70 ANOS SEM ALLYRIO WANDERLEY
José Ozildo dos Santos
Figura da maior projeção da
literatura paraibana, ALLYRIO MEIRA WANDERLEY foi considerados um dos
maiores escritores do Brasil, na década de 1940. Jornalista da melhor escol
dialogava com as letras de uma maneira magistral. Possuía um estilo único e a capacidade
de se expressar elegantemente, falando o escrevendo.
Nasceu aos 22 de outubro de 1906, na fazenda Campo Comprido, termo e comarca do município de Patos, no sertão paraibano. Foram seus pais Francisco Olídio Monteiro Wanderley e Inácia Maria Meira Wanderley. Em 1912, aos cinco anos de idade, vencida a ‘Carta de ABC’, foi matriculado no ‘Colégio Leão XIII’, fundado e dirigido na cidade de Patos, pelo talentoso padre José Viana. Naquele estabelecimento de ensino, fez seus primeiros estudos.
Em fevereiro de 1919,
transferiu-se para a capital paraibana, onde matriculou-se como interno
do ‘Colégio Diocesano Pio X’. Em agosto daquele mesmo ano, mal tinha
vencido a primeira etapa do ano letivo, adoeceu de uma infecção intestinal e
teve que retornar ao lar paterno, onde esteve preso ao leito, por quatro meses.
Com a saúde restabelecida, foi enviado para o Recife.
Naquela capital, concluiu o
secundário no ‘Colégio Salesiano’. Em junho de 1924, deixou o Recife com
destino à capital paulista tendo em mente prosseguir com os estudos e
trabalhar. Entretanto, em São Paulo, não encontrou o esperado.
Os empregos que conseguiu, foram
temporários. E, desempregado, as dificuldades foram aumentando. A lembrança
dessa fase difícil de sua vida seria transportada para um de seus romances
- ‘Bolsos Vazios’ - que, sem dúvidas, são suas próprias memórias. No
início da década de 1930, passou a trabalhar como tradutor para jornais e
editoras, de São Paulo.
Foi nesse período que traduziu
para o português, vários autores russos consagrados, a exemplo de Leon Tolstoi
(‘Khadji-Murat’ e ‘Padre Sérgio’), Dostoievski (‘O Jogador’) e Leonid
Andreief (‘Judas Iscariotes’ e ‘Os Sete Enforcados’).
Jornalista talentoso, em 1931,
passou a escrever para as páginas do jornal ‘A Razão’, publicado na
capital paulista. Seguidamente, ali, atuou no ‘Correio de São Paulo’, ‘Correio
Paulistano’, ‘O Dia’ (1933), ‘A Platéia’ e ‘A Gazeta’.
Era, pois, um jornalista de
sucesso, quando estreou no mundo das letras com o romance ‘Sol Criminoso’,
publicado em 1931. O referido livro, bastante aceito pela crítica, foi laureado
pela Academia Brasileira de Letras (1932) e marcou uma época na literatura
nacional.
Conferencista de talento, dono da
palavra limpa, ao longo de sua produtiva existência proferiu várias palestras,
abordando sempre temas polêmicos.
Espírito culto, possuidor de um
estilo imitável, escrevia sem parar. De 1932 a 1933, produziu: ‘Cães
sem Donos’ (romance), ‘Serões de uma Traça’ (volume de crítica)
e inexplicavelmente deixou inacabado o romance ‘Caminhos da Bronzeada’.
Em 1934, publicou o romance ‘Os
Brutos’. Desse último ano é também o seu segundo volume de crítica,
intitulado ‘A Seara do Próximo’, que, a exemplo do primeiro, também ficou
inédito. Por esse tempo, passou a escrever para as páginas d‘A Gazeta’,
editada em São Paulo.
Membro da Associação Paulista de
Imprensa, em meados de 1935, publicou o polêmico livro ‘As Bases do
Separatismo’, cujos exemplares numerados e rubricados pelo autor, foram
apreendidos pela polícia, na capital paulista.
Por pregar em seu livro a divisão
do Brasil em cinco regiões distintas, foi perseguido pelo Governo de Vargas.
Retornando ao seio familiar, refugiou-se na Fazenda Campo Comprido - de seu pai
- enquanto aguardava uma decisão judicial, por parte do Tribunal de Segurança
Nacional.
Absolvido por unanimidade, por
algum tempo, continuou na cidade de Patos, isolado do ‘mundo’, mas apegado
a sua pena. Em 1940, publicou seu quarto livro - ‘Bolsos Vazios’. Por
esse tempo, passou a colaborar nas páginas d‘A União’, jornal estatal
paraibano.
Em João Pessoa, no início de 1945,
dirigiu ‘O Estado da Paraíba’, matutino independente e noticioso. Ainda em
finais daquele ano, convidado, tornou-se crítico literário do jornal ‘A
Manhã’, editado no Rio de Janeiro, para onde transferiu-se.
Em julho do ano seguinte
ingressou nos ‘Diários Associados’. E, com total liberdade de expressão
passou a escrever para ‘O Jornal’, onde manteve por quase três anos uma
coluna sob o título ‘A Ronda dos Livros’.
No Rio de Janeiro, publicou seu
quinto livro - ‘Ranger de Dentes’ - romance que traz o subtítulo ‘Crônicas
de um Ocaso’ (1945). Com este livro, iniciou uma série de romances
autônomos. Assim, produziu ‘As Formigas’ e ‘Espinho Branco’, que
ficaram inéditos. O primeiro, traz como subtítulo ‘Crônicas de um Ocaso
II’.
Nos início da década de 1950,
retornou à Paraíba, fixando-se em João Pessoa, onde, logo cedo, passou a
militar na imprensa local, atuando como colunista nas páginas d‘O Norte’.
Seguidamente, colaborou no ‘Correio da Paraíba’ (1953) e no ‘Paraíba
Agrícola’ (1954), bem como no ‘Diário de Notícias’ (1953) e
na ‘Gazeta de Alagoas’ (1953), estes últimos, editados no Rio de
Janeiro e em Maceió, respectivamente.
Seu último livro - ‘Os Carneiros Cinzentos’ - foi publicado em 1954, através da Editora Teone, de João Pessoa. Lamentavelmente, não viveu o suficiente para ver o reconhecimento de sua obra literária, falecendo no dia 15 de janeiro de 1955, em sua residência, no bairro Santa Júlia, na capital paraibana.
Seu corpo, em câmara ardente, foi exposto por todo o dia no salão nobre da ‘Associação Paraibana de Imprensa’. Transladado para a cidade de Patos, foi sepultado no Cemitério São Miguel, em sua cidade natal. Homem inteligente e de imaginação fértil, é patrono da cadeira nº 37, da Academia Paraibana de Letras.