, desenvolvendo um trabalho, que sempre será lembrado na história daquele secular educandário.
No entanto, em meados de 1945, transferiu-se para a cidade de Patos, no Sertão das Espinharas, após ser nomeado inspetor federal de ensino na região, passando a acumular as referidas funções com o exercício de seu sacerdócio. Primeiro reitor do ‘Seminário Mínimo São José’, durante anos foi orientador educacional do ‘Ginásio Diocesano de Patos’, à época, sob a direção do talentoso Padre Vieira.
Filósofo e teólogo de renome, o Padre Assis notabilizou-se como pregador, projetando-se no púlpito como um dos melhores oradores sacros do Nordeste. Famosa é a oração com a qual saudou Nossa Senhora de Fátima, quando de sua passagem pela cidade de Patos, em meados de 1953.
Convidado, pregou em diversos centros religiosos de importância no país. Em Recife, na Basílica do Carmo, numa certa cerimônia litúrgica, impressionou a todos que ouviram seu sermão, proferido numa linguagem simples, mas rica em mensagem e exemplos de fé cristã.
Distinguido com o título de cônego, foi sempre ‘o Padre Assis’, conquistando a admiração do povo patoense, por seus atos e ações. Logo após a criação da Diocese de Patos, foi designado consultor diocesano, diretor diocesano da doutrina cristã, membro do Conselho de Administração Diocesana, confessor extraordinário do Ginásio Cristo Rei, capelão do Hospital Regional e confessor ordinário do Centro de Ação Social ‘Cônego Machado’, por provisões assinadas por dom Expedito Eduardo de Oliveira - primeiro bispo de Patos - e datadas de 15 de agosto de 1959. Entretanto, apesar de suas múltiplas funções, sempre encontrava tempo para auxiliar o vigário da Paróquia de Nossa Senhora da Guia.
Nomeado confessor ordinário do Ginásio Cristo Rei (Provisão nº 5, de 27-01-1961), aos 8 de fevereiro de 1964, o padre Assis tornou-se capelão daquele educandário, onde exerceu o sacerdócio até seus últimos dias de vida. A partir de 29 de fevereiro de 1968, passou a acumular as referidas funções com a direção da Radio Espinharas, “dando-lhe um grande impulso e, efetivamente, cumprindo o slogan de emissora a serviço da moral, da fé e da cultura".

Padre Assis quando diretor da Rádio Espinharas

Naquele veículo de comunicação, por longo período, manteve um programa diário, apresentando crônicas, que numa linguagem escorreita, abordava temas religiosos, sociais, filosóficos e políticos. Mais tarde, algumas de suas crônicas foram reunidas num livro, sob o título ‘Crônicas das 12’, publicado após a sua morte, através da Associação Promocional do Ancião/ASPAN - para cuja instituição deixou os direitos autorais de sua produção literária - com prefácio do jurista Ronald de Queiroz, seu ex-acólito.
Culto e piedoso, o padre Assis construía pelo exemplo e santificava por sua ação verdadeiramente apostólica. Como poucos, possuía uma capacidade de comunicação impressionante, ganhando “prestígio de psicólogo, de uma psicologia ainda tributária da filosofia e da moral”.
Inteligência rara, exímio educador e orador sacro de grande relevo, o padre Assis faleceu no dia 17 de agosto de 1987, aos 79 anos de idade incompletos, no Recife, onde encontrava-se em tratamento médico.
No mesmo dia, seu corpo foi transladado para a cidade de Patos, onde a população, unida pela amizade e caridade cristã, compareceu ao seu velório, que teve início às 22:00 horas, na Catedral de Nossa Senhora da Guia.
Ali, na manhã do dia seguinte, às 8:30 horas, a comunidade diocesana prestou-lhe sua última homenagem, em missa concelebrada por dom Gerardo Andrade Ponte e com a participação de dom Zacarias Rolim (bispo de Cajazeiras) e de vários sacerdotes da Diocese de Patos.
Em seguida, acompanhado de grande número de populares, entidades pastorais e agentes do clero, o corpo do padre Assis foi conduzido para o Cemitério de Santo Antônio, onde foi sepultado em túmulo de sua família, conforme desejo manifestado. Na oportunidade, uma saudação foi feita pelo prefeito Rivaldo de Medeiros, em nome de toda a população patoense.
Como consultor diocesano, o cônego Joaquim de Assis Ferreira foi um excelente colaborador de dom Expedito, de quem era amigo íntimo. Nas reuniões do Conselho Diocesano, “não havia quem não se curvasse diante de suas sábias e prudentes opiniões ou sugestões” .
Num exemplo raro, ele soube ser pessoa e personalidade ao mesmo tempo e como poucos, a todos, sabia indicar o caminho certo a seguir. Certa vez, afirmou: “não alimento a presunção de incluir-me entre orientadores de qualquer categoria, mas nem, por isso, me recuso de, aproveitando oportunidades, dirigir uma palavrinha de incentivo aos moços”.
Conservador, o padre Assis andava sempre de batina, chamando atenção por seu habito. Às vezes, mostrava-se fechado. E, no silêncio de seu quarto, mergulhado em pensamentos, parecia alheio ao mundo ao seu redor. No entanto, como ninguém, sabia conquistar uma amizade e relacionar-se com as pessoas. Esta sua qualidade nata, fazia com que dele todos se aproximassem.
Espírito culto, amante dos clássicos, possuía grandes conhecimentos na língua que imortalizou Cícero e Virgílio, expressando-se majestosamente falando ou escrevendo. Em Patos, por longos anos, foi professor de Latim e como ninguém, “sabia manejar o vernáculo, em construções textuais de fino lavor literário”.
No púlpito e na cátedra, o padre Assis possuía um desempenho brilhante, preservado até o final de sua existência. Em síntese, ele tinha a vocação do intelectual, que fazia de sua cultura um serviço em benefício do próximo. Sacerdote virtuoso e operoso, serviu a boa causa e soube formar a sua personalidade, vivendo seus últimos dias de vida, “envolvendo de bênçãos sacrossantas o quotidiano do homem do sertão”.
Como ser humano, foi a modéstia em pessoa. E, ignorando seus conhecimentos nos mais variados campos do saber, viveu toda a sua existência no interior paraibano, vencendo desafios e ajudando seus conterrâneos a ajudarem-se. Num gesto nobre, dizia aos ouvintes de suas crônicas diárias: “por mim, não haveria um só espinho neste mundo, não se derramaria uma só lágrima, não se ouviria um só gemido”, e “por isso, sempre vou, quando solicitado, ao encontro de todos aqueles, a quem uma dor tortura ou aflige uma tristeza”.
De forma simples e humilde, no final de sua vida, o padre Assis passou a ocupar um modesto cômodo nas dependências do ‘Colégio Cristo Rei’, vivendo sob os cuidados das irmãs do Amor Divino. Ali, era sempre procurado por alunos e pessoas da sociedade patoense, que iam em busca de “suas seguras orientações e excelentes conselhos”.
Na imprensa escrita e radiofônica, o padre Assis teve uma atuação destacada. Lamentavelmente, ainda não é conhecido em sua plenitude, na Paraíba, Estado que lhe serviu por berço. Seu livro ‘Crônica das 12’ (publicado postumamente em 1998), reúne uma pequena parcela de sua produção literária. Ainda resta muito a ser publicado.
Humilde, reconhecia, pela verdade, o que realmente possuía. E, pela justiça, atribuía a si o mal e a Deus, todo o bem. Aqueles que tiveram a felicidade de conhecê-lo e com ele conviver, guardam seus exemplos, seus ensinamentos e suas palavras amigas. Sobre ele, pode-se afirmar que “foi um anjo de pureza e de bondade”, pois nele, “tudo foi grande, porque soube se fazer pequeno demais”.
Homem de gestos nobres, verdadeira “chama ardentíssima de amor a Deus”, o cônego Joaquim de Assis Ferreira sabia conviver com os menos favorecidos, semeando, entre todos, união e fé. Como educador, foi uma luz que guiou e iluminou o caminho de muitos jovens e por “sua vida exemplar e capacidade de compreensão dos humanos, para os céus, padre Assis é um santo”, pois, “em tudo que fez na vida e por onde passou, deixou a marca brilhante da sua santidade.

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