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sábado, 24 de setembro de 2011

TARCÍSIO BURITY

O POLÍTICO E O INTELECTUAL

José Ozildo dos Santos

I - UMA HISTÓRIA DE VIDA

A História da Paraíba pode ser dividida em duas etapas: antes e depois do primeiro governo de Tarcísio Burity. Homem simples, professor universitário, amante da música clássica, ele imprimiu no Estado uma nova forma de governar. E marcou uma época.
Tarcísio de Miranda Burity nasceu na capital paraibana, a 28 de novembro de 1938, sendo filho do casal Luís Gonzaga de Albuquerque Burity e Maria José de Miranda Henriques Burity. Seu pai, cirurgião-dentista, professor-fundador da Universidade da Paraíba, foi catedrático de Histologia, nas Faculdades de Odontologia e de Medicina, tendo publicado diversos trabalhos médicos na maior revista do gênero da época, editada pela Universidade de Oxford, na Inglaterra.

Tarcísio Burity

No Colégio Nossa Senhora de Lourdes, cursou a alfabetização e fez a 1ª série do curso primário. De 1946 a 1948, freqüentou o Colégio São José, onde concluiu a primeira fase de seus estudos. Ainda muito jovem, revelou-se uma inteligência privilegiada.
Em 1949, após prestar exame de admissão, matriculou-se no Colégio Marista Pio X, de onde saiu para ingressar no Seminário Arquidiocesano da Paraíba. Sem vocação para o sacerdócio, resolveu abraçar a carreira jurídica. Aos 18 anos de idade, foi aprovado em 1º lugar no concurso do vestibular, para a Faculdade de Direito da Paraíba. Acadêmico, logo revelou seu espírito público de liderança entre seus colegas de estudos. Em 1960, foi eleito presidente do Diretório Acadêmico da Faculdade de Direito, ensaiando os primeiros passos, que mais tarde, pautariam a vida do grande administrador público, que em vida foi.

II - ESTUDOS NA FRANÇA

Tarcísio Burity bacharelou-se em Ciências Jurídicas e Sociais, na turma de 1961, da qual foi seu orador. No ano seguinte, submeteu-se a um concurso para promotor público. Aprovado e nomeado, assumiu. No entanto, não exerceu suas funções. Agraciado com uma bolsa de estudo, seguiu para Franca, onde fez pós-graduação em Sociologia, na Universidade de Pottier, no período de 1963 a 1964.
Regressando ao Brasil, foi convidado para lecionar na Universidade Federal da Paraíba, onde tornou-se professor das disciplinas de Filosofia do Direito, de Introdução à Ciência do Direito e de Direito Internacional Público, na Faculdade de Direito de João Pessoa, notabilizando-se por seus conhecimentos e vocação para o magistério superior. Naquela instituição, também lecionou Historia da Educação e Sociologia da Educação.

III - O DOUTORADO NA SUÍÇA

De 1964 a 1970, Tarcísio Burity participou de inúmeras conferências, congressos e cursos, promovidos por várias instituições, dentro e fora do Brasil. Doutor em Ciências Políticas, pelo Instituto de Altos Estudos Internacionais de Genebra, Suíça (1967), impulsionado pela forca de seu talento, ganhou fama e seu nome rompeu as fronteiras da Paraíba. Na Faculdade de Direito de Recife, lecionou Direito Internacional Público, no curso de pós-graduação, a nível de mestrado.
Ainda naquela capital, a convite do sociólogo Gilberto Freire, participou do Seminário de Tropicologia, desenvolvido pela UFPE. Posteriormente, por indicação do jurista e professor Miguel Reale, tornou-se presidente do Instituto Brasileiro de Filosofia do Direito, Secção da Paraíba.

IV - O PROFESSOR UNIVERSITÁRIO

De 1968 a 1971, Tarcísio Burity foi chefe de Gabinete da Reitoria da UFPB, acumulando as referidas funções com o cargo de professor da Faculdade de Direito e com a coordenação do Curso de Pós-graduação. Professor emérito da UFPB, passou a integrar o Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão, daquela instituição. E, encontrava-se no exercício destas funções, quando, em 1975, foi convidado pelo Governador Ivan Bichara Sobreira para ocupar a Secretaria de Educação e Cultura, por sugestão do ex-Ministro José Américo de Almeida.

V - DE SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO A GOVERNADOR DO ESTADO

Ainda por indicação daquele eminente paraibano, Tarcísio Burity teve seu nome aprovado pelo Presidente Ernesto Geisel para ocupar o governo da Paraíba, em substituição ao Dr. Ivan Bichara, de quem recebeu reconhecido apoio. Eleito, assumiu a 15 de marco de 1979.
O governador Tarcísio Burity ao lado do presidente
João Batista de Figueiredo

Logo no inicio de seu governo, promoveu em João Pessoa, o Seminário de Cultura Brasileira e criou a Orquestra Sinfônica da Paraíba, que em pouco tempo, tornou-se conhecida em todo o Brasil, projetando o nome da pequena Paraíba, no exterior. Ainda em 1979, instalou o Festival de Arte, na cidade de Areia, que foi por ele idealizado quando Secretário de Educação e Cultura, no Governo Ivan Bichara.

VI - REALIZAÇÕES DE UM GRANDE GOVERNO

Em 1980, Tarcísio Burity criou a ‘Fundação José Américo’, instituição cultural - destinada a resgatar a cultura paraibana - e autorizou o inicio da construção do Espaço Cultural José Lins do Rego (FUNESC), na capital do Estado. A 14 de maio de 1982, desincompatibilizou-se do Governo da Paraíba, para disputar uma vaga na Câmara dos Deputados, pelo Partido Democrático Social, oportunidade em que passou o cargo ao Dr. Clovis Bezerra, que na condição de Vice-Governador, concluiu o quatriênio de 1979 a 1983.

Ato de criação da Fundação Espaço Cultural

Prestigiadíssimo e gozando de grande aceitação popular, elegeu-se deputado federal com mais de 179 mil votos, sendo, até o presente, o político paraibano mais votado para o Parlamento Nacional. Era o reconhecimento de seu trabalho e de sua dedicação, à frente do governo estadual.

Tarcísio Burity, Wilson Braga eAssis Camelo, em Esperança (1982)

Na capital federal, durante o tempo em que exerceu seu mandato parlamentar (1983-1986), lecionou na Universidade Nacional de Brasília, algo que também fazia quando era Secretário de Educação e Governador do Estado.

VII - DE VOLTA AO GOVERNO ‘PORQUE O POVO QUIS’

Em 1986, Tarcísio Burity retornou ao governo da Paraíba, ‘nos braços do povo’, derrotando o ex-senador Marcondes Gadelha, por uma maioria superior a 300 mil votos. Durante sua campanha, considerada uma das mais belas da historia política da Paraíba, utilizou o slogan: Burity, Porque o povo quer.

Tarcísio Burity - campanha eleitoral de 1986

Poucos dias antes da posse, foi surpreendido com a notícia do falecimento do Dr. Raymundo Asfora, seu Vice-Governador, encontrado morto em circunstância um tanto misteriosa, na sua Granja Uirapuru, em Campina Grande.
Somando-se ao sentimento de pesar do povo campinense, Tarcísio Burity compareceu aos funerais de seu amigo e companheiro de campanha pela conquista do Palácio da Redenção, proferindo, de improviso, à beira do túmulo daquele grande tribuno, uma belíssima oração fúnebre.

Tarcisio de Miranda Burity em visita a Cajazeiras
e aos estúdios da Norte Publicidades Radiofônicas, em 18 de abril de 1987

Seu segundo governo, não foi operoso como o primeiro. A situação econômica vivida pelo país refletiu fortemente em sua administração. Logo no iniciou do Governo Fernando Collor de Mello, ocorreu o fechamento do PARAIBAN, que grandes prejuízos trouxe ao Estado. Mesmo assim, Tarcísio Burity tudo fez para superar as dificuldades financeiras herdadas do governo anterior e governou a Paraíba até o final de seu mandato.

VIII - O INTELECTUAL

Sócio Benemérito do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, membro da Academia Paraibana de Letras e da Academia Brasileira de Historia (na qualidade de Conselheiro), o Dr. Tarcísio de Miranda Burity também era Sócio Honorário do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, onde foi saudado pelo escritor e historiador Joacil de Brito Pereira, em solenidade realizada no auditório da Casa da Memória Potiguar, na noite de 16 de setembro de 1988.

Tarcísio de Miranda Burity e a Orquestra Sinfônica da Paraíba

Poliglota, falava fluentemente francês, inglês, espanhol e italiano. Era Governador da Paraíba, quando saudou um embaixador da França em visita ao Estado, sendo bastante elogiado pelo referido visitante. Em seu lazer, lia autores anglo-saxônicos no original e traduzia com relativa facilidade os clássicos alemães.
Quando governador da Paraíba, sediou em João Pessoa, o 1º e 2º Congressos Brasileiros de Filosofia do Direito, realizados de 28 de setembro a 3 de outubro de 1980 e de 17 a 23 de julho de 1988, respectivamente, fazendo da antiga Cidade de Nossa Senhora das Neves, o centro provisório do ideal e da justiça.

IX - UM NOME INTERNACIONAL

A convite do governo francês, Tarcísio Burity visitou várias instituições de ensino superior naquele país. Nos Estados Unidos, participou de um treinamento para professores e administradores de universidades, promovido pelo Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras e pela Universidade de Houston (Texas), tendo ainda visitado as instituições administrativas do governo berlinense, a convite do ‘Senat Fuer Inners de Berlin Ocidental’.
Normativista, seguidor de Kelsen, vivia “em permanente contato com juristas e filósofos do Direito, nacionais e estrangeiros” e privava da amizade de Pinto Ferreira, Lourival Vilanova, Miguel Reale, Leitão de Abreu e Machado Paupério, “entre tantos luminares do pensamento jurídico-filosófico”.
Tarcísio Burity é autor de vários ensaios, merecendo destaque para os seguinte: ‘A Nova Conceituação do Direito’ (1961), ‘Reflexões sobre o Direito Internacional Costumeiro’ (1967), ‘Aspectos de Epistemologia Jurídica’ (1969), ‘Direito e Fato na Ordem Jurídica Internacional’ (in: Revista dos Tribunais, nº 440, 1972), ‘Mar Territorial Brasileiro de 200 Milhas’ (In: Revista Jurídica do Ministério da Indústria e Comércio, 1972), ‘A Teoria Tridimensional do Direito de Miguel Reale’ (In: Revista Brasileira de Filosofia, 1º Trimestre de 1972) e ‘A Concepção Kelseniana do Direito Internacional Costumeiro’ (1974).
Amante da música erudita, como figura humana, Tarcísio Burity era um tanto enigmático. Às vezes, mostrava-se impenetrável e interiorizado, parecendo um homem fechado e distante. Polido no trato, quando comparecia a uma roda de amigos, monopolizava a conversa, com seu jeito pessoal, fazendo de todos, seus ouvintes e admiradores. Católico praticante, seguia à risca o conselho de São Paulo: ‘Fazei tudo com decência e ordem’.

X - O MAIS INTELECTUAL DOS POLÍTICOS PARAIBANOS

Tarcísio Burity foi, inegavelmente, o mais intelectual de todos os políticos paraibanos. A trajetória de sua vida foi brilhante. Sua passagem pelo governo da Paraíba veio confirmar o conceito de que já gozava entre seus co-estaduanos. Por duas vezes, tentou eleger-se senador, sendo derrotado nos pleitos de 1998 e 2002. Contudo, não perdeu seu espírito de homem público.
Em vida, Tarcísio Burity foi um intelectual e homem espirituoso, cujo valor indiscutível como administrador público, jamais foi negado até mesmo por seus adversários políticos. Casado, com a professora Glauce Maria Navarro Burity, de importante família paraibana, dessa união nasceram quatro filhos: Tarcísio Filho, Maurício, Leonardo e André Luís Navarro Burity.

XI - O FINAL DE UMA GRANDE VIDA

Em março de 2003, Tarcísio Burity foi submetido a cirurgia no Instituto do Coração, em São Paulo. Retornando à Paraíba, enfrentou uma verdadeira via crucis. Na manhã do sábado, dia 5 de julho daquele mesmo ano, agravando-se seu estado de saúde, foi transferindo às pressas para a capital paulista. Submetido a uma nova cirurgia, faleceu às 9:45 h da manhã da terça-feira, dia 8 seguinte, apesar de todos os cuidados médicos recebidos.
A bordo de um avião Hércules, da Forca Aérea Brasileira, seu corpo chegou à capital paraibana, às 2:40h da quarta-feira, dia 9 de julho de 2003, sendo recebido por um grande numero de populares no Aeroporto Castro Pinto, cujo ato foi marcado por aplausos e lágrimas.
Ainda na madruga daquele dia, o corpo do ex-governador Tarcísio de Miranda Burity chegou à Igreja de Nossa Senhora do Carmo para ser velado. Cumpria-se, assim, mais um de seus desejos, cujo pedido, em vida, formulou à própria família. Quase 20 mil pessoas, segundo cálculo da Policia Militar, compareceram à Igreja do Carmo, no centro histórico de João Pessoa, para render as ultimas homenagens ao ex-governador.
Coberto pelas bandeiras do Brasil e da Paraíba, o referido caixão foi conduzido num carro do Corpo de Bombeiros, até o Cemitério do Senhor da Boa Sentença, onde foi sepultado no final daquela tarde. Ao longo do trajeto, milhares de populares, nas calcadas e janelas dos edifícios e prédios comerciais, acenavam com lenços brancos.
Por um momento, até parecia que chovia pétalas de rosas sobre o cortejo. Assim foram as últimas homenagens prestadas ao homem, ao político, ao intelectual, que honrou e enalteceu a pequena Paraíba e que em vida chamou-se Tarcísio de Miranda Burity.


Publicando no jornal ‘A Voz do Povo’, Patos-PB, Ano VIII, nº 97, edição de junho de 2005.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

LITERATURA ALAGOANA

POETAS DAS ALAGOAS

José Ozildo dos Santos


ABREU, Sebastião Rodrigues de. (Maceió-AL, 1883 – ?, 1909). Poeta, autodidata, militou ativamente na imprensa alagoana, redigiu O Madrigal’ (1899) e colaborou na A Miragem’ (1900), ambos de Maceió. Seus versos, compostos entre 1906 e 1909, foram reunidos por Rosália Sandoval e publicados sob o título Angelus: Versos’, Rio de Janeiro, 1951.

ACIÓLI, Creusa de Souza. (Maceió-AL, 1920). Pintora, professora, tradutora, fundadora da primeira escola particular de Inglês em Maceió, integrante do Grupo Literário Alagoano e membro da Academia de Letras e Artes do Nordeste Brasileiro, com sede no Recife, publicou: ‘Temporão’ (poesia e prosa), Maceió, (1995).

ACIÓLI, Inácio de Barros Vasconcelos. (Maceió-AL, 1848 – Recife-PE, 1878). Poeta, dramaturgo e jornalista, “vítima do mal que lhe ancilosou os dedos da mão, se socorria, por vezes, de alguém para escrever-lhe os versos que improvisava. Este mal impediu-o de concluir os estudos preparatórios em Maceió e Recife, para onde tinha ido como protegido de um tio”. Posteriormente, teve paralisia da perna direita e outros sofrimentos que o incapacitou completamente. Retornou à sua terra natal, sob a proteção do presidente da província, que o nomeou para ocupar um cargo na Santa Casa de Misericórdia. Sócio do IAGA e patrono da cadeira 30 da Academia Alagoana de Letras, publicou: Ilusões Perdidas’ (poesia - trovas lamentosas, 1868); A Harpa do Desespero’ (poesia); ‘Glórias e Desventuras ou O Rimador Alagoano’ (cena dramática) e ‘Esperanças Mortas’ (poesia).

ACIÓLI JÚNIOR, Rosalvo. (Maceió-AL, 1955). Poeta, publicou: Maceió’ (poemas, 1987) e Sonhos Imaginários’ (poemas, 1984).

AGUIAR, José da Costa. Poeta, diplomado pela Faculdade de Direito do Recife, na turma de 1928. Em Alagoas, participou da Academia dos Dez Unidos. Publicou: ‘Princesa Vasthi’.

ALBUQUERQUE, Cassiano Rodrigues de. (Porto Calvo-AL, 1888 – Maceió-AL, 1922). Poeta e jornalista, membro fundador da Academia Alagoana de Letras e primeiro ocupante da cadeira nº 20. Embora tenha colaborado em vários jornais da província, publicando poesias e crônicas, não deixou nenhuma obra publicada.

ALBUQUERQUE, Júlio Ferreira de. (Maceió-AL, 1878 – Maceió, 1963). Ordenado sacerdote em novembro de 1907, foi pároco em Pão de Açúcar e Traipu. Coadjutor da Catedral de Maceió, foi professor de Francês no seminário. Sócio fundador da Academia Alagoana de Letras, foi o primeiro ocupante da cadeira 7. Membro da Academia Sergipana de Letras, sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas e membro da Academia Recifense de Letras, do Cenáculo Pernambucano de Letras e do Centro Cultural Mineiro e da Comissão Alagoana de Folclore, colaborou ativamente na imprensa de seu estado. Publicou: ‘Alma das Catedrais’ (Paris, 1926); À Hora do Angelus’ (Maceió, 1949); Discursos Acadêmicos’, ‘Retalhos d’Alma’ (poesia) e Canto do Cisne’ (poesia), entre outros.

ALBUQUERQUE, Lauro Marques de. (Pão de Açúcar-AL, 1905 - ?) Poeta, usava os pseudônimos Décio Nestal, Nestal e João Vila Baixa, participou da coletânea Pão de Açúcar: Cem Anos de Poesia’.
ALBUQUERQUE, Luís Silva. (Traipu-AL, 1916 - ?). Poeta e magistrado. Membro da Academia de Letras José de Alencar, do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, pertenceu também ao Instituto Histórico e Geográfico do Paraná e à Central de Letras do Paraná. Publicou: Estrelas Cadentes’ (poesia, 1937); Pedaços de um Coração (poesias, 1939) e ‘Seis Destinos Embalados pelo Amor’ (romance, 1948), entre outros.

ALBUQUERQUE, Mateus de. (Porto Calvo-AL, 1880 – Petrópolis, RJ, 1967). Diplomata, cônsul do Brasil em Cádiz, Espanha, conselheiro comercial na Embaixada do Brasil em Madri. Deixou extensão bibliografia em prosa e verso. Publicou:Visionário’ (poesia, 1908), ‘Crônicas Contemporâneas’ (crônicas, 1913), A Juventude de Anselmo Torres’ (romance, 1923), entre outros. Várias de suas produções poéticas foram traduzidas para o francês pelo poeta Henri Allorge.

ALBUQUERQUE, Ovídio Edgar de. (Viçosa-AL, 1891 – Viçosa, 1955). Poeta e educador. Freqüentou o Seminário de Olinda, de onde saiu para abraçar o magistério. Embora não tenha publicado nenhum livro, deixou esparsas várias produções poéticas, publicadas, principalmente, nas páginas do periódico Albor e Instrução’ e na Coletânea de Poetas Viçosenses’.

ALBUQUERQUE, Severino João Medeiros. (Maceió-AL, 1952). Poeta e professor de Literatura, ganhador do Prêmio de melhor apresentador no Festival de Poesia Falada do Nordeste. Publicou: Exercício: Exercícios’ (1975) e participou da coletânea ‘Poetas Alagoanos’.

ALENCAR, Walfrido. (Marechal Deodoro-AL, ?). Pintor, escritor e poeta. Participou de movimentos culturais em Recife e São Paulo. Durante a VI Bienal de São Paulo, teve o seu Soneto Para o Pintor Esquizofrênico’ incluído no Salão de Pintura Abstrata. Publicou: Pássaro de Vidro: Sonetos’ e ‘Poemas Selecionados’ (1996).

ALEXANDRE, Ronaldo Peixoto. (Murici-AL, 1952) Poeta e servidor público, ocupou cargos no IBAMA e na Agência Nacional de Águas. Em parceria com Salomão Sousa e Will Prado, publicou Esbarros 2: Poesia e Conto’.

ALGARRÃO, Antônio Griziano da Rocha. (Alagoas, ?). Publicou: ‘Miscelânea’ (poesias, 1868), ‘Cantos Patrióticos’ (1870), ‘Recordações e Saudades: Poesias Sentimentais’ (1872).

ALMEIDA, Adelino Nunes de. (Pilar-AL, 1874 - ? 1905). Poeta, engenheiro. Freqüentou o Seminário de Olinda-PE. Sem vocação, deixou os estudos eclesiásticos e transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde diplomou-se me Engenharia. Poeta nato, “entre cálculos e tábuas de logaritmos deixava escapar sonetos”. Entregou-se ao alcoolismo. Doente, retornou à sua terra natal. Mergulhando no mundo da demência, viveu os últimos anos de sua vida. Após a sua morte, o professor João Frederico e o Dr. Tomás de Gusmão, seus conterrâneos, incumbiram o poeta Augusto de Andrade de recolher a sua produção poética, publicada em em jornais de Pilar e Maceió, cujo trabalho resultou na coletânea ‘Versos’, publicado em Salvador (1908).

ALMEIDA, Antônio dito Baixa Funda (Viçosa-AL, 1956) Artista, xilógrafo, pintor e músico, participa de emboladas, como repentista popular. Sua produção artística aparece na obra ‘Xilogravuras Populares Alagoanas’, editada pelo Museu Théo Brandão. Seu ‘Soneto de um Enfermo Internado no Hospital Nossa Senhora da Conceição’, foi inserido na ‘Coletânea de Poetas Viçosenses’, organizada por João Leite Neto.

ALMEIDA, Claúdia Virginia M. Radicada nas Alagoas, seu poema ‘Flores’ foi inserido na ‘Coletânea Alagoana Contos e Poesias’, editada pela Fundação Cultural Cidade de Maceió, em 1998.

ALMEIDA, Georgete Castro de (Viçosa-AL, ?). Diplomada em Línguas Neolatinas pela Faculdade de Ciências e Letras da UFAL, é professora Adjunta de Literatura Portuguesa, na mesma instituição de ensino. Entre suas obras destaca-se ‘Poemas Esparsos’. Seu ‘Poema nº 7’ foi inserido na ‘Coletânea de Poetas Viçosenses’, organizada por João Leite Neto.

domingo, 11 de setembro de 2011

ACARI - RN

A FREGUESIA DE NOSSA SENHORA DA GUIA,
DO ACARI E SEU PRIMEIRO VIGÁRIO

José Ozildo dos Santos

E
m idos de 1725, o sargento-mor Manoel Esteves de Andrade, oriundo da capital paraibana, fixou-se no Acari, após adquirir o sítio ‘Saco dos Pereiros’, por compra feita ao seu parente Nicolau Mendes da Cruz. Sentindo-se só, aquele desbravador (que era solteiro), freqüentemente chamava sua mãe para residir com ele no Seridó. Esta, muito católica, explicava ao filho que somente se deslocaria para aquele sertão inculto, quando existisse nas proximidades de sua fazenda uma capela, onde pudesse professar sua fé cristã.
Assim, em 1736, visando atender ao pedido de sua genitora, Manoel Esteves endereçou uma petição a dom José Fialho, Bispo de Olinda, a cuja diocese era subordinado o território norte-riograndense, solicitando autorização para erigir uma capela, no lugar chamado ‘Acari’, recebendo, no final, a devida:

“Ilustríssimo senhor. Dis o Sargento Mor Manuel Esteves de Andrade morador no districto do curato de Piancó que elle pretende erigir hua capella com a invocação de N. S. da Guia, no lugar xamado Acari districto do dito curato, para o fim de sua alma e dos mais moradores circunvizinhos, por ficarem distantes de sua Matriz oito dias de viagem, para cujo fim tem junto muita pedra, lhe fez a escritura do patrimonio que apresenta em meia legoa de terra que rende todos os annos de arrendamento deis mil reis, os quais aplica p.ª os paramentos, reparação, fabrica da dita capella por tanto pide a vossa Illustrissima lhe faça mercê atendendo ao muito serviço de Deos que se seguirá com a erecção desta capella conceder-lhe licença para apuder erigir, estando de todo acabada, e ornada com os paramentos necessários o seu Reverendo Parocho a possa benzer e nella celebrarem-se os divinos officios e já os moradores daquelle lugar alcansarão licença que apresentão para apuderem erigir por ter sido vossa Illustrissima informado do Reverendo Parocho ser util, em numerario, e receberá mercê. Para provisão para se erigir a capella na forma do estilo. Olinda, onse de Novembro de mil sete centos e trinta e sete estava a firma do Illustrissmo Senhor Bispo. Dom José Fialho por mercê de Deos, e da Sancta e Apostolica Bispo de Pernambuco, e do Concelho de sua Mag.e aq.m Deos goarde e d.a pela presente concedemos licença ao Sargento Mor Manoel Esteves de Andrade, para que possa erigir a capela de N. S. da Guia no lugar xamado Acari do curato de Piancó erecta na forma da nossa constituição dada em Olinda sob nosso signal, e sello aos dose dias do mês de Novembro de mil sete centos e trinta e sete, eu Miguel Alvares Lima escrivão da Câmara Episcopal o escrevi estava a firma do Illustrissimo Senhor bispo sello valla sem sello ex causa seis mil tresentos e vinte. Monteiro Registrada a folhas cento e setenta e nove do Livro trese do Registro Olinda dose de Novembro de mil sete centos e trinta e sete, etc, etc”.

Após receber a autorização, o fundador de Acari retornou ao Seridó e logo tratou de iniciar a construção da capela de Nossa Senhora da Guia, que tornou-se o marco da evolução histórica desta cidade.
Concluindo a capela, Manoel Esteves voltou à presença daquele prelado pernambucano, apresentando-lhe essa segunda petição:

“Diz o Sargento Mor Manoel Esteves de Andrade morador do certão do Acari Freguesia do Piancó donde elle Sup.e tem erecto hua capella invocação N. S. da Guia com provisão de vossa Illustrissima, para effeito de se benser por esta acabada, e ter os paramentos necessários. Só lhe falta provisão pide a vossa Illustrissima seja servido mandar provisão para se benser a dita capella estando na forma da constituição pelo seu Reverendo Parocho, ou sacerdote de sua licença pelos longes do dito lugar e se puder diser nella missa, e os mais divinos officios, e receberá mercê”.

No dia 14 de abril de 1738, dom José Tomás deu o seguinte despacho:  Passe provisão para se benser a capela na forma que se pede tendo ela os requisitos necessarios”. O documento final recebido pelo sargento-mor Manoel Esteves de Andrade tinha o seguinte teor:

“Concedemos licença ao sargento mor Manuel Esteves de Andrade, para que possa erigir a Capela de Nossa Senhora da Guia no lugar chamado Acari do Curato de Piancó, ercta na forma da nossa Constituição”.

No entanto, a ação pioneira do sargento-mor Manoel Esteves de Andrade não parou por aí. Retornando ao Acari, tratou de construir uma casa, ao lado esquerdo da capela, destinada à residência dos futuros párocos e sacristães. Esta casa, considerada a primeira do Acari, resistiu até 1908, quando foi demolida para dá lugar ao moderno Grupo Escolar Tomás de Araújo, onde, anos mais tarde, passou a funcionar a Prefeitura Municipal.

Igrejinha do Rosário, tombada pelo IPHAN

Lamentavelmente, o século XVIII é uma página obscura na história da cidade de Acari. Nada, exceto as sesmarias concedidas na região, até o presente foi divulgado e esta falta de documentos, nos impossibilita de relacionar os sacerdotes que foram capelães nessa localidade seridoense, durante os noventa e sete anos em que a Igreja de Nossa Senhora da Guia, permaneceu reduzida à condição de capela.
Nessa condição, ela integrou a freguesia de Nossa Senhora do Bom Sucesso do Piancó - sediada na atual cidade de Pombal, no alto sertão paraibano - até a criação da freguesia de Nossa Senhora Santana do Seridó, em Caicó, ocorrida a 15 de abril de 1748, em cumprimento as disposições contidas na provisão de 20 de fevereiro do ano anterior, expedida por dom frei Luís de Santa Teresa, à época, bispo de Olinda.
Entre os sacerdotes que passaram pela povoação de Acari, o mais antigo que se tem conhecimento é o padre José da Costa Soares, que a 15 de novembro de 1762 obteve por sesmaria uma data de terra, entre o rio Seridó e o Poço (sítio) da Raposa, na ribeira do Quipauá, no atual município de Santana do Seridó e que em 1776, exercia seu sacerdócio como capelão na próspera povoação, sede da futura freguesia de Nossa Senhora da Guia.
Lentamente, a pacata povoação do Acari foi ganhando importância e delineamento urbano. Em meados de 1832, para ali retornou o padre Tomás Pereira de Araújo, ordenado na capital baiana, aos 17 de março daquele ano.

Padre Tomás Pereira de Araújo

Nascido a 15 de janeiro de 1809, o padre Tomás Pereira foi o primeiro acariense a ser distinguido com o título de sacerdote. Filho do casal Antônio Pereira de Araújo e Maria José Medeiros, pelo lado paterno, era neto de José Damasceno Pereira e Maria dos Santos Medeiros, e, materno, de Tomás de Araújo Pereira (primeiro presidente da província do Rio Grande do Norte) e de Teresa de Jesus.
Seus estudos eclesiásticos foram realizados no Seminário de Nossa Senhora da Graça, sediado em Olinda, província de Pernambuco, onde matriculou-se em 1826. No entanto, como dom João da Purificação Marques Perdigão - bispo de Olinda - encontrava-se ausente de sua diocese, o jovem sacerdote teve que dirigir-se para a cidade de Salvador, onde recebeu a sagrada ordem do presbiterato das mãos do arcebispo dom Romualdo Antônio de Seixas, tendo como companheiro de ordenação, o padre Joaquim Félix de Medeiros, também natural do Seridó potiguar.
Ao retornar ao Acari, aquele sacerdote foi recebido festivamente e após celebrar sua primeira missa na capela de Nossa Senhora da Guia, tornou-se seu capelão, em substituição ao padre Manoel Cassiano Pereira da Costa.
Prestigiado em seu meio, o padre Tomás Pereira ingressou na política e a 10 de novembro de 1834, elegeu-se deputado à primeira legislatura da Assembléia Legislativa Provincial (1835-1837). No exercício de seu primeiro mandato parlamentar, integrou a Comissão de Negócios Eclesiásticos. Por sua iniciativa e empenho, foi criada a Freguesia de Acari, através da Lei Provincial nº 15, de 13 de março de 1835, sob a invocação de Nossa Senhora da Guia, sendo esta a sua primeira conquista como deputado provincial e legítimo representante dos interesses de seus conterrâneos.
No dia 17 daquele mês e ano, por provisão assinada pelo padre Francisco de Brito Guerra - visitador provinciano - foi nomeado vigário encarregado da Freguesia de Acari, cabendo-lhe a missão de instalar aquela nova sede paroquial, a 16 de abril seguinte.
Antes, porém, em janeiro daquele ano de 1835, o padre Tomás Pereira havia sido designado vigário encarregado da freguesia de Nossa Senhora das Mercês, sediada na povoação de Serra de Cuité, província da Paraíba, funções que desempenhou por um ano e que a partir do mês de março, passou a acumular com a regência da Freguesia de Nossa Senhora da Guia, de Acari.
Ainda por sua ação parlamentar, conseguiu a aprovação do projeto, que convertido em Lei, sob o nº 16, de 18 de março de 1835, aprovou a criação da Vila do Acari, instituída dois anos antes, pelo Conselho da Província.

Primitiva Igreja Matriz de Nossa Sra. da Guia,
hoje Igreja do Rosário

Em 1836, o padre Tomás Pereira de Araújo candidatou-se ao cargo de vigário colado da freguesia sob sua regência. Para a instrução do processo de habilitação, sobre sua conduta e modos de vida, atestaram os vereadores da Câmara Municipal do Acari. Em ato contínuo, “o bispo autorizou-o a opor-se por despacho de 26 de janeiro de 1836, propondo-o em primeiro lugar para o Acari, em ofício ao presidente da Província, datado de 13 de julho. O presidente indicou-o em 30 de agosto de 1836. Ainda neste 1836 foi nomeado”.
Como já ocupava a referida freguesia, o padre Tomaz continuou n exercício de suas funções e oficialmente somente foi investido no cargo de vigário colado da freguesia de Nossa Senhora da Guia, aos 18 de maio de 1839, por procuração, oportunidade em que lavrado o seguinte termo:

“Aos 18 de maio de 1839, processa-se a cerimônia de colação na Matriz do Corpo Santo, do Recife, onde o delegado do Bispo, D. Marques Perdigão, fez a imposição do barrete ao diácono Francisco Jorge de Souza, procurador do Pe. Thomaz de Araújo, que, pelo mesmo fez a profissão de fé e juramento... Finalmente mandamos passar a presente em virtude da qual havemos ao dito Padre Thomaz Pereira de Araújo por ‘collado; e confirmado na villa do Acary, deste nosso Bispado na forma do direito e de nossa Constituição, e lhe damos jurisdição ordinária para poder administrar todos os sacramentos aos seus fregueses, aos quais mandamos sob pena imposta pelo Direito o receber como seu verdadeiro parocho”.

Político influente, filiado à hostes do Partido Liberal, o padre Tomás de Araújo retornou à Assembléia Provincial reeleito para as legislaturas de 1838-1839, 1840-1841, 1848-1849 e 1860-1861. Naquela Casa Legislativa, durante as sessões de 1849, foi substituído pelo suplente padre Luís da Fonseca e Silva.
Em agosto de 1864, recebeu em sua paróquia a visita do padre mestre Dr. José Antônio Maria Ibiapina - o apóstolo do Nordeste - que, em peregrinação, ali esteve realizando suas santas missões, fundando uma Casa de Caridade, que teve vida efêmera.

Igreja Matriz de Nossa Senhora da Guia

Sacerdote dedicado, auxiliado por seus paroquianos, no período de 1859 a 1865, construiu a atual Igreja Matriz de Acari, que, à época, custou a importância de cem contos de réis, e, por suas proporções e tamanho, ainda hoje é a segunda maior do interior do Estado.
Na época, a imagem de Nossa Senhora da Guia, encontrava-se guardada na Igreja do Rosário. Sua translação para a nova Matriz, procedeu-se no dia 5 de agosto de 1867, oportunidade em que realizou-se uma magnífica festa, que “prolongou-se até o dia 16 daquele mês, com a presença, calculadamente, de oito mil pessoas, foi mister a construção de ruas de ranchos de palhas pela cidade”, para acomodar os visitante, fato, que durante muito tempo, foi lembrado pelo povo acariense.
À essa grande cerimônia compareceram 19 sacerdotes que não mediram as fadigas de uma jornada tão áspera até o sertão comburido pela inclemência do sol, vencendo óbices, a fim de reverenciarem a Virgem com as solenes cerimônias litúrgicas da benção de uma nova Matriz construída pelo esforço dos paroquianos e devotos das circunvizinhanças, graças à feliz iniciativa do vigário daquela centenária paróquia”.    
Homem culto, o padre Tomás era versado na língua latina e tido como excelente orador sacro. Inicialmente, regeu a Freguesia de Acari de 16 de abril de 16 de abril de 1835 a 4 de junho de 1870, quando foi substituído pelo padre Luís Marinho de Freitas.
De 1870 a 1873, esteve novamente como vigário encarregado da freguesia de Nossa Senhora das Mercês, sediada na vila de Serra do Cuité, no Curimataú paraibano, que à época, limitava-se com a antiga freguesia de Acari. No entanto, a 3 de agosto de 1873, reassumindo sua antiga paróquia, permaneceu como vigário colado de Acari até 2 de maio de 1893, quando doente, afastou-se de suas funções, falecendo no dia 13 de dezembro daquele ano. Em seus últimos momentos foi assistido pelo padre José Antônio da Silva Pinto, que oficiou suas exéquias.
Fugindo dos princípios da Igreja Católica, o padre Tomás Pereira deixou descendência no Seridó. E, espelhado, talvez, no exemplo do padre Francisco de Brito Guerra, em vida, no dia 7 de janeiro de 1869, compareceu perante um tabelião público na vila de Acari e assinando uma escritura de perfilhação, alegando fragilidade humana, reconheceu como seus, os seguintes filhos: Gercina Maria de Jesus, Teodora Maria de Jesus (filhas de Maria Custódia do Amor Divino); Maria Senhoria da Conceição (filha de Joaquina Senhorinha da Conceição); Manoel de Santana, Maria Inácia da Guia e Ana Maria da Guia (filhos de Antônia Maria da Conceição), “frutos de uniões clandestinas, proibidas pela Igreja”, que tornaram-se seus herdeiros e sucessores.
Por esta atitude, foi bastante censurado, dentro e fora da Igreja, fato que obrigou-o afastar-se de sua freguesia, passando a reger interinamente a Matriz de Nossa Senhora das Mercês, da vila de Serra do Cuité. Após promover o reconhecimentos de seus filhos o padre Tomás Pereira de Araújo “ainda viveu 24 anos e, certamente, transpassou-se com a consciência tranqüila por ter confessando publicamente o pecado cometido e, como cidadão, praticado um ato de justiça”.
Conta-se, que na juventude, o padre Tomás fora “um rapaz um pouco endiabrado e incorreu, muitas vezes nas iras do avô que depois de uma dúzia de bolos, trancava-o na cafua, tortura maior que a da palmatória. Quando em 1833 (?) o padre Tomás tirou, em concurso, a freguesia do Acari, o velho Tomás de Araújo, já cego, começou a exigir que o ouvisse de confissão. O padre, relutava, alegando o respeito filial, mas o velho replicava: O senhor como vigário da freguesia, não é meu neto é o meu pastor que tem a obrigação de atender a todos os penitentes que o procurarem. Não houve de evitar a confissão e o padre, lembrado talvez do castigo um tanto desumano, deu ao postulante a penitência de passar meia hora trancado na cafua. Tomás de Araújo cumpriu a pena e, ao sair da cafua, mandou chamar um pedreiro e demoliu-a”.

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