AS ORIGENS DE UMA CIDADE
José Ozildo dos Santos
O
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desbravamento e a ocupação do território parelhense é um capítulo especial na história do Seridó norteriograndense. Logo na primeira metade do século XVII, o Seridó começou a ser explorado. Existem registros históricos que atestam a presença portuguesa na região antes do domínio holandês no nordeste. Tais registros referem-se ao aldeamento de índios da nação tapuia, em território que posteriormente constituiu-se no município de Acari. Na demarcação do referido sítio dos tapuias, encontramos as primeiras referências sobre o Boqueirão de Parelhas, à época, conhecido como ‘Boqueirão do Acauã’.
Durante o período de domínio holandês, o território parelhense foi visitado por exploradores flamengos, que adentraram o interior da Capitania em busca do apoio do elemento silvícola. Conhecedores dos atos de bravuras e de coragem da nação tapuia, os holandeses sabiamente souberam conquistar a confiança daqueles selvagens, utilizando-os como armas contra os luso-brasileiros.
Anos mais tarde, após a expulsão dos holandeses, os tapuias, inimigos irreconciliáveis dos portugueses, levantaram-se em armas contra o elemento colonizador, gerando a chamada ‘Guerra dos Bárbaros’, que teve como epicentro o Seridó Oriental.
O Boqueirão de Parelhas, uma coordenada geográfica
na penetração do Seridó potiguar
Ainda no final do século XVII, pelo ‘Boqueirão de Parelhas’, passaram os terços paulistas, sob o comando de Domingos Jorge Velho com a missão de combater os tapuias em guerra. Em território parelhense ocorreram as mais sangrentas batalhas daquela guerra anticolonalista, que, no final, foi objeto do primeiro tratado de paz assinado por um rei europeu e um chefe de uma nação indígena, na América Latina.
Terminada a Guerra dos Bárbaros, foram concedidas as primeiras sesmarias no território parelhense. A fácil localização, a fertilidade dos solos e a existência de água, foram os principais fatores que contribuíram para o rápido povoamento do solo parelhense.
Em 1700, o tenente Francisco Fernandes de Sousa [que participou ativamente da Guerra dos Bárbaros], fixou-se na região, após instalar sua fazenda de gado, à margem esquerda do Rio Seridó, nas proximidades da Serra do Boqueirão. Nascia, assim, o primeiro núcleo de ocupação humana em solo parelhense. No entanto, aquele pioneiro somente requereu a legalização de suas terras após 23 anos de efetiva ocupação, conforme nos informa João de Lyra Tavares, em seus ‘Apontamentos para a história territorial da Parahyba’, publicados em 1912.
As dificuldades da época, a distância entre os centros das decisões administrativas e a constante luta para manter-se na posse da referida terra, foram os obstáculos alegados pelo tenente Francisco Fernandes de Sousa ao governo da Capitania da Paraíba - a cuja jurisdição pertencia o território parelhense - quando da solicitação das referidas terras, em 1723.
Leito do Rio Seridó, próximo ao Boqueirão de Parelhas
(Foto datada de 1920, por Luciano Jacques de Moraes)
No final do século XVIII, todo território parelhense já encontrava-se desbravado e dividido em fazendas com seus gados presos em currais de pau a pique. Certo e seguro é afirmar que a pecuária foi o elemento que estimulou o povoamento do mencionado território, numa visível consolidação do chamado ciclo do gado ou do couro.
Boqueirão, Cobra, Barra, Carnaúba, Quintos, Boa Vista, Tanques de Felipe Dias, Preás, Sussuarana, Retiro, Malhada Grande, Corujinha e Timbaúba (cujos topônimos sobrevivem até os dias atuais), são exemplos de fazendas de gado que surgiram no território parelhense ainda no século XVIII e que serviram como núcleos iniciais de ocupação humana, naquela região.
Ombreira direita da Serra do Boqueirão de Parelhas
(Foto datada de 1920, por Luciano Jacques de Moraes)
A cidade de Parelhas nasceu de uma prece. Corria o ano de 1856 quando todo o interior da Província do Rio Grande do Norte foi assolado pela epidemia do cólera morbus, que vitimou mais de um terço de toda população norteriograndense.
No atual território parelhense, inúmeros foram as vítimas daquela epidemia infecto-contagiosa. Famílias inteiras sucumbiram, deixando um rastro de dor e sofrimento. Na região, inexistiam cemitérios e as vítimas foram sepultadas em valas coletivas.
O desespero da população indefesa levou os senhores Sebastião Gomes de Oliveira e Cosme Luís a fazerem uma prece. Se a região ficasse livre daquela mortal epidemia eles construíram uma capela consagrada a São Sebastião. Assim, alcançada a graça, uma pequena capela foi construída. E, ao seu redor, surgiram as primeiras casas.
O aglomerado humano, aos poucos foi adquirindo delineamento urbano. Numa visível demonstração de fé, foi fincada uma cruz de madeira no local que antes funcionou como o cemitério para os coléricos. Era o marco inicial da evolução histórica da futura cidade de Parelhas, cujo povoado somente aparece nos documentos oficiais - com essa denominação - a partir de 1870.
Em novembro daquele mesmo ano de 1870, a pequena povoação tornou-se distrito de paz, subordinado ao município de Jardim do Seridó, do qual era parte integrante. A localização privilegiada estimulou seu crescimento. Ainda naquele ano, ali surgiu a primeira escola de instrução primária, fundada e regida pelo talentoso professor José Gomes, que, por seus relevantes serviços, foi agraciado pelo Imperador Dom Pedro II com a Comenda da Ordem de Cristo. A referida escola foi a primeira no interior da Província do Rio Grande do Norte a funcionar em prédio próprio, construído à custa de seu professor.
Aos poucos, a pacata povoação foi adquirindo importância econômica. Em 1888, o padre Bento Maria Pereira Barros instalou-se em Parelhas, após ser designado para ocupar o cargo de capelão local. Sacerdote culto e revestido de elevados predicados, realizou a primeira feira na localidade, e, de forma consciente, estimulou o plantio do algodão, cultura que ainda no final do século XIX, tornou-se o primeiro suporte econômico da região.
No início do século XX, Parelhas recebeu várias missões científicas, financiadas pelo governo central, através da antiga Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas – IFOCS. Todos os cientistas que por ali passaram, unanimemente, atestaram as possibilidades econômicas da próspera povoação. No entanto, apesar de seu grande potencial econômico, Parelhas permaneceu durante muito tempo reduzida à condição de simples povoação, embora ostentasse um aspecto superior a muitas cidades do interior do Estado, superando, inclusive, Jardim do Seridó, de cujo município era parte integrante.
Somente após uma grande mobilização popular, coordenada por Antão Elisário e outros filhos da terra, a florescente povoação foi elevada à categoria de vila, através da Lei Estadual nº 778, de 26 de novembro de 1920. Anos mais tarde, pela Lei nº 630, de 8 de novembro de 1926, tornou-se município autônomo, ocorrendo sua instalação no dia 1º de janeiro do ano seguinte, oportunidade em que aconteceu a posse de seu primeiro prefeito, o senhor Laurentino Bezerra Neto, que, historicamente, foi também o primeiro cidadão eleito para o referido cargo, no Rio Grande do Norte. Posteriormente, a Lei Estadual nº 656, de 22 de outubro de 1927, elevou a próspera vila à condição de cidade.
O desespero da população indefesa levou os senhores Sebastião Gomes de Oliveira e Cosme Luís a fazerem uma prece. Se a região ficasse livre daquela mortal epidemia eles construíram uma capela consagrada a São Sebastião. Assim, alcançada a graça, uma pequena capela foi construída. E, ao seu redor, surgiram as primeiras casas.
O aglomerado humano, aos poucos foi adquirindo delineamento urbano. Numa visível demonstração de fé, foi fincada uma cruz de madeira no local que antes funcionou como o cemitério para os coléricos. Era o marco inicial da evolução histórica da futura cidade de Parelhas, cujo povoado somente aparece nos documentos oficiais - com essa denominação - a partir de 1870.
Em novembro daquele mesmo ano de 1870, a pequena povoação tornou-se distrito de paz, subordinado ao município de Jardim do Seridó, do qual era parte integrante. A localização privilegiada estimulou seu crescimento. Ainda naquele ano, ali surgiu a primeira escola de instrução primária, fundada e regida pelo talentoso professor José Gomes, que, por seus relevantes serviços, foi agraciado pelo Imperador Dom Pedro II com a Comenda da Ordem de Cristo. A referida escola foi a primeira no interior da Província do Rio Grande do Norte a funcionar em prédio próprio, construído à custa de seu professor.
Aos poucos, a pacata povoação foi adquirindo importância econômica. Em 1888, o padre Bento Maria Pereira Barros instalou-se em Parelhas, após ser designado para ocupar o cargo de capelão local. Sacerdote culto e revestido de elevados predicados, realizou a primeira feira na localidade, e, de forma consciente, estimulou o plantio do algodão, cultura que ainda no final do século XIX, tornou-se o primeiro suporte econômico da região.
No início do século XX, Parelhas recebeu várias missões científicas, financiadas pelo governo central, através da antiga Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas – IFOCS. Todos os cientistas que por ali passaram, unanimemente, atestaram as possibilidades econômicas da próspera povoação. No entanto, apesar de seu grande potencial econômico, Parelhas permaneceu durante muito tempo reduzida à condição de simples povoação, embora ostentasse um aspecto superior a muitas cidades do interior do Estado, superando, inclusive, Jardim do Seridó, de cujo município era parte integrante.
Somente após uma grande mobilização popular, coordenada por Antão Elisário e outros filhos da terra, a florescente povoação foi elevada à categoria de vila, através da Lei Estadual nº 778, de 26 de novembro de 1920. Anos mais tarde, pela Lei nº 630, de 8 de novembro de 1926, tornou-se município autônomo, ocorrendo sua instalação no dia 1º de janeiro do ano seguinte, oportunidade em que aconteceu a posse de seu primeiro prefeito, o senhor Laurentino Bezerra Neto, que, historicamente, foi também o primeiro cidadão eleito para o referido cargo, no Rio Grande do Norte. Posteriormente, a Lei Estadual nº 656, de 22 de outubro de 1927, elevou a próspera vila à condição de cidade.
Antiga Capela de São Sebastião - Parelhas (Década de 1920)
Aspecto atual da Igreja Matriz de São Sebastião - Parelhas
A Paróquia de Parelhas, sob a invocação de São Sebastião, foi criada por decreto diocesano de 8 de dezembro de 1920, assinado por Dom Antônio dos Santos Cabral, segundo bispo de Natal. Seu primeiro titular foi o padre Natanael Ergias de Medeiros, que, na condição de vigário de Jardim do Seridó, coube-lhe a missão de instalar a nova sede paróquia, regendo-a até 1924. Atualmente, a referida paróquia integra a Diocese de Caicó.
Praça Arnaldo Bezerra - Parelhas (Década de 1950)
Inicialmente, o território parelhense pertenceu, à povoação, sede da Freguesia de Nossa Senhora do Bonsucesso do Piancó (atual cidade de Pombal, no sertão paraibano). Em 1745, criada a Freguesia Nossa Senhora Santana, do Seridó, passou a ser subordinado eclesiasticamente àquela histórica matriz, mas continuou vinculado administrativamente à povoação de Nossa Senhora do Bonsucesso do Piancó, assim mantendo-se até 1788, quando ocorreu a criação do município da Vila Nova do Príncipe (atual cidade de Caicó).
Posteriormente, em 1834, criado o município de Acari, o território parelhense passou a integrar aquela novel comuna, condição mantida até 1º de setembro de 1858, quando foi criado a vila e o município de Jardim do Seridó. Como povoado, distrito de paz e vila, Parelhas pertenceu a Jardim de Seridó até 8 de novembro de 1926, quando conquistou sua emancipação política.
Em síntese, a cidade de Parelhas nasceu de uma fazenda de gado, apoiada no elemento religioso, representado pela capela, erigida sob a invocação de São Sebastião (o santo protetor das vítimas do cólera morbus), que foi o marco inicial de sua formação histórica.
Seus primeiros habitantes, herdaram a mentalidade agrícola-pastoril de seus desbravadores. Hoje, o referido município encontra-se inserido entre os dez mais desenvolvidos no interior do Estado do Rio Grande do Norte, projetando-se como um importante pólo socioeconômico e cultural da região do Seridó, que desenvolveu mais pelo trabalho de seu povo do que pela ação direta dos organismos governamentais.
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Nasci em Parelhas em 1959,vim para o DF em 1975.a saudade é grande.
ResponderExcluirTambém nasci em Parelhas. Nasci em 1962 Moro no DF desde 1982.
ExcluirJosé Ozildo, sou parelhense e me interessa compreendermelhor o modo de ser e conviver da população parelhense. Suas informações foram válidas. Pretendo registrar alguns detalhes delas em um livro que estou escrevendo sobre as consequências evolutivas da vida no interior. Pode ser?
ResponderExcluirAté o momento não encontrei registros históricos relativos a José Arnaldo de Medeiros.
ResponderExcluirBom dia, José Ozildo dos Santos - http://blogdomendesemendes.blogspot.com
ResponderExcluirhttp://blogdomendesemendes.blogspot.com/2022/02/parelhas-rn-as-origens-de-uma-cidade.html
ResponderExcluirPor que do nome Parelhas? Se consolida por ter havido apostas em duplas de vaqueiros testando seus cavalos para quem chegaria na Villa Jardim?
ResponderExcluirParelhas é uma semente plantada no servido pela família de Félix Gomes meu bisavô. Sou filho de Inácio de Lulu ,filho de Lucio Pereira Dantas.uma cidade que marcou a nossa vida.
ResponderExcluirSempre acompanho o seu blog, José Ozildo dos Santos - http://blogdomendesemendes.blogspot.com
ResponderExcluirProcuro informações sobre uns ascendentes meus, acredito que moraram em Parelhas, quando ainda era apenas um povoado. Antônio Juvêncio da Silva e sua esposa Francisca Crispim de Almeida, tiveram um filho por nome de José Juvêncio da Silva.
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