domingo, 13 de maio de 2012

EDIVALDO FERNANDES MOTTA

UM LÍDER NATO

José Ozildo dos Santos

P
or quase trinta anos, o advogado e empresário Edivaldo Motta foi uma das principais lideranças do cenário político patoense. Parlamentar talentoso e atuante, projetou-se nacionalmente. E, como poucos, soube fazer da política uma arte produtora de amigos e admiradores, deixando em sua cidade uma memória que ainda hoje é cultuada, influenciando as gerações do presente.
Filho do comerciante Miguel Fernandes Motta e de dona Josefa Silva Motta, nasceu na ‘Cidade Morada do Sol’, no dia 11 de julho de 1939. Em sua terra natal, Edivaldo Motta iniciou o antigo curso ginasial, no Colégio Diocesano, à época, sob a direção do Monsenhor Manoel Vieira. Em Vitória de Santo Antão, no vizinho Estado de Pernambuco, cursou o secundário. E, posteriormente, diplomou-se em Ciências Jurídicas e Sociais, pela UFPB.
De família influente, iniciou na vida pública, elegendo-se vereador à Câmara Municipal de Patos, pela legenda da extinta UDN, nas eleições realizadas a 11 de agosto de 1963. Convocado pelo prefeito José Cavalcanti da Silva, tornou-se Secretário Geral da Prefeitura Municipal (1963-1966), destacando-se como um dos mais eficientes colaboradores daquela administração.
Com o advento do bipartidarismo, instituído pelo Ato Complementar nº 4, de 20 de novembro de 1965, Edivaldo Motta filiou-se aos quadros da Aliança Renovadora Nacional - ARENA, pela qual, elegeu-se deputado estadual para a legislatura de 1967-1971, nas eleições realizadas a 15 de novembro de 1966, surpreendendo a cidade de Patos com sua expressiva votação. Na ‘Casa de Epitácio Pessoa’, logo alcançou destaque por suas brilhantes atuações no plenário e nas comissões parlamentares, reelegendo-se para as legislaturas de 1971-1975, 1975-1979 e de 1979-1983.

Edivaldo Motta

Homem coerente e de posições firmes, “embora tenha recebido apoio de Ernani Sátiro, que o lançou na vida pública, não teve nenhum receio em romper com o seu governo, formando com os também dissidentes Valdir dos Santos Lima e Eilzo Matos, o chamado ‘grupo dos tupamaros’, numa alusão feita pela imprensa ao famoso grupo guerrilheiro que, na época tirava o sono dos governantes uruguaios”.
Em 1974, quando conseguiu seu terceiro mandado parlamentar, Edivaldo Motta obteve 8.506 votos. De 1977 a 1978, na Assembléia Legislativa, ocupou a vice-liderança de seu partido e integrou às Comissões de Finanças, Orçamento, Tomada de Contas e de Educação.
Com a reforma partidária de 1979, que extinguiu o MDB e a ARENA, filiou-se ao Partido Popular - PP, legenda que na Assembléia Legislativa paraibana, “acolheu os dissidentes arenistas que obedecia à orientação do Ministro João Agripino Filho” e da qual foi seu líder, por curto espaço de tempo.
Em 1981, com a fusão do PP ao PMDB, Edivaldo Motta, passou a integrar o bloco oposicionista liderado na Assembléia Legislativa, pelo deputado José Fernandes de Lima. E, no pleito de 15 de novembro de 1982 - que marcou a volta das eleições para governador - reelegeu-se para seu quinto mandato parlamentar, ocupando com destaque a liderança de seu partido, durante a legislatura de 1983-1987, fato que credenciou-o a representar a Paraíba, na Câmara Federal.
Assim, nas eleições de 15 de novembro de 1986, elegeu-se deputado federal, pelo PMDB, após obter 30.964 votos. Durante os trabalhos constituintes, Edivaldo Motta foi membro da Comissão de Ordem Social e pertenceu à Subcomissão dos Negros, Populações Indígenas, Pessoas Deficientes e Minorias.
Presidencialista, durante os trabalhos constituintes votou a favor dos cinco anos para o Presidente José Sarney. E, embora tenha dito ‘sim’ à participação popular no processo legislativo, votou contra o direito de voto aos 16 anos.  Classificado como político de centro-esquerda, no primeiro turno das votações plenárias, votou a favor da nacionalização do subsolo, mas esteve ausente quando da votação da proteção à empresa nacional, na Assembléia Nacional Constituinte.
No final dos trabalhos constituintes, o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP), deu-lhe nota 5,75 (cinco vírgula setenta e cinco), por seu bom desempenho, ficando a frente dos deputados paraibanos Adauto Pereira, Evaldo Gonçalves, Aluízio Campos, João da Mata, José Maranhão e Lúcia Braga, bem como dos senadores Humberto Lucena, Marcondes Gadelha e Raimundo Lira. Na bancada paraibana, apenas os deputados Cássio Cunha Lima, Antônio Mariz, João Agripino Neto, Edme Tavares e Agassiz de Almeida, tiveram um desempenho melhor do que o seu, segundo aquele órgão intersindical.
Ainda durante a Constituinte, Edivaldo Motta defendeu a criação do ‘Banco Rural Brasileiro’, promovendo uma ampla discussão na ‘Associação Comercial de Patos’ (1988), recebendo elogios da imprensa nacional e de alguns setores da política nordestina. Por sua iniciativa, foi incluído no texto constitucional o dispositivo que garante a todos os portadores de deficiência e incapazes para os atos da vida civil, a concessão do benefício social, pela Previdência Social, no valor de um salário mínimo.
Em 1990, disputou sua reeleição. No entanto, ficou na primeira suplência de seu partido. Em Patos, sua principal base eleitoral, enfrentou um forte concorrente, o ex-prefeito Rivaldo Medeiros, que, naquela campanha, teve à sua disposição a máquina administrativa municipal. Entretanto, logo no início da legislatura 1991-1995, com a convocação do deputado José (Zuca) Moreira Lustosa, para a Secretária Estadual de Saúde, no Governo Ronaldo Cunha Lima, Edivaldo Motta retornou à Câmara Federal.
Encontrava, no pleno exercício de suas funções parlamentares, quando faleceu aos 12 de julho de 1992, vítima de um enfarto fulminante, em São de José de Espinharas, onde prestigiava uma vaquejada na fazenda ‘Maria Paz’. No dia anterior, havia completado 53 anos de idade, enchendo de tristeza o sertão das Espinharas e comovendo o mundo político. Seu corpo, foi sepultado no Cemitério ‘São Miguel’, no Bairro do Belo Horizonte, em Patos, sob grande comoção popular.
Edivaldo Motta deixou viúva a senhora Francisca Gomes Araújo Mota, com quem casou-se no dia 6 de dezembro de 1958. Dessa união, nasceu uma única filha: Ilanna, advogada e funcionária do TRT. Ainda em 1992, sua viúva, atendendo a convites formulados por amigos e correligionários, candidatou-se ao cargo de vice-prefeito do município de Patos. Eleita, dois anos mais tarde, tornou-se deputada estadual. E, reeleita nos pleitos de 1998, 2002, 2002 e 2006, exerce atualmente seu cinco mandato parlamentar e integra a bancada do PMDB, na Assembleia Legislativa.
Como deputado federal, Edivaldo Motta destacou-se por sua constante assistência aos municípios, que formavam sua base de sustentação política, garantindo-lhe verbas federais e encaminhando seus pleitos junto aos órgãos do Governo Central. Em seu primeiro mandato federal, foi campeão de emendas ao Orçamento da União.
No exercício de suas funções parlamentares, sempre buscou soluções aos problemas de interesse geral de seus co-estaduanos. Em síntese, ele foi “um homem do povo, de tal sorte que se tornou queridíssimo na sua cidade natal e em todos os municípios que o apoiavam”.
Aparteando um discurso do Senador Humberto Coutinho de Lucena, que numa sessão do Senado Federal, realizada no dia 20 de agosto de 1992, homenageava esse ilustre patoense, o Senador Hugo Napoleão, assim expressou-se: “Conheci o deputado Edivaldo Motta por ocasião da minha investidura nas funções de Ministro de Estado da Educação. S. Excia. costumava frequentar o Ministério para o trato de assuntos de sua Paraíba, sempre com a característica, que saltava aos olhos, de seriedade no cumprimento de propósitos”.
Em toda a sua vida pública, Edivaldo Motta amargou apenas uma derrota. Em 1969, candidatou-se à Prefeitura Municipal de Patos, pela ARENA-1. No entanto, foi derrotado pelo médico Olavo Nóbrega (MDB), por pouco mais de quatrocentos votos. Entretanto, em 1976, conseguiu eleger seu irmão, o Dr. Edmilson Fernandes Mota, que embora tenha governado sem o apoio do Governo Estadual, realizou uma das mais promissoras administrações no município de Patos.
Fisicamente, Edvaldo Motta era franzino na estatura. No entanto, quando pisavam em seus calos, era valente e decidido.
Amante e admirador da Literatura de Cordel, deixou publicado uma coletânea de versos populares, que atesta sua vocação como repentista, podendo ser incluindo entre os melhores cantadores de nossos sertões.
Em Patos, Edivaldo Motta edificou a ‘Casa do Poeta Popular’, criou a ‘Fundação Educativa Cultural Miguel Mota’ - objetivando incentivar os valores culturais de sua terra - e o ‘Museu Fotográfico João Silva Lacerda’. Quando deputado estadual, apresentou na Assembléia Legislativa um projeto de lei, instituindo o “Dia Estadual do Cantador de Viola e do Poeta de Bancada”.
Em Ceilândia Sul (DF), aos 14 de junho de 1987, participou do ‘VII Festival Nacional de Cantadores, Repentistas e Poetas Cordelistas’, promovido pela ‘Casa do Cantador’ (Palácio da Poesia), oportunidade em que saudou os presentes, com um belo discurso em versos, afirmando:

“Eu sou do Brasil Nordeste,
Reino da terra poética;
Seria falta de ética,
Não está presente aqui;
Temos o mesmo dilema,
Somos o mesmo problema,
De seca e de emergência,
Porém a nossa poesia,
Convida a sabedoria,
Prá festa da inteligência”.

Homem inteligente e orador de reconhecido valor, partes de seus discursos foram reunidos no volume ‘A Fala do Povo’, publicado em 1989, com apresentação do Senador Humberto Lucena. Por seus méritos e por tudo que representa à cultura patoense, Edivaldo Fernandes Motta teve seu nome escolhido como patrono da cadeira nº 5, do Instituto Histórico e Geográfico de Patos.
Edvaldo Motta era um líder carismático. E, “enquanto outros deputados eleitos por Patos, na maioria das vezes se isolavam do eleitor após os pleitos, somente aparecendo na horas das disputas, Edvaldo sempre se fazia presente, convivendo com todos com o seu jeito até engraçado de proceder e com a sua maneira irreverente de tratar. Era, no entanto, firme, quando tinha de agir. Foi talvez um dos poucos, ou até mesmo o único, exceção feita apenas a Ernani Sátyro, que sabia usas as suas prerrogativas de parlamentar, não abrindo mão nunca, dos seus direitos, jamais se curvando a interesses que não fossem o de sua gente”.

2 comentários:

  1. Caríssimo professor OZILDO,

    Este é um excelente trabalho biográfico, patrimônio de nossa gente paraibana. Assim como outros trabalhos publicados aqui neste diário eletrônico, exsurge uma riqueza de detalhes e valorosa contribuição para a nossa história. A Parahyba, certamente, tem contribuído bastante neste cenário político. Parabéns.
    Anseio pela continuação dos apontamentos de João de Lyra Tavares, relativo às sesmarias parahybanas. Continue este trabalho de resgate histórico o mais breve possível.

    Att.

    Rau Ferreira
    Blog HE

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  2. Gostei dos escritos e já me instalei. Descendo de gente potiguar, tendo publicado algumas matérias sobre a saga de minha família (bisavó e filhos) que emigraram para o Ceará depois do assassinato de meu bisavô Vicente Ferreira de Paiva, a mando do último "Senhor do Cunhaú".

    Vou voltar!
    Um abraço
    Lúcia

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