terça-feira, 4 de outubro de 2011

ALLAN KADEC

PARA CONHECER MELHOR ALLAN KARDEC

José Ozildo dos Santos

ALLAN KARDEC nasceu a 3 de outubro de 1804, na cidade de Lyon, na França. Filho de Jean Baptiste Antoine Rivail (magistrado) e de Jeanne Louise Duhamel, foi batizado pelo padre Barthe aos 15 de junho de 1805, na igreja Saint Denis de la Croix-Rousse, recebendo o nome de Hippolyte. Seu nome completo era, pois, Hippolyte Léon Denizard Rivail.
O nome Denizard, segundo Canuto Abreu, estudioso do Espiristimo, “deriva da velha expressão latina Dionysos Ardenae, designativa de Deus Dyonisio, da floresta de Ardenas”. Com o tempo “Dionysius sofreu a evolução simplificativa Dionysio-Dionys-Denls. Ardenae, latinização de ard-nae, mata grande, simplificou-se em ard”.

Hippolyte Léon Denizard Rivail (Allan Kardec)

Conclui aquele renomado estudioso brasileiro, que “Allan Kardec foi consagrado a Denis-Ard, evocativo do Protetor Espiritual da França”.
Filho de pais católicos, Hippolyte Léon foi criado no Protestantismo. No entanto, não abraçou nenhuma dessas religiões. Preferiu situar-se na posição de livre-pensador e homem de análise, buscando, ao seu modo, entender o mundo que havia em sua volta.

FORMAÇÃO ACADÊMICA

Em sua terra natal, o jovem que anos mais tarde seria conhecido por Allan Kardec, o Codificador da doutrina espírita, fez seus primeiros estudos. Aos dez anos de idade, foi enviado por seus pais para a cidade de Iverdurn (Suíça), onde matriculou-se no célebre ‘Instituto de Educação’ ali instalado, pelo professor-filantropo João Henrique Pestalozzi, cognado de ‘pai da pedagogia moderna’, de quem tornou-se um dos mais distintos discípulos “e um dos mais zelosos propagandistas do seu sistema de educação, que tão grande influência exerceu na reforma do ensino na Alemanha e na França”.
Cedo, o jovem Hippolyte Léon Denizard Rivail demonstrou ser possuidor de uma grande inteligência. E, “atraído para o ensino por vocação e aptidões especiais, desde os quatorzes anos ensinava a seus condiscípulos mais atrasados o que ia aprendendo. Foi nesses exercícios que se lhe desenvolveram as idéias, que mais tarde deveriam elevá-lo à classe dos educadores”.
Vários membros de sua família, distinguiram-se na magistratura e no foro. No entanto, ele não abraçou a ciência de Ulpiano. Ainda muito jovem, sentiu-se atraído pelos estudos das ciências e da filosofia. Assim, orientado pelo professor Pestalozzi, solidificou sua instrução. E, por diversas vezes, substituiu o grande mestre, na ausência deste, quando o mesmo precisou afastar-se do instituto, para atender a outros compromissos, fora.
Poliglota, além de sua língua materna, falava o alemão, o inglês, o italiano, o espanhol e o holandês. Possuidor de uma inteligência ímpar, também se dedicou à cultura científica. Desta forma, são infundadas as críticas feitas por opositores da doutrina espírita de que seu codificador era um homem ignorante e sem instrução.
Alguns pesquisadores, no entanto, apresentam-o como doutor em Medicina. Dessa errônea qualificação aproveitaram-se alguns de seus adversários para denegrir-lhe a memória, acoimando-o de embusteiro. Contudo, em sua vida, Hippolyte Léon Denizard Rivail nunca se fez passar por médico: bacharelou-se em Ciências e Letras e sua profissão era a de mestre-escola. No entanto, tal equivoco, provém porque ele, através do hipnotismo e da aplicações de passes magnéticos, costumava curar os enfermos.
Concluindo seus estudos superiores, Hippolyte Léon retornou à França, onde iniciou sua vida profissional, tornando-se membro de várias sociedades culturais, dentre elas, a Academia Real de Arras, que, em concurso realizado no ano de 1831, outorgou-lhe uma notável memória sobre a seguinte questão: “Qual o sistema de estudos mais em harmonia com as necessidades de época?”.

O EDUCADOR

Homem de cárater ilibado e de saber profundo, Hippolyte Léon Denizard Rivail - o professor Rivail - era um educador por excelência, que desde “bem cedo sentiu a lição da fraternidade, exemplificada pelo seu mestre” e revelou-se um semeador.
Dedicado ao ensino, instalou em sua residência, localizada à rua de Sévres, cursos de Química, Física, Anatomia, Astronomia e outras matérias, que foram mantido de 1835 a 1840. E, “ao mesmo tempo que lecionava, prosseguia escrevendo, nas poucas horas que lhe sobravam, páginas e mais páginas relacionadas com as questões educacionais”.

Hippolyte Léon Denizard Rivail

Desprendido das coisas materiais, lecionava gratuitamente para jovens pobres, “empreendimento digno de elogios em todos os tempos, mas principalmente numa época em que bem poucas inteligências se arriscavam por esse caminho”.
Pedagogo nato, preocupado em vencer as dificuldades do processo de aprendizagem, desenvolveu um método, no qual utilizava meios mnemônicos, “de forma a não cansar o estudante e fazê-lo aprender as lições com facilidade e rapidez”. Dotado de um senso pedagógico em sua mais bela perfeição e “conhecedor profundo da psique infantil, levava a escola aos moços não esperando que estes fossem procurá-la”.
Estudioso das ciências aplicadas, o professor Rivail, “possuía grande poder de raciocínio e indisfarçável pendor por todas as causas atinentes ao bem coletivo. A sua paixão pelos métodos do ensino, em consonância com a escola de Pestalozzi [...], granjeou-lhe, logo, brilhante renome na Europa, onde se tornou conceituado como autoridade incontrastável sobre problemas educacionais”.
Cognado ‘o missionário da educação’, o professor Rivail fez de sua vida um laboratório de pesquisa. Ele acreditava que “a única coisa que a escola pode e deve fazer é desenvolver a aptidão para pensar”. E, com suas investigações cientificas e observações sérias, deixou para Humanidade uma grande contribuição no campo da Pedagogia.
Em sua rica e extensa bibliografia, como pedagogo, encontramos os seguintes títulos: ‘Plano para melhoramento da instrução pública’ (1828); ‘Curso prático e teórico de Aritmética, segundo o Método de Pestalozzi e para uso dos professores e das mães de família’ (1829); ‘Gramática Francesa Clássica’ (1831), ‘Soluções nacionais das questões e Problemas de Aritmética e Geometria (publicado pela Livraria Acadêmica de Didier), ‘Manual dos Exames para os títulos de capacidade’; ‘Soluções Racionais de Questões e Problemas de Aritmética e Geometria’ (1846); ‘Programa dos cursos usuais de Química, Física, Astronomia e Fisiologia’ (1846); ‘Catecismo gramatical da língua francesa para os iniciantes do idioma’ (1848); ‘Ditados especiais sobre as dificuldades ortográficas’; ‘Pontos para os Exames do Hotel de Ville e da Sorbone, acompanhados de Instruções Especiais sobre as dificuldades Ortográficas’ (1849) e ‘Ditados normais dos exames da Municipalidade de Sorbonne’.
Além dessas obras e de inúmeros artigos e estudos publicados em revistas e jornais de sua época, Hippolyte Léon Denizard Rivail traduziu vários livros, alguns, de fundo moral, a exemplo de ‘Telêmaco’, de Fénelon, “que verteu para o alemão, e comentou, o que lhe valeu os aplausos sinceros e calorosos de Pestalozzi”, seu antigo mestre. Em síntese, a obra pedagógica do professor Rivail não foge ao crivo do raciocínio. São volumes que instruem e elevam o pensamento humano.

O HOMEM

Em 1822, Rivail deixou Yverdon e instalou-se em Paris, onde passou a residir numa casa localizada à Rue de la Harpe, nº 117. E, no período de 1828 a 1831 morou na Rue de Vaugirard, nº 65. O exercício de sua profissião como professor proporciou sua aproximação à jovem Amélie-Gabrielle Boudet (1795-1883), com quem casou-se no dia 6 de fevereiro de 1832.
Amélie-Gabrielle (conhecida mais tarde entre os espíritas como ‘Madame Allan Kardec’), que também era professora, foi, por toda a vida, uma dedicada companheira e apoiou o marido em todos os momentos. De família tradicional, possuia uma educação esmerada e escreveu três livros: Contos Primaveris’ (1825), ‘Noções de Desenho’ (1826) e ‘O essencial em Belas Artes’ (1828).

Rivail e Amélie-Gabrielle

Pessoas dignas, de moralidade inatacável, Rivail e Amélie-Gabrielle dedicaram-se integralmente ao cultivo dos ideais superiores da cultura, da educação, do bem e “lutaram a favor das causas da liberdade de ensino e da educação para meninas”. Fizeram de sua residência uma escola para jovens de diferentes idades e classes sociais. Não tiveram filhos e levaram uma vida simples, não raro enfrentando dificuldades econômicas.


UM PERFIL DE CORPO INTEIRO

Fisicamente, Allan Kardec possui estatura média e um corpo robusto “cabeça ampla, redonda, firme, com feiçoes bem pronunciadas e olhos pardo-claros, mais parecia alemão que francês”.
Costumava caminhar a passos lentos. Ativo e tenaz, Allan Kardec possuía um temperamento calmo. Homem precavido e realista, às vezes parecia frio e céptico. E, “em algumas ocasiões apresentava fisionomia radiante, se bem que, por causa da sobriedade do seu todo, jamais o viram rir”.
Educado por natureza, era um argumentador completo e em suas idéias e ações era eminentemente prático e preciso, mostrando-se sempre distanciado do misticismo. Ponderado, falava lentamente e sem afetação, com inegável dignidade. Tal postura era resultante de sua seriedade e honestidade, traços que definiam seu caráter.
Nunca procurava discussões, nem a elas fugia. Entretanto, jamais provocou “qualquer comentário a respeito do assunto a que consagrara sua vida”. Em sua casa, “recebia amavelmente os numerosos visitantes que acorriam de todas as partes do mundo, para conversar com ele a respeito das ideias de que era o mais autorizado expoente, respondendo às consultas e às objeções, resolvendo dificuldades, e dando informações a todos os investigadores sérios, com os quais falava franca e animadamente”.

Continua....


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