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quinta-feira, 27 de outubro de 2011

ANTÔNIO BENTO DE ARAÚJO LIMA

José Ozildo dos Santos     

J

ornalista, crítico de arte, poeta, cronista musical e contista, Antônio Bento de Araújo Lima foi uma das maiores expressões do jornalismo e da cultura nacional. Era norte-riograndense por adoção,  nascera a 5 de outubro de 1902, em Araruna, no Curimataù paraibano. Foram seus pais Manuel Otoni de Araújo Lima e Maria Amélia de Araújo (dona Maroca). Seu pai, proprietário do Engenho Bom Jardim, era conceituado homem de negócios e político no município de Goianinha, no Estado do Rio Grande do Norte. O casal, encontrava-se naquela cidade paraibana, participando do casamento de um irmão de ‘dona Maroca’, quando ali nasceu seu primogênito.
Pelo lado materno, Antônio Bento era neto do Major Bento José de Oliveira Lima, de Canguaretama, grande proprietário também no município de Araruna, e, pelo paterno, do Coronel da Guarda Nacional Antônio Bento de Araújo Lima, antigo membro do Partido Liberal, no Império, de quem herdou o nome. No Engenho Bom Jardim, em Goianinha, viveu sua infância, e, é esse ambiente que encontra-se presente na maioria de seus contos.

Antônio Bento de Araújo Lima

Em Natal, no Colégio Diocesano ‘Santo Antônio’, fez o curso secundário, ingressando em 1920 na tradicional Faculdade de Direito do Recife. Naquela capital, conheceu José Lins do Rego e Raul Bopp e com ambos, passou a morar numa república de estudantes, na vizinha cidade de Olinda.
Três anos mais tarde, Antônio Bento transferiu-se para a Faculdade de Direito do Catete, no Rio de Janeiro e na antiga Capital Federal, concluiu seus estudos superiores, diplomando-se em 1925. Nessa fase de sua vida, travou conhecimento com Di Cavalcanti, Portinari e Ismael Nery, e com estes, participou de vários eventos culturais importantes, realizados no Rio de Janeiro.
Em princípios de 1926, fixou residência em São Paulo, onde, ao lado de Mário Pedrosa, manteve uma coluna de crítica musical no ‘Diário da Noite’. Sua permanência na capital paulista foi curta. Mas, suficiente para conhecer grandes expoentes da literatura nacional, a exemplo de Mário de Andrade, de quem tornou-se amigo, auxiliando-o em suas pesquisas sobre folclore nacional, sendo, ao lado de Câmara Cascudo, um dos responsáveis pela vinda daquele ilustre escritor ao Rio Grande do Norte, em 1928.
Em 1927, Antônio Bento de Araújo Lima já encontrava-se estabelecido na capital potiguar. Naquele ano, ingressando na política, elegeu-se deputado estadual. Na Assembléia Legislativa, participou do grupo de parlamentares, que subscreveram a emenda à Constituição Estadual, que instituiu o voto feminino, numa iniciativa pioneira em todo o país. Reeleito deputado para a legislatura de 1930-1932, teve seu mandato prejudicado pela Revolução, eclodida no país em princípios de outubro de 1930. E, em conseqüência daquele movimento, teve que ausentar-se do Brasil, embarcando para Europa, na companhia de Juvenal Lamartine e outros simpatizantes do regime deposto.
Na Europa, Antônio Bento travou conhecimento com as maiores expressões do mundo artístico-cultural da época, fato que permitiu o enriquecimento de seu espírito e intelecto. Regressando ao Brasil, fixou-se no Rio de Janeiro, onde participou da fundação do ‘Diário de Notícias’ e nele atuou até 1932, quando ingressou no serviço público, como funcionário do Ministério do Trabalho. Em 1940, foi designado para ocupar o cargo de Procurador da Justiça Regional do Trabalho. Posteriormente, ascendeu a Procurador de primeira categoria, do Ministério Público da União.
Jornalista da melhor escol, nunca abandonou sua atividade. De 1934 a 1965, trabalhou no ‘Diário Carioca’ e naquele organismo da imprensa carioca foi editor de política e comentarista dos eventos da Segunda Guerra Mundial. Em 1945, a convite de Carlos Lacerda, passou a escrever uma coluna sobre artes visuais, o que lhe credenciou a participar de um congresso preparatório para criação da Associação Internacional de Críticos de Arte (AICA), realizado em 1948, na Europa, sob os auspícios da UNESCO.
Anos mais tarde, tornou-se presidente da seção brasileira da AICA e diretor do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Simpatizante da arte, acompanhou durante toda sua existência as mais variadas modificações nas propostas artísticas e em seus resultados”, tendo, inclusive, participado da fundação do Museu de Arte Moderna, naquela cidade. De 1966 a 1970, escreveu para as páginas do jornal ‘Última Hora’, onde mantinha uma coluna sobre música e artes visuais. Crítico de artes dos mais conceituados do país, participou de três bienais, realizadas em Paris e integrou o corpo de jurados das Bienais Internacionais de São Paulo e Veneza, do Salão Nacional de Arte Moderna e da Comissão Nacional de Artes Plásticas (1978-1980). Esta última, patrocinada pela FUNARTE.
Homem culto, Antônio Bento publicou vários livros de crítica, deixando, entre outras obras: ‘Abstração na Arte dos Índios Brasileiros’, ‘Sérgio Telles’, ‘Ismael Nery’, ‘Manet no Brasil’, ‘Milton Dacosta’ e ‘Portinari’. Este último, considerado uma obra de arte. Em 1987, aos 85 anos, publicou ‘Contos Hiper-Realistas’, que reúne contos baseados em fatos reais. Faleceu no Rio de Janeiro, em 1988, aos oitenta e seis anos de idade. Cinco anos mais tarde, o Banco HKB, patrocinou a publicação de seu livro ‘Poesias, Ponteios, Toadas, Cordel’. E, em sessão solene, o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, comemorou o centenário de nascimento, desse grande intelectual nordestino, que projetou-se internacionalmente, sem, jamais, esquecer suas origens.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

OS DIREITOS HUMANOS UNIVERSAIS E OS EXCESSOS DE RELATIVISMO

José Ozildo dos Santos
Rosélia Maria de Sousa Santos

1 INTRODUÇÃO

Na ótica do relativismo cultural, o bem e o mal são conceitos que variam de acordo com a cultura e, estão condicionados aos princípios morais, que pautam a conduta de cada sociedade. Assim, o que é bem e aceito por determinada sociedade, pode ser questionado e não aceito por outra. Tudo é uma questão de cultura, cujas diferenças são enfatizadas pela Antropologia.
Os relativistas culturais têm sido bastante confrontados porque seus argumentos têm sido freqüentemente utilizados por governos autoritários e repressivos, objetivando se defenderem das críticas internacionais relativas aos abusos praticados sobre seus cidadãos.
Atualmente, os direitos humanos universais se apresentam com instrumentos capazes de conterem os excessos de relativismo.
O presente trabalho tem por objetivo fazer uma abordagem crítica acerca da relativização cultural, sob a ótica da Antropologia.

2 DESENVOLVIMENTO

Explica Gensler (1998), que o relativismo cultural defende que o bem e o mal são relativos a cada cultura. E, que partindo desse princípio, cada sociedade possui sua base cultural que suporta a moralidade e esta se refere a fatos objetivos, servindo como seu instrumento construtor.
Logo, na ótica dos relativistas culturais, como cada sociedade possui seus princípios e sua moral, diferentes elementos entram em sua cultura, modificando conceitos e determinando o que é mal ou bem, fazendo com que tais termos sejam considerados relativos, variando de cultura para cultura, ou melhor, de sociedade para sociedade.
Acrescenta Kersting (2003, p. 82), “o relativismo defende a tese de que os sistemas morais só possuem validade relativa, não podendo, por conseguinte, reivindicar uma validade universal, uma validade supratemporal e invariável de cultura para cultura”.
Desta forma, para os relativistas culturais, é ilusória a convicção das teorias-padrão de filosofia moral da era moderna, que defendem uma moral universalista. Eles entendem que a cultura é o valor ético supremo, mais importante do que qualquer outro, e, defendem que qualquer prática, em qualquer sociedade pode ser teoricamente defendida com o fundamento de que se trata de costume local.
Assim, o relativismo cultural sustenta que a cultura é a fonte principal de validação das regras ou direitos morais.
Argumenta Gensler (1998), que os relativistas culturais consideram-se pessoas tolerantes, que não encaram as outras culturas não como ‘erradas’, mas como ‘diferentes’, sustentando, assim, a idéia de que o mundo está dividido de uma forma nítida em sociedades distintas, onde uma perspectiva maioritária determina o que é considerado um bem ou um mal nessas sociedades.
Deve-se destacar que o mundo é produto de uma mistura confusa de sociedades e de grupos sobrepostos. Estrutura esta, que, por uma questão de princípios, é ignorada pelo relativismo cultural.
Mostra a importância da diversidade de cultura, Gensler (1998) afirma que “as diferentes culturas necessitam aprender umas com as outras”. Pois, somente assim seus membros tomarão consciência de seus erros e de seus valores, uma vez que o aprendizado entre culturas diferentes pode ajudar a sociedade como um todo a corrigir valores e a aproximar-se da verdade acerca do modo como o ser humano deve viver.
Destaca Kersting (2003, p 83), que “até mesmo os princípios mais genéricos têm uma coloração cultural e são, por isso, inadequados para um conjunto de regras cuja pretensão de validade não varie de acordo com a respectiva cultura”.
Na opinião de Gensler (1998), “o relativismo cultural poderia dar-nos meios para nos conduzirmos corretamente no plano moral apenas se cada um de nós pertencesse a uma única sociedade”.
Partindo dessa afirmação, percebe-se que o relativismo cultural pouco tem a contribuir no contexto atual, mostrando-se ser uma corrente filosófica que não atende às exigências da vida no século XXI. Com ele, torna-se impossível discordar dos valores da sociedade, levando o cidadão a aceitar as normas da sociedade acriticamente.
Os argumentos dos defensores do relativismo cultural têm sido freqüentemente utilizados por governos autoritários e repressivos, objetivando se defenderem das críticas internacionais relativas aos abusos praticados sobre seus cidadãos. E, por essa razão, os relativistas culturais têm sido bastante confrontados.
É oportuno destacar que os direitos humanos universais servem para conter os excessos de relativismo. Por sua vez, a Declaração Universal dos Direitos Humanos adotada em 10 de dezembro de 1948, consolida a afirmação de uma ética universal, ao consagrar um consenso sobre valores de cunho universal a serem seguidos pelos Estados.
Observa Souza Filho (1999), que para serem tratados como questão de legítimo interesse internacional, os direitos humanos precisaram ser internacionalizados e isto obrigou uma redefinição do tradicional conceito de soberania estatal, quanto ao seu âmbito e ao seu alcance. E mais, também foi necessário rever o status do indivíduo no cenário internacional, para que o mesmo se tornasse verdadeiro sujeito do direito internacional.
Contudo, não é consenso de que esse processo de internacionalização dos direitos humanos, bem como a criação de um sistema internacional de proteção dos mesmos, se constituam num avanço ou até mesmo em algo positivo e benéfico.
Ressalta Kersting (2003), que vários críticos do alcance universal dos direitos humanos afirmam que a pretensa universalidade dos mesmos esconde o seu caráter marcadamente europeu e cristão, simbolizando a arrogância do imperialismo cultural do mundo ocidental, que tenta universalizar as suas próprias crenças.
No entanto, os defensores dessa idéia alegam que a existência de normas universais relativas ao valor da dignidade humana é uma exigência do mundo atual.
Ademais, os diversos Estados que ratificaram os instrumentos internacionais de proteção aos direitos humanos, consentiram em respeitar tais direitos, certos de que a aceitação de um conjunto de direitos universais inibe a divulgação dos princípios adotados pelo relativismo cultural.

3 CONCLUSÃO

A universalização dos Direitos Humanos é uma tendência recente na história da humanidade, que teve origem após a Segunda Guerra Mundial como resposta aos horrores e desumanidades cometidas pelos nazistas.
No entendimento de seus idealizadores, se existisse um efetivo sistema de proteção internacional aos direitos humanos, certamente grande parte dessas atrocidades poderia ter sido evitada. E, não teria prevalecido o entendimento de que o povo judeu era algo ruim para a sociedade alemã, entendimento este alimentado pelo pensamento relativista cultural.

4 REFERÊNCIAS

GENSLER, Harry. Ética e relativismo cultural. Tradução de Paulo Ruas. Crítica: Revista de filosofia.

KERSTING, Wolfgang. Universalismo e direitos humanos. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2003.

SOUZA FILHO, Carlos Frederico Marés de. Os direitos invisíveis. In: OLIVEIRA, Francisco de; PAULI, Maria Célia (Orgs.). Os sentidos da democracia: políticas do dissenso e hegemonia global. Rio de Janeiro: Vozes, 1999.

domingo, 9 de outubro de 2011

ANTÔNIO DOS SANTOS CABRAL

O SEGUNDO BISPO DO RIO GRANDE DO NORTE

José Ozildo dos Santos


D
om Antônio dos Santos Cabral foi o segundo bispo do Rio Grande do Norte. Sergipano, nasceu no dia 8 de outubro de 1884, em Propriá, sendo filho do casal Antônio dos Santos Cabral e Amélia da Glória Cabral. Naquela cidade, iniciou o antigo curso preparatório, que foi concluído em Penedo, Estado de Alagoas.
Vocacionado para o sacerdócio, aos 2 de fevereiro de 1899, ingressou no Seminário de Santa Tereza, em Salvador-BA, recebendo a tonsura clerical aos 28 de outubro de 1904, seguida das ordens menores, a 1º de novembro de 1905. Um ano depois, Dom Jerônimo Tomé da Silva, Arcebispo Primaz, conferiu-lhe o subdiaconato e o diaconato, ordenando-lhe sacerdote a 1º de novembro de 1907.
Na capela do Seminário de Santa Tereza, celebrou sua primeira missa, dois dias após a sua ordenação. E, “era ainda tonsurado, quando pregou em Propriá o seu primeiro sermão em novembro de 1904 na festa de Santa Cecília. Depois de ordenado, regressou à cidade natal, onde cantou em 24 de novembro de 1907 a primeira missa na mesma igreja matriz em que foi batizado”.

DOM ANTONIO DOS SANTOS CABRAL

Volvendo à sua terra natal, em janeiro de 1908 tornou-se coadjutor da Matriz local, passando a auxiliar o cônego Rosa Passos, a quem, por ter falecido, sucedeu na direção da freguesia a 17 de março do mesmo ano.
Sacerdote virtuoso, com zelo de pasto e pároco, a 4 de agosto de 1912 foi distinguido com o título de cônego da Catedral de Aracajú. E, mais tarde, foi agraciado com o título de Monsenhor Camareiro do Papa Bento XV, em janeiro de 1914, por seus relevantes serviços prestados à Igreja Católica de Sergipe.
Atuante em sua paróquia, “incrementou, de modo surpreendente a vida eucarística, empenhado em propagar a ‘comunhão freqüente’, organizou diversas obras e associações: a Pia Unia das Filhas de Maria, três centros do Apostolado da Oração, oito Conferências Vicentinas, uma Escola Paroquial, o Colégio Feminino Nossa Senhora das Graças com escola anexa para meninas pobres, o Hospital Paroquial de São Vicente de Paulo”.
Em 1911, quando da sagração de dom José Tomás Gomes da Silva, ocorrida em 19 de novembro, foi escolhido para representar o clero sergipano na referida solenidade.  Por duas vezes foi nomeado bispo de Natal. Mas, para a surpresa de muitos, rejeitou ambas nomeações, em abril de 1916 e em junho de 1917, respectivamente. Pois, “reverenciado pelos fiéis da sua freguesia sentia-se feliz em promover o bem da Igreja e de seus paroquianos por atos de religião e caridade”.
Regia ainda a freguesia de Propriá, quando no dia 1º de setembro de 1917, foi novamente nomeado Bispo da Diocese de Natal, pelo Papa Bento XV, através da Bula “Commissum Humilitati nostrae”, em substituição a dom Joaquim Antonio de Almeida, primeiro bispo daquela diocese.

DOM ANTONIO DOS SANTOS CABRAL

Sua sagração episcopal ocorreu, na Catedral de São Sebastião, no Rio de Janeiro, em solenidade realizada no dia 14 de abril do ano seguinte, num domingo, tendo como sagrante, o Cardeal Dom Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti, arcebispo do Rio de Janeiro, auxiliado por Dom Sebastião Leme da Silveira Cintra (bispo de Olinda) e Dom Cláudio Ponce de Leon, bispo resignatário de Porto Alegre e titular de Anazarba.
Dom Antônio empossou na Diocese de Natal, às 9:00 horas da manhã do dia 30 de maio de 1818, em cerimônia realizada na Catedral de Nossa Senhora da Apresentação, da qual, participaram várias autoridades civis, militares e eclesiásticas.
Registrando para a posteridade esse grande fato da história eclesiástica do Rio Grande do Norte, assim noticiou um jornal da época:
“A cerimônia da posse de d. Antônio Cabral, realizada ontem depois das nove horas, foi um acontecimento raro, no meio católico natalense.
A Catedral, quando s. Excia. Revdma. Ali deu entrada, acompanhado de vários sacerdotes, apresentava uma aspecto vetusto a que davam maior realce a profusão de luzes e de flores e festões artisticamente dispostos pelas arcadas e tribunas repletas de famílias da mais alta distinção.
No altar-mor, notava-se a presença, em lugar de destaque, do Desembargador Ferreira chaves, governador do Estado, acompanhado de suas casas civil e militar, e de outras autoridades militares e civis e de vários cavalheiros.
O ato foi iniciado com a leitura, pelo cônego Estevão Dantas, das Letras Apostólicas, nas quais consta o decreto do Vaticano nomeando d. Antônio dos Santos Cabral, bispo da Diocese de Natal.
Em seguida foi S. Excia Revdma. Empossado pelo Exmo. Monsenhor Alfredo Pegado, vigário geral da Diocese, perante o Exmo. Monsenhor Sabino Coelho, representante de S. Excia. Revdma. D. Adauto Aurélio de Miranda Henriques, arcebispo metropolitano da Paraíba e administrador apostólico da Diocese de natal, assinado o respectivo termo”.
Após tomar posse, Dom Antônio dos Santos Cabral leu a sua ‘Carta Pastoral saudando sues diocesanos’, oportunidade em que dissertou sobre o mistério da presença real de Jesus na e sobre a vida eucarística, afirmando que “pela eucaristia vive Cristo em nós” (Per Eucharistiam vivta in nobis Christus), frase que posteriormente tornou-se o lema de seu brasão episcopal. Assim, “elevado à dignidade de príncipe da Igreja Católica, mais se afervorou no culto das coisas sagradas, intimamente compenetrado das múltiplas responsabilidades do episcopado sob sua jurisdição. Zeloso obreiro da vinha do Senhor, não somente obedecia aos deveres do ministério espiritual, como até se comprazia em tomar a defesa dos interesses materiais dos seus diocesanos, esforçando-se pelo restabelecimento da linha da navegação do Lloyd Brasileiro para os pequenos portos do Estado, como também pelo restabelecimento da Estrada de Ferro de Mossoró [...]”.
É oportuno registrar que dom Antônio “encontrou a diocese de Natal em precária condições financeiras e logo lhe organizou um patrimônio. Porém, deu maior destaque à formação do clero e da juventude em geral”.
Em seu governo diocesano, dom Antônio dos Santos Cabral promoveu várias realizações, sobressaindo-se a fundação do Seminário de São Pedro (15-02-1919), a criação da Congregação Mariana dos Moços (14-07-1918), a instituição das Conferências Vicentinas e a instalação Escola de Comércio, ocorrida a 8 de setembro de 1919, bem como o Instituto de Proteção às Moças Solteiras (1919), a instalação do Curso Comercial Feminino e do Círculo de Operárias Católicos em 1918, bem como a fundação da Sociedade Propagadora do Ensino Popular.
Prelado de grande valor, visitou todas as paróquias de sua diocese, fazendo-se sempre acompanhado por grande número de auxiliares, tendo ordenado três sacerdotes, criado as paróquias de Areia Branca (08-09-1919) e Parelhas (08-12-1920) e fundado diversas associações religiosas e trinta escolas paroquiais.
Verdadeiro exemplo de levita do Senhor, dom Antônio Cabral era “devotado à prática das virtudes cristãs e incansável na realização de boas obras”. Deve-se ainda à sua iniciativa o Dia da Boa Imprensa, instituído em 18 de janeiro de 1919, o ‘Boletim de Natal’, órgão oficial da Diocese fundado em março de 1919, o ‘Pão de S. Antonio’, fundado em 13 de junho de 1920, além dos periódicos ‘A Palavra’ (1921) e ‘Fé e Luz’ (1922), bem como a ‘Comissão Central das Obras da Nova Catedral’, organizada em 27 do mesmo mês.
Considerado “a encarnação perfeita do sacerdote moderno, pela compreensão dos deveres sociais aliados às funções da religião católica, prestando relevantes serviços à população do estado, esclarecendo-a e educando-a na moral”, Dom Antônio em Natal, “atuou ainda na pastoral operária, criando um círculo de operários católicos (1918), uma escola e recreatório para operárias”.
Em Natal, Dom Antônio Cabral permaneceu até finais de 1921. Sua missão em solo potiguar terminou “por força de um ato emanado da Santa Sé, facultando-lhe o ensejo de desenvolver em outro Estado as qualidades criadoras das mais úteis iniciativas, com que o dotou a natureza. S. S. o Papa Benedito XV, conhecedor das revelações do seu amor ao trabalho e eminente espírito organizador, reunido o Consistório em Roma a 21 de novembro de 1921,o transferiu para a nova diocese de Belo Horizonte [...].
Na Diocese de Belo Horizonte, dom Antônio tomou posse em suas novas funções no dia 30 de abril do ano seguinte. Na oportunidade, “foi saudado pelo Dr. Lúcio dos Santos, em nome da cidade católica de Belo Horizonte, expressando-lhe sentimentos de alegria, obediência, fidelidade, virtudes próprias do povo mineiro. Após o discurso de Dr. Lúcio, houve um imponente desfile de todas as associações da capital, com distintivos e estandartes, até à Igreja de São José, que foi catedral provisória, onde foi saudado pelo Dr. Mário de Lima, então diretor da Imprensa Oficial".




Banquete oferecido por Dom Antonio dos Santos Cabral ao Embaixador do Papa Dom Henrique Gasparri e arcebispos e bispos em Belo Horizonte (1923)
Anos mais tarde, com a elevação daquela diocese às honras de Província Eclesiástica, ascendeu à condição de Arcebispo Metropolitano, em 1º de fevereiro de 1924, tornando-se o primeiro sacerdote sergipano há ocupar tão alta dignidade. No entanto, somente recebeu o ‘Pálio’, no dia 30 de novembro daquele mesmo ano.
Em Belo Horizonte, dom Antônio passou a residir numa casa alugada e denominada Palacete Levindo Lopes, localizada na Rua Guajajaras, nº 329, no centro da capital mineira.  Na época, a diocese de Belo Horizonte praticamente não tinha bens. Contudo, como era um espírito empreendedor – caraterística quee já demonstrara no período que fora bispo de Natal – ‘arregaçou as mangas’ e começou a desenvolver uma grande campanha, visando formar um patrimônio para seu sólio.
Graças aos seus esforços, a diocese conseguiu adiquirir uma casarão na Rua Espírito Santo, onde passou a funcionar a Cúria. Em pouco tempo de bispado, dom Antônio criou várias paróquias, solidificando cada vez mais a sua diocese.
Em meados de 1925, o jovem arcebispo conseguiu comprar um novo imóvel localizado na Rua Rio Grande do Norte, onde passou a residir. Amplo e moderno, o referido prédio passou também a sediar o Seminário Coração Eucarístico de Jesus, uma das primeiras grandes realizações promovidas por esse grande guardião da fé cristã, no solo mineiro. Naquele mesmo ano, realizou uma visita ‘ad limina apostolorum’, oportunidade em que percorreu toda a Europa.
Espírito incansavel, em 1927, fundou o Ginásio Municipal Arquidiocesano, prestando serviço á formação e instrução da mocidade [de Belo Horizonte], e, em 1930, o ginásio Dom Helvécio, na cidade de Ponte Nova, para a instrução pública. Em Mariana, criou o Museu de Arte Sacra em 1926, consagrando-lhe o nome. Foi a segunda grande festa em Mariana, estando presentes o representante do Presidente da República, o encarregado de negócios da Santa Sé, mons, egídio Lari, ministros de Estado representados ainda o Exército e a Marinha”.
Dom Cabral adquiriu também a Vila Anchieta, que posteriormente foi dividida e vendia em lotes à população da capital mineira. E, com o dinheiro arrecadado comprou a Fazenda Pastinho, que anos mais tarde tornou-se o bairro Bela Vista, hoje denominado ‘Bairro Dom Cabral’, onde iniciou a construção do Seminário Eucarístico de Jesus. Parte desse seminário foi transformada na Universidade Católica de Minas Gerais, atual PUC Minas.
Após instalar a a universidade, Dom Cabral conseguiu adquirir um terreno na Praça da Liberdade, onde construiu o Palácio Cristo Rei e montou o Seminário Preparatório, localizado na Avenida Augusto de Lima, ambos na capital mineira. Dentre suas realizações destacam-se ainda a criação da Sociedade Mineira de Cultura, ocorrida em 26 de outubro de 1948.
Presidiu o Congresso Eucarístico Nacional, realizado na capital mineira.  Zeloso em suas funções, administrou aquela Arquidiocese até finais de maio de 1956, quando foi obrigado a renunciar o pálio arquidiocesano, por problemas de saúde.
Preso a uma cadeira de rodas, viveu seus últimos dias de vida, falecendo aos 15 de novembro de 1967, no Hospital São Lucas, em Belo Horizonte, após longos meses de sofrimentos. Seu corpo, foi sepultado no interior da Catedral de Nossa Senhora da Boa Viagem, na tarde do dia seguinte.
Na Arquidiocese de Belo Horizonte, foi substituído por Dom João Resende Costa. Por sua ações e realizações, “D. Cabral tornou-se uma referência obrigatória na história do catolicismo mineiro, dada sua liderança sobre o episcopado de Minas Gerais e o ‘reavivamento’ eclesial”.
Em suas pregações, lembrava que a Ação Católica era “indicada por Pio XI como a grande obra restauradora da sociedade moderna, capaz de conquistar os direitos de Deus, recristianizar o país, repor Jesus Cristo na família e na sociedade, restabelecer o princípio da autoridade, abrigar a nação das sedições e oferecer uma legislação cristã aos povos”.
De sua valiosa produção, ficou: ‘Carta Pastoral do bispo de Natal saudando os seus diocesanos’ e Carta Pastoral do 1º bispo de Belo Horizonte saudando os seus diocesanos’. Nessa última Carta, dom Antônio Cabral estudou os problemas da época e traçou o rumo da sua futura administração, afirmando que seu desejo de pastor era “vivamente dominado do veemente desejo de firmar e expandir o reinado de Jesus Cristo” e que seu rebanho deveria “estudar as normas de ação que a sabedoria da Igreja, pelo órgão augusto dos Pontífices” [...], “traça para a recristianização das novas gerações”.
Consciente de seu papel, ao longo de sua ação pastoral, denunciou a ignorância religiosa do povo brasileiro, mostrando a necessidade de uma doutrinação e “ao colocar o sacramento da Eucaristia como centro de seu programa pastoral, estabeleceu as articulações entre o princípio da unidade e o da autoridade”.  
Prelado doméstico, assistente ao Sólio Pontifício, nobre e conde romano, em Belo Horizonte, o nome de dom Antônio Cabral dos Santos é bastante, reverenciado. Ali, uma via importante via pública, um bairro (onde ficava o antigo Seminário Diocesano “Coração Eucarístico de Jesus”, e hoje, a Universidade Católica), leva o seu nome.
Verdadeiro pastor, sentiu a necessidade da criação da Diocese de Oliveira e não mediu esforços para isto. E, aos 20 de dezembro de 1941, viu seu sonho realizado quando o Papa Pio XII assinou a Bula Quo uberiores fructus, criando a Diocese de Oliveira, desmembrando-a da Arquidiocese de Belo Horizonte.
Homem de reconhecida cultura, dom Cabral participou do ato de fundação da Academina Sergipana de Letras, ocorrido em  1º de junho de 1929, oportunidade em que passou a ocupar a cadeira nº 5, que tem como patrono o jornalista e escritor Ivo do Prado Montes Pires da França. Falecendo, ali foi substituído pelo professor, advogado, historiógrafo e filosofo José Silvério Leite Fontes.
Em Belo Horizonte, fundou ‘O Diário’, considerado o mais antigo cotidiano brasileiro. Durante seu episcopado, “nas terras mineiras, a imprensa católica ocupava lugar central na manutenção do tradicionalismo católico”.
Em 1976, por iniciativa do Cardeal dom Serafim Fernandes de Araújo, Arcebispo Emérito de Belo Horizonte, à época, reitor da UCMG (atual PUC Minas), criou-se a Fundação Dom Cabral. A Fundação Dom Cabral, instituição que busca a capacitação gerencial de empresários, executivos e empresas, apresentando soluções educacionais orientadas para o mundo dos negócios.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

ALLAN KADEC

PARA CONHECER MELHOR ALLAN KARDEC

José Ozildo dos Santos

ALLAN KARDEC nasceu a 3 de outubro de 1804, na cidade de Lyon, na França. Filho de Jean Baptiste Antoine Rivail (magistrado) e de Jeanne Louise Duhamel, foi batizado pelo padre Barthe aos 15 de junho de 1805, na igreja Saint Denis de la Croix-Rousse, recebendo o nome de Hippolyte. Seu nome completo era, pois, Hippolyte Léon Denizard Rivail.
O nome Denizard, segundo Canuto Abreu, estudioso do Espiristimo, “deriva da velha expressão latina Dionysos Ardenae, designativa de Deus Dyonisio, da floresta de Ardenas”. Com o tempo “Dionysius sofreu a evolução simplificativa Dionysio-Dionys-Denls. Ardenae, latinização de ard-nae, mata grande, simplificou-se em ard”.

Hippolyte Léon Denizard Rivail (Allan Kardec)

Conclui aquele renomado estudioso brasileiro, que “Allan Kardec foi consagrado a Denis-Ard, evocativo do Protetor Espiritual da França”.
Filho de pais católicos, Hippolyte Léon foi criado no Protestantismo. No entanto, não abraçou nenhuma dessas religiões. Preferiu situar-se na posição de livre-pensador e homem de análise, buscando, ao seu modo, entender o mundo que havia em sua volta.

FORMAÇÃO ACADÊMICA

Em sua terra natal, o jovem que anos mais tarde seria conhecido por Allan Kardec, o Codificador da doutrina espírita, fez seus primeiros estudos. Aos dez anos de idade, foi enviado por seus pais para a cidade de Iverdurn (Suíça), onde matriculou-se no célebre ‘Instituto de Educação’ ali instalado, pelo professor-filantropo João Henrique Pestalozzi, cognado de ‘pai da pedagogia moderna’, de quem tornou-se um dos mais distintos discípulos “e um dos mais zelosos propagandistas do seu sistema de educação, que tão grande influência exerceu na reforma do ensino na Alemanha e na França”.
Cedo, o jovem Hippolyte Léon Denizard Rivail demonstrou ser possuidor de uma grande inteligência. E, “atraído para o ensino por vocação e aptidões especiais, desde os quatorzes anos ensinava a seus condiscípulos mais atrasados o que ia aprendendo. Foi nesses exercícios que se lhe desenvolveram as idéias, que mais tarde deveriam elevá-lo à classe dos educadores”.
Vários membros de sua família, distinguiram-se na magistratura e no foro. No entanto, ele não abraçou a ciência de Ulpiano. Ainda muito jovem, sentiu-se atraído pelos estudos das ciências e da filosofia. Assim, orientado pelo professor Pestalozzi, solidificou sua instrução. E, por diversas vezes, substituiu o grande mestre, na ausência deste, quando o mesmo precisou afastar-se do instituto, para atender a outros compromissos, fora.
Poliglota, além de sua língua materna, falava o alemão, o inglês, o italiano, o espanhol e o holandês. Possuidor de uma inteligência ímpar, também se dedicou à cultura científica. Desta forma, são infundadas as críticas feitas por opositores da doutrina espírita de que seu codificador era um homem ignorante e sem instrução.
Alguns pesquisadores, no entanto, apresentam-o como doutor em Medicina. Dessa errônea qualificação aproveitaram-se alguns de seus adversários para denegrir-lhe a memória, acoimando-o de embusteiro. Contudo, em sua vida, Hippolyte Léon Denizard Rivail nunca se fez passar por médico: bacharelou-se em Ciências e Letras e sua profissão era a de mestre-escola. No entanto, tal equivoco, provém porque ele, através do hipnotismo e da aplicações de passes magnéticos, costumava curar os enfermos.
Concluindo seus estudos superiores, Hippolyte Léon retornou à França, onde iniciou sua vida profissional, tornando-se membro de várias sociedades culturais, dentre elas, a Academia Real de Arras, que, em concurso realizado no ano de 1831, outorgou-lhe uma notável memória sobre a seguinte questão: “Qual o sistema de estudos mais em harmonia com as necessidades de época?”.

O EDUCADOR

Homem de cárater ilibado e de saber profundo, Hippolyte Léon Denizard Rivail - o professor Rivail - era um educador por excelência, que desde “bem cedo sentiu a lição da fraternidade, exemplificada pelo seu mestre” e revelou-se um semeador.
Dedicado ao ensino, instalou em sua residência, localizada à rua de Sévres, cursos de Química, Física, Anatomia, Astronomia e outras matérias, que foram mantido de 1835 a 1840. E, “ao mesmo tempo que lecionava, prosseguia escrevendo, nas poucas horas que lhe sobravam, páginas e mais páginas relacionadas com as questões educacionais”.

Hippolyte Léon Denizard Rivail

Desprendido das coisas materiais, lecionava gratuitamente para jovens pobres, “empreendimento digno de elogios em todos os tempos, mas principalmente numa época em que bem poucas inteligências se arriscavam por esse caminho”.
Pedagogo nato, preocupado em vencer as dificuldades do processo de aprendizagem, desenvolveu um método, no qual utilizava meios mnemônicos, “de forma a não cansar o estudante e fazê-lo aprender as lições com facilidade e rapidez”. Dotado de um senso pedagógico em sua mais bela perfeição e “conhecedor profundo da psique infantil, levava a escola aos moços não esperando que estes fossem procurá-la”.
Estudioso das ciências aplicadas, o professor Rivail, “possuía grande poder de raciocínio e indisfarçável pendor por todas as causas atinentes ao bem coletivo. A sua paixão pelos métodos do ensino, em consonância com a escola de Pestalozzi [...], granjeou-lhe, logo, brilhante renome na Europa, onde se tornou conceituado como autoridade incontrastável sobre problemas educacionais”.
Cognado ‘o missionário da educação’, o professor Rivail fez de sua vida um laboratório de pesquisa. Ele acreditava que “a única coisa que a escola pode e deve fazer é desenvolver a aptidão para pensar”. E, com suas investigações cientificas e observações sérias, deixou para Humanidade uma grande contribuição no campo da Pedagogia.
Em sua rica e extensa bibliografia, como pedagogo, encontramos os seguintes títulos: ‘Plano para melhoramento da instrução pública’ (1828); ‘Curso prático e teórico de Aritmética, segundo o Método de Pestalozzi e para uso dos professores e das mães de família’ (1829); ‘Gramática Francesa Clássica’ (1831), ‘Soluções nacionais das questões e Problemas de Aritmética e Geometria (publicado pela Livraria Acadêmica de Didier), ‘Manual dos Exames para os títulos de capacidade’; ‘Soluções Racionais de Questões e Problemas de Aritmética e Geometria’ (1846); ‘Programa dos cursos usuais de Química, Física, Astronomia e Fisiologia’ (1846); ‘Catecismo gramatical da língua francesa para os iniciantes do idioma’ (1848); ‘Ditados especiais sobre as dificuldades ortográficas’; ‘Pontos para os Exames do Hotel de Ville e da Sorbone, acompanhados de Instruções Especiais sobre as dificuldades Ortográficas’ (1849) e ‘Ditados normais dos exames da Municipalidade de Sorbonne’.
Além dessas obras e de inúmeros artigos e estudos publicados em revistas e jornais de sua época, Hippolyte Léon Denizard Rivail traduziu vários livros, alguns, de fundo moral, a exemplo de ‘Telêmaco’, de Fénelon, “que verteu para o alemão, e comentou, o que lhe valeu os aplausos sinceros e calorosos de Pestalozzi”, seu antigo mestre. Em síntese, a obra pedagógica do professor Rivail não foge ao crivo do raciocínio. São volumes que instruem e elevam o pensamento humano.

O HOMEM

Em 1822, Rivail deixou Yverdon e instalou-se em Paris, onde passou a residir numa casa localizada à Rue de la Harpe, nº 117. E, no período de 1828 a 1831 morou na Rue de Vaugirard, nº 65. O exercício de sua profissião como professor proporciou sua aproximação à jovem Amélie-Gabrielle Boudet (1795-1883), com quem casou-se no dia 6 de fevereiro de 1832.
Amélie-Gabrielle (conhecida mais tarde entre os espíritas como ‘Madame Allan Kardec’), que também era professora, foi, por toda a vida, uma dedicada companheira e apoiou o marido em todos os momentos. De família tradicional, possuia uma educação esmerada e escreveu três livros: Contos Primaveris’ (1825), ‘Noções de Desenho’ (1826) e ‘O essencial em Belas Artes’ (1828).

Rivail e Amélie-Gabrielle

Pessoas dignas, de moralidade inatacável, Rivail e Amélie-Gabrielle dedicaram-se integralmente ao cultivo dos ideais superiores da cultura, da educação, do bem e “lutaram a favor das causas da liberdade de ensino e da educação para meninas”. Fizeram de sua residência uma escola para jovens de diferentes idades e classes sociais. Não tiveram filhos e levaram uma vida simples, não raro enfrentando dificuldades econômicas.


UM PERFIL DE CORPO INTEIRO

Fisicamente, Allan Kardec possui estatura média e um corpo robusto “cabeça ampla, redonda, firme, com feiçoes bem pronunciadas e olhos pardo-claros, mais parecia alemão que francês”.
Costumava caminhar a passos lentos. Ativo e tenaz, Allan Kardec possuía um temperamento calmo. Homem precavido e realista, às vezes parecia frio e céptico. E, “em algumas ocasiões apresentava fisionomia radiante, se bem que, por causa da sobriedade do seu todo, jamais o viram rir”.
Educado por natureza, era um argumentador completo e em suas idéias e ações era eminentemente prático e preciso, mostrando-se sempre distanciado do misticismo. Ponderado, falava lentamente e sem afetação, com inegável dignidade. Tal postura era resultante de sua seriedade e honestidade, traços que definiam seu caráter.
Nunca procurava discussões, nem a elas fugia. Entretanto, jamais provocou “qualquer comentário a respeito do assunto a que consagrara sua vida”. Em sua casa, “recebia amavelmente os numerosos visitantes que acorriam de todas as partes do mundo, para conversar com ele a respeito das ideias de que era o mais autorizado expoente, respondendo às consultas e às objeções, resolvendo dificuldades, e dando informações a todos os investigadores sérios, com os quais falava franca e animadamente”.

Continua....


ALLYRIO MEIRA WANDERLEY

UM PERFIL DE CORPO INTEIRO


José Ozildo dos Santos


F
igura da maior projeção da literatura paraibana, Allyrio Wanderley nasceu aos 22 de outubro de 1906, na fazenda Campo Comprido, termo e comarca do município de Patos, no sertão paraibano. Foram seus pais Francisco Olídio Mon­teiro Wanderley e Inácia Maria Meira Wanderley. Pelo lado paterno, descendia do major Francisco Pereira Monteiro Wanderley, de quem era neto.

ALLYRIO WANDERLEY

Era, portanto, neto materno do capitão Roldão Meira de Vasconcelos, figura de exponencial valor na sociedade patoense, no início do período republicano. Seu pai, próspero fazendeiro, in­troduziu nos sertões da Paraíba o primeiro automóvel - um Ford de bigode - que chegou a Patos na tarde do dia 17 de junho de 1918, após vencer inúmeros obstáculos, por dezenas de léguas em serrarias e estradas carroçáveis.
Em 1912, aos cinco anos de idade, vencida a ‘Carta de ABC’, Allyrio Wanderley foi matriculado no ‘Colégio Leão XIII’, fundado e dirigido na cidade de Patos, pelo talentoso padre José Viana, que anos mais tarde seria vigário da Matriz de Nossa Senhora da Guia. Naquele estabelecimento de ensino, o futuro homem de letras, fez seus primeiros estudos. E, em fevereiro de 1919, transferiu-se para a capital paraibana, onde matriculou-se como interno do ‘Colégio Diocesano Pio X’.
Por esse tempo, começou a se desenhar em Allyrio a personalidade de literato. Lembrando esta fase de sua vida, ele próprio assim descreve sua viagem para João Pessoa e sua curta permanência naquele educandário: “era ma­drugadinha, quando parti a cavalo, com o portador e uma família. A viagem longa para Campina não me aborreceu, em todos os seus 3 dias e meio. Descansávamos à sombra dos umbuzeiros, dormíamos em ranchos, alpendres ou latadas e madrugávamos. No Colégio Pio X ganhei primeiros bancos de honra em quase todas as matérias, durante os 5 meses que lá passei discuti com professo­res, briguei com prefeitos, lutei com colegas e joguei futebol (...)”.
Em agosto daquele mesmo ano, mal tinha vencido a primeira etapa do ano letivo, adoeceu de uma infecção intestinal e teve que retornar ao lar paterno, onde esteve preso ao leito, por quatro meses. Com a saúde restabelecida, na ânsia de retomar seus estudos, foi enviado para o Recife.
Allyrio Wanderley era aluno do ‘Ginásio Pernambucano’, quando começou escreveu seu primeiro romance - ‘Vae Victis!’ e uma lenda paraibana - ‘Po­tyra’, “conseguindo escrever 12 capítulos do primeiro em 120 folhas almaço e avançar bem o segundo”. Mas, “esses papéis queridos”, foram queimados a mando do padre Felix, seu diretor, por ver no gosto do jovem patoense pela literatura, uma fuga para a indisciplina.
Ainda na capital pernambucana, o futuro de homem de letras concluiu o secundário no ‘Colégio Salesiano’. E, em junho de 1924, “assoberbado já pela esperança de seu talento, de um dia ser alguém”, deixou “o Recife com destino à capital pau­lista tendo em mente prosseguir com os estu­dos e trabalhar”.
Entretanto, em São Paulo, não encontrou o esperado. Os empregos que conseguiu, foram temporários. E, desempregado, as dificuldades foram aumentando. A lembrança dessa fase difícil de sua vida seria transportada para um de seus romances - ‘Bolsos Vazios’ - que, sem dúvidas, são suas próprias memórias.
Crêem alguns de seus biógrafos, que foi por esse tempo, que Allyrio - movido pelo espírito de aventura ou sede de conhecimento - realizou uma viagem à Europa, onde permaneceu por quatro anos, tendo visitado vários países, entre eles: França, Rússia, Espanha, Alemanha, Bélgica e Portugal.
Diz Eduardo Martins - seu principal biógrafo - que Allyrio Wanderley doutorou-se em Filosofia, pela Universidade de Heidelberg, na Alemanha. Mas, esta é outra informação questionada por outros autores e vista como imaginária, tanto quanto a referida viagem à Europa.
Entretanto, a ausência de um diploma superior em nada diminui a figura do príncipe das letras patoenses. O que é certo, é que ele expressava-se “com facilidade e propriedade em quase todas as línguas vivas da Europa”. E, sua atividade intelectual “se estendeu por vários setores da literatura, a começar do romance, passando pelo teatro, e pelo jornalismo, indo até a crítica literária, da qual foi, sem dúvida, um grande expoente a nível nacional”.
No início da década de 1930, Allyrio passou a trabalhar como tradutor para jornais e editoras, de São Paulo. Por esse tempo, Georges Selzoof iniciava a publicação de sua famosa ‘Biblioteca de Autores Russos’ e, conhecendo o talento do jovem das Espinharas, convidou-o para integrar sua equipe. Foi nesse período que Allyrio traduziu para o português, vários autores russos consagrados, a exemplo de Leon Tolstoi (‘Khadji-Murat’ e ‘Padre Sérgio’), Dostoievski (‘O Jogador’) e Leonid Andreief (‘Judas Iscariotes’ e ‘Os Sete Enforcados’).

TRADUÇÃO DE ALLYRIO WANDERLEY, 1931

TRADUÇÃO DE ALLYRIO WANDERLEY, 1931

TRADUÇÃO DE ALLYRIO WANDERLEY, 1931

Jornalista da melhor escol, em 1931, passou a escrever para as páginas do jornal ‘A Razão’, publicado na capital paulista. Seguidamente, ali, atuou no ‘Correio de São Paulo’, ‘Correio Paulistano’, ‘O Dia’ (1933), ‘A Platéia’ e ‘A Gazeta’.
Allyrio Wanderley era, pois, um jornalista de sucesso, quando estreou no mundo das letras com o romance ‘Sol Criminoso’, publicado em 1931. O referido livro é “marcado pelo trato de problemas sociais, defendendo subliminarmente, direitos humanos e, portanto, universais”.

SOL CRIMINOSO, 1931

Bastante aceito pela crítica, ‘Sol Criminoso’ foi laureado pela Academia Brasileira de Letras (1932) e marcou uma época na literatura nacional, “pelo seu estilo e poder narrativo”, consolidando-se como a “afirmação de um valor na nova mentalidade brasileira”.
Conferencista de talento, dono da palavra limpa, ao longo de sua produtiva existência Allyrio proferiu várias palestras, abordando sempre temas polêmicos. Em maio de 1932, esteve na cidade pernambucana de Petrolina, onde realizou a conferência “Aspectos sociais, mesológicos e étnicos de nossa terra”.
No mesmo mês, na vizinha Juazeiro (BA), noutra conferência, abordou o tema “O Nordeste para os nordestinos”, revelando-se um autêntico conhecedor das potencialidades de nossa região, historicamente castigada pelas secas e esquecida pelos governantes.
Espírito culto, possuidor de um estilo imitável, escrevia sem parar e não “conseguiu deixa algo de mais concreto”, porque viveu “amarrado a um indesejável marxismo”. De 1932 a 1933, produziu: ‘Cães sem Donos’ (romance), ‘Serões de uma Traça’ (volume de crítica) e inexplicavelmente deixou inacabado o romance ‘Caminhos da Bronzeada’. Em 1934, publicou ‘Os Brutos’, romance que tem por cenário a mesma natu­reza dos sertões nordestinos, focalizando, porém, episódios do cangaço com o seu cortejo de feracidade e impressionante realismo”.

OS BRUTOS, 1934

Desse último ano é também o seu segundo volume de crítica, intitulado ‘A Seara do Próximo’, que, a exemplo do primeiro, também ficou inédito. Por esse tempo, Allyrio passou a escrever para as páginas d‘A Gazeta’, editada em São Paulo. Em janeiro do ano seguinte - que foi bastante tumultuado em sua vida - proferiu na cidade de Santos a conferência ‘O Nordeste para os nordestinos’, recebendo elogiosa citação na imprensa paulista.
Membro da Associação Paulista de Imprensa, em meados de 1935, publicou o polêmico livro ‘As bases do separatismo’, cujos exemplares numerados e rubricados pelo autor, foram apreendidos pela polícia, na capital paulista. Em seu polêmico livro, Allyrio pregava a “a divisão do Brasil em cinco regiões distintas que, desmembradas, formariam cinco países independentes”.

AS BASES DO SEPARATISMO, 1935

Perseguido pelo Governo de Vargas, retornou ao seio familiar, onde refugiou-se na Fazenda Campo Comprido - de seu pai - enquanto aguardava uma decisão judicial, por parte do Tribunal de Segurança Nacional. Absolvido por unanimidade, por algum tempo, Allyrio Wanderley continuou na cidade de Patos, isolado do ‘mundo’, mas apegado a sua pena.
Nesse período, lamentavelmente, antes de ver seu primogênito crescer, perdeu a esposa, falecida prematuramente na capital das Espinharas. Em Patos, o ‘Louro do Jabre’ costumava freqüentar a livraria de Antônio Pereira de Moraes - onde adquiria as novidades do mundo literário - e o ‘Grêmio’, que era “um clube da elite, muito freqüentado por uma facção política da cidade”.
Apesar de ser conhecido como uma personalidade polêmica e combativa, sua participação na vida política patoense resume-se ao fato de ter comandado uma caravana de Patos até João Pessoa, em 1940, para solicitar do interventor Ruy Carneiro a nomeação do professor Pedro Torres para ocupar a Prefeitura local, pleito no qual foi prontamente atendido.
Neste mesmo ano, Allyrio publicou seu quarto livro - ‘Bolsos Vazios’ -, inaugurando “uma nova fase do romance no Bra­sil”, deixando de lado a “aridez dos documentos” e realizando “um romance naturalista”, que focaliza “em páginas ardentes”, sua vida “com todas as suas incertezas, as suas incompatibilidades ambientais, e os seus conflitos culturais”.

BOLSOS VAZIOS,  1940

Por esse tempo, passou a colaborar nas páginas d‘A União’, jornal estatal paraibano. Em João Pessoa, no início de 1945, dirigiu ‘O Estado da Paraíba’, matutino independente e noticioso. Ainda em finais daquele ano, convidado, tornou-se crítico literário do jornal ‘A Manhã’, editado no Rio de Janeiro, para onde transferiu-se. Mas, sentindo que o ambiente lhe era incompatível, por não poder exercer sua independência intelectual, ali permaneceu por pouco tempo.
Em julho do ano seguinte ingressou nos ‘Diários Associados’. E, com total liberdade de expressão passou a escrever para ‘O Jornal’, onde manteve por quase três anos uma coluna sob o título ‘A Ronda dos Livros’. No entanto, sentindo que o Allyrio, “era nome muito doce”, “passou a assinar os seus artigos com o pseudônimo de Monte Brito”.
No Rio de Janeiro, Allyrio Wanderley publicou seu quinto livro - ‘Ranger de dentes’ - romance que traz o subtítulo ‘Crônicas de um ocaso’ (1945). Nele, o autor retrata com nitidez o sentimento humano, fazendo com que “seus personagens nos convençam”, que “são homens com quem vivemos”. Com este livro, iniciou “uma série de romances autônomos, com um cenário comum, desenrolando-se todos na mesma época e todos com a mesma orientação filosófica”. Assim, produziu ‘As Formigas’ e ‘Espinho Branco’, que ficaram inéditos. O primeiro, traz como subtítulo ‘Crônicas de um Ocaso II’.

RANGER DE DENTES, 1945

Nos início dos anos 50, Allyrio retornou à Paraíba, fixando-se em João Pessoa, onde, logo cedo, passou a militar na imprensa local, atuando como colunista nas páginas d‘O Norte’. Seguidamente, colaborou no ‘Correio da Paraíba’ (1953) e no ‘Paraíba Agrícola’ (1954), bem como no ‘Diário de Notícias’ (1953) e da ‘Gazeta de Alagoas’ (1953), estes últimos, editados no Rio de Janeiro e em Maceió, respectivamente.
Seu último livro - ‘Os Carneiros Cinzentos’ - foi publicado em 1956, através da Editora Teone, de João Pessoa. Nele, o autor mostra-se mais amadurecido, mas continua admirável, mantendo o “manejo plástico da língua”, numa forma que somente é sua.

OS CARNEIROS CINZENTOS, 1956

Nesse mesmo ano, nas eleições estaduais realizadas no dia 3 de outubro de 1954, disputou sem êxito uma cadeira na Assembléia Legislativa, pelo Partido Social Democrático, oportunidade em que obteve uma insignificante votação. Por esse tempo, acentuaram-se os sintomas do mal que o levaria para o túmulo.
Ainda em 1953, quando das comemorações do 50º aniversário da elevação de Patos à categoria de cidade, Allyrio compareceu à sua terra natal, oportunidade em que, durante a inauguração do marco comemorativo, localizado na atual Praça Edvaldo Motta, diante do governador João Fernandes Lima e de grande número de populares, fez um estudo histórico, abordando a evolução social da ‘Capital da Espinharas’.

ALLYRIO WANDERLEY

Lamentavelmente, Allyrio não viveu o suficiente para ver o reconhecimento de sua obra literária. O homem forte e combativo que era, foi aos poucos vencido pelas surpresas da vida e vitimado por uma embolia cerebral, faleceu às 11h30min do dia 15 de janeiro de 1955, em sua residência, no bairro Santa Júlia, na capital paraibana. Em seus últimos momentos, foi assistido pelo Dr. João Gonçalves Medeiros, de quem era amigo próximo.
Seu corpo, em câmara ardente, foi exposto por todo o dia no salão nobre da ‘Associação Paraibana de Imprensa’. Ao referido velório, acorreram várias figuras do mundo literário paraibano.
Transladados para a cidade de Patos, os restos mortais de Allyrio Meira Wanderley foram sepultados no Cemitério São Miguel, no Bairro do Belo Horizonte. A beira de seu túmulo, falaram, entre outros, o advogado José Antônio Urquiza e o acadêmico Ronald de Queiroz. Na Câmara Federal, seu falecimento foi lembrado pelo deputado Ernani Sátyro. Em Patos, o prefeito Darcílio Wanderley assinou o Decreto nº 1, estabelecendo luto oficial de três dias, em todo o município.
O regionalismo é, pois, algo que marca a produção literária do ‘Louro do Jabre’. Mas, sua obra é diferente. Nela, existe uma transfiguração telúrica, “distante, porém, daquelas imagens da paisagem e da terra, daquelas sentimentais considerações sobre a dificuldade e a miséria da existência sertaneja”.
Em sua obra, Allyrio tenta explicar as “derivações do caráter da vida coletiva e individual, do atraso de uma civilização que está crescendo”, tomando por base os fatos físicos e as condições econômicas. E, “apesar de ter surgido como escritor na década de 30, portanto na segunda fase do Modernismo, Allyrio Wanderley não dispensa, em sua obra de ficção, muitos elementos da narrativa do século passado (XIX), precisamente da prosa naturalista”.
Primando por narrativas que possuem como pano de fundo um cenário de miséria e injustiça social, a obra literária de Allyrio Wanderley “segue os padrões tradicionais do realismo, buscando a linearidade da ação, a descrição em detalhe e os cortes de natureza analítica e filosófica, em que tanto se esmera o escritor paraibano”.
Possuidor de uma linguagem cheia de símbolos e imagens, colecionou inúmeros desafetos em sua vida jornalística e literária. Como homem de letras, ele foi um “gênio enigmático e profundo, impregnado de arte e de filosofia, de Dante como de Marx, que mal se adaptava aos modestos ares da cultura da Paraíba”. Era, pois, “cheio de conhecimentos e livros, de força original, defeitos e talentos grandes”. E, em síntese, foi “uma figura algo suspeita, temida e admirada”.
Romancista, poeta, teatrólogo, ensaísta, crítico literário, sociólogo, jornalista e conferencista, “toda sua obra está marcada por uma cons­tante luta em favor dos direitos do homem, o que lhe dá um caráter de universalidade”. No entanto, “a figura de Allyrio e a sua obra ressentem-se, sem dúvida, da falta de um estudo aprofundado sobre sua importância e significação no contexto da literatura brasileira, em geral, e paraibana, em particular”.
Homem inteligente e de imaginação fértil, Allyrio Meira Wanderley teve a coragem e a ousadia de externar seu pensamento, abalando as gerações de sua época e “não sabemos por que o seu nome, que outrora era manchete, pelo brilho de sua pena, e pela exposição autêntica de suas obras, ficou re­legado ao esquecimento”.
Em Patos, cidade que lhe serviu por berço, o nome do maior romancista, jornalista e crítico literário nascido nas Espinharas é quase desconhecido/esquecido, na atualidade. Aqui, lamentavelmente, apenas uma biblioteca municipal e um pequeno grupo escolar, levam seu nome, muito pouco, para quem, segundo alguns, é “a maior inteligência nascida na cidade de Patos”.
Patrono da cadeira nº 37, da Academia Paraibana de Letras, Allyrio Meira Wanderley é uma figura ímpar na literatura paraibana, que precisa melhor ser estudo para ser compreendido e valorizado. Possuidor de um estilo próprio e imitável, ele “fez de sua obra veículo de denúncia social e instrumento crítico do conservadorismo ideológico”.
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Artigo publicado no jornal 'A Voz do Povo', Patos-PB, edição de setembro de 2004.

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