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quarta-feira, 21 de março de 2012

PARAIBANOS ILUSTRES - II

ARGEMIRO DE FIGUEIREDO


José Ozildo dos Santos


A
dvogado e político paraibano dos mais ilustres, nasceu a 9 de março de 1901, em Campina Grande, sendo filho do casal Salvino Gonçalves de Figueiredo e Luiza Viana de Figueiredo. Em Campina Grande, fez seus estudos básicos. Transferindo-se para a capital do Estado, cursou o secundário no antigo ‘Liceu Paraibano’ e ingressando na tradicional Faculdade de Direito do Recife, diplomou-se na turma de 1924.

sábado, 17 de março de 2012

A INFLUÊNCIA DO POSITIVISMO NO BRASIL

José Ozildo dos Santos
Rosélia Maria de Sousa Santos
1 APRESENTAÇÃO

O presente trabalho tem por objetivo apresentar uma síntese sobre o positivismo e sobre a obra de Auguste Comte, considerado o ‘pai’ desse movimento filosófico, que surgiu no século XIX. Naquela época, as descobertas científicas e os avanços técnicos faziam crer que o homem podia dominar a natureza. No entanto, o positivismo opôs às abstrações da teologia e da metafísica, sendo, portanto, contrário àquele pensamento.
Em seu aspecto crítico, o positivismo repudia toda especulação em torno da natureza da realidade, que afirme uma ordem transcendental não-suscetível de demonstração pelos dados da experiência.

domingo, 11 de março de 2012

O RIO GRANDE DO NORTE NA CRÔNICA POLICIAL DO SÉCULO XIX

ASSASSINATOS EM CEARÁ-MIRIM
(Dezembro de 1879)

José Ozildo dos Santos

D
e 1867 a 1869 houve uma redução no número de crimes cometidos no Rio Grande do Norte. Dos 34 homicídios praticados neste período, dois que tiveram como palco o município de Ceará-Mirim merecem destaque. No dia 24 de dezembro de 1869, quando a população daquela próspera cidade comemorava o nascimento do menino Jesus, foi abalada com a notícia do assassinato do ancião José Joaquim Soares da Câmara, membro de uma das mais importantes famílias da região.
O crime foi praticado pelo escravo Joaquim (de propriedade da vítima), que contou com o auxílio de Agostinho de Barros Torres. O fato foi relatado pelo Chefe de Polícia ao Presidente da Província, nos seguintes termos:
“No dia 24 de dezembro próximo passado descançava  tranqüilo em sua casa, no sítio Tamanduá, o ancião proprietário José Joaquim Soares da Câmara, cuja família ali o havia deixado só em companhia de um menor, por ter ido à sede da villa ouvir a missa do Natal.
Nesse dia, Joaquim, escravo, que andava fugido com receio de ser castigado por faltas, que commettera como vaqueiro da fazenda do seu senhor concebeu o malévolo e criminoso intento de assassina-lo. E assim, para realisar tão nefando projecto convidou a Agostinho de Barros Torres, irmão de uma mulher com a qual entretinha relações illícitas.
Ao fechar da noite, depois de se haverem emboscado perto da casa, conseguiram invadi-la pela porta de detraz, e encontrando a victima no corredor, Agostinho desfechou-lhe uma tremenda cacetada sobre a cabeça, dando-lhe o escravo Joaquim por sua vez outra cacetada, das quaes instantaneamente succumbio aquelle infeliz.
Para cumulo de perversidade amarraram o cadáver pelo pescoço com uma corda de laçar gado e o suspenderam do chão atado em um torno, collocado na parede. Depois roubaram-lhe todo o dinheiro e papeis importantes, taes como títulos de divida, que existiam em casa.
Tendo-se evadido os autores de tão atroz, delicto, foram, depois em poucos dias capturados, mediante os esforços empregados pela polícia (...)”.
Dois dias depois desse sinistro acontecimento, ocorreu um novo crime naquele município: uma jovem de nome Joana foi assassinada por seus irmãos José e João Pedro de Castro. O fato ocorreu no lugar denominado Veríssimo, localizado nos subúrbios da antiga vila de Ceará-Mirim.
Os acusados, aproveitando-se da ausência de seus pais, por motivo de honra de família, assassinaram a irmã, “estrangulando-a com uma corda e por meio de compressões cujos vestígios foram observados no corpo de delito a que se procedeu”.
Presos, os irmãos José e João Pedro de Castro confessaram o horroroso crime que praticaram, declarando que amarraram a irmã depois de morta pelos pés e pelo pescoço, e, com o auxílio de um pau, conduziram-na para o mato, onde sepultaram o corpo da pobre moça numa cova rasa, previamente aberta. Dias depois, o referido cadáver foi exumado pelo delegado de polícia local, Major Miguel Ribeiro Dantas Júnior, responsável pelas prisões dos irmãos criminosos.
Pronunciados, os assassinos do ancião José Joaquim Soares da Câmara foram presos e recolhidos à cadeia de Ceará-Mirim. Ali, misteriosamente, o escravo Joaquim faleceu no dia 30 de junho de 1870, seis meses após assassinar seu antigo dono. O processo contra o segundo envolvido não foi apresentado.
Quanto aos irmãos José e João Pedro de Castro foram levados a juramento no dia 12 de setembro daquele mesmo ano de 1870. O primeiro, foi condenado à pena de morte, o segundo, à prisão perpétua.

sábado, 10 de março de 2012

A PRESENÇA NORDESTINA NO FOLCLORE NACIONAL - II

ABELARDO DUARTE

José Ozildo dos Santos
N
asceu na capital alagoana no dia 18 de maio de 1900. Diplomou-se pela Faculdade de Medicina da Bahia (1926), após defender a tese ‘Os grupos sanguíneos na Bahia’. Quando acadêmico foi auxiliar no Laboratório de Patologia Geral.
Volvendo à sua terra natal, ali iniciou suas atividades profissionais como médico. Em pouco tempo, tornou-se um dos nomes mais expressivos da capital alagoana.

Abelardo Duarte

Homem de reconhecida cultura, o Dr. Abelardo Duarte passou a colaborar na imprensa de Maceió. Assim, ingressando no mundo das letras, além de jornalista de grande talento, revelou-se crítico literário, ensaísta, folclorista, biógrafo e historiador.
Em 1935, publicou no Rio de Janeiro o livro      ‘Grupos sanguíneos da raça negra’ (Estudos Afro-Brasileiros), fruto de um trabalho apresentado ao ‘I Congresso Afro Brasileiro’, reunido no Recife, no ano anterior.
No final da década de 1940, o Dr. Abelardo Duarte lançou através da imprensa da capital alagoana a idéia de se fundar em Maceió uma faculdade de medicina. Aos 3 de maio de 1950, seu sonhou tornou-se realidade e a Faculdade de Medicina de Alagoas foi fundada, passando a ser mantida por sociedade civil.
Em janeiro do ano seguinte, abordando o referido fato numa entrevista publicada nas páginas do Jornal de Alagoas’, afirmou: “sei que, por mim lançada, após madura reflexão, a idéia de fundar-se uma Faculdade de Medicina entre nós, encontrou eco, fez prosélitos, criou corpo e, por fim, forma jurídica. E de minha residência à Avenida Fernandes Lima, onde ocorreram as primeiras confabulações, os primeiros serões noite a dentro, em pouco, constituída a sua primeira Comissão Organizadora, acrescido o número de adeptos com novas adesões, surgia a nossa Faculdade”.
Professor-fundador da Faculdade de Medicina de Alagoas, anos mais tarde, tornou-se se o primeiro diretor do HU–UFAL. Considerado um dos mais destacados representantes do pensamento de Alagoas, Abelardo Duarte foi Secretário Perpétuo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, Sócio Honorário do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, membro Academia Alagoana e da Academia Carioca de Letras, além de integrar de inúmeras outras instituições, publicou diversos livros.
Em 1975, durante as comemorações do sesquicentenário do nascimento de D. Pedro II, promovidas pelo Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, o professor Abelardo Duarte lançou o livro Dom Pedro II e Dona Teresa Cristina nas Alagoas: A viagem realizada ao Penedo e outras cidades sanfranciscanas, à Cachoeira de Paulo Afonso, Maceió, zona lacustre e região norte da Província (1859/1860)’, que foi bastante aceito pela crítica provinciana.
Como folclorista, estreiou em 1957, quando publicou ‘Um folguedo do povo: o Bumba-meu-boi’(Ensaio de História e Folclore). No ano seguinte, publicou o estudo ‘Negros muçulmanos nas Alagoas: os Malês’, dando uma significativa contribuição à etnografia alagoana, abrindo pistas preciosas para futuras pesquisas.
Seu segundo livro no campo do folclore - Folclore negro das Alagoas’ - apareceu em 1974. Este seu trabalho, é, sem dúvida, o mais consistente. A partir da publicação dessa obra, Abelardo Duarte passou a ser incluído na vertente de estudos sobre o folclore nacional.
Professor emérito da Universidade Federal de Alagoas, Abelardo Duarte faleceu no dia 3 de março de 1992, em Maceió, aos 92 anos de idade incompletos.

domingo, 4 de março de 2012

PARAIBANOS ILUSTRES - I

EPITÁCIO LINDOLFO DA SILVA PESSOA


José Ozildo dos Santos


P
olítico, professor universitário, magistrado, jornalista, jurista, nasceu a 23 de maio de 1865, em Umbuzeiro, Província da Paraíba, sendo filho do casal José da Silva Pessoa e Henriqueta Barbosa de Lucena. Órfão aos sete anos de idade, passou a viver sob a responsabilidade de seu tio materno - o futuro Barão de Lucena. Pensionista da Província de Pernambuco, no antigo Liceu Pernambucano, fez seus estudos básicos (1874-1881). E, ingressando na tradicional Faculdade de Direito do Recife, diplomou-se em Ciências Jurídicas e Sociais, na turma de 1886.
Era ainda acadêmico, quando foi nomeado Promotor Público Interino de Ingá-PB (1883). Formado, passou a ocupar o mesmo cargo na Comarca de Bom Jardim, no interior da Província de Pernambuco (1886), tornando-se, posteriormente, titular da promotoria da cidade do Cabo-PE (1886-1889).

Epitácio Pessoa

Abolicionista e republicano nato, em meados de 1889, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde passou a atuar como advogado, participando ativamente das campanhas de propagandas republicanas. Proclamada a República, retornou à Paraíba nomeado Secretário Geral do Governo Venâncio Neiva.
Em 1891, elegeu-se deputado à Assembléia Nacional Constituinte. Durante os trabalhos constituintes, teve uma atuação destacada, merecendo elogios de seus colegas parlamentares e da imprensa nacional. Professor catedrático da Faculdade de Direito do Recife (1891-1902), revelou-se uma das maiores culturas jurídicas do país. No Governo Campos Sales, foi Ministro da Justiça e Negócios Interiores (1898-1901) e no exercício de suas funções iniciou a elaboração do Código Civil Brasileiro.
Deixando o Ministério da Justiça, foi designado Ministro do Superior Tribunal Federal. Nessa condição, assumiu a Procuradoria Geral da República no período de 1902 a 1905.  Em 1909, a convite do Barão do Rio Branco, elaborou o projeto de Código Internacional Público. Em princípios de 1912, presidiu a Junta Internacional de Jurisconsultos, reunida no Rio de Janeiro. Aposentado do serviço público, retornou ao cenário político paraibano, eleito senador da República (1912-1919). No Senado Federal, contribuiu para a aprovação do projeto do Código Civil, transformado em lei, a 1º de janeiro de 1916.
Em dezembro de 1918, foi convidado para presidir a Delegação Brasileira à Conferência de Paz, a ser realizada em Versalhes. Encontrava-se na França, quando teve seu nome homologado em convenção para disputar a Presidência da República.
Eleito presidente do Brasil, retornou ao país em maio de 19119 para organizar seu governo, que foi pautado por grandes realizações no Nordeste, principalmente, voltadas para vencer o drama das secas.
Em novembro de 1923, logo após concluir seu mandato presidencial, foi eleito Juiz da Corte Internacional de Justiça, sediada em Haia, Holanda. Em 1924, foi reconduzido ao Senado Federal, por seu estado natal. No entanto, teve seu mandato prejudicado com a dissolução do Congresso Nacional, por ato do Governo Revolucionário, instalado no país a 4 de outubro de 1930.
Epitácio Lindolfo da Silva Pessoa faleceu a 13 de fevereiro de 1942, aos 77 anos de idade incompletos, em Petrópolis, Estado do Rio de Janeiro. Magistrado de reconhecida cultura, possui uma extensa bibliografia. No Senado Federal, seu nome, encontra-se inserido na galeria daqueles que honram aquela Casa.

quinta-feira, 1 de março de 2012

A FREGUESIA DE NOSSA SENHORA DA GUIA,
DO ACARI E SEU PRIMEIRO VIGÁRIO

José Ozildo dos Santos

Em idos de 1725, o sargento-mor Manoel Esteves de Andrade, oriundo da capital paraibana, fixou-se no Acari, após adquirir o sítio ‘Saco dos Pereiros’, por compra feita ao seu parente Nicolau Mendes da Cruz. Sentindo-se só, aquele desbravador (que era solteiro), freqüentemente chamava sua mãe para residir com ele no Seridó. Esta, muito católica, explicava ao filho que somente deslocaria-se para aquele sertão inculto, quando existisse nas proximidades de sua fazenda uma capela, onde podesse professar sua fé cristã.
Assim, em 1736, visando atender ao pedido de sua genitora, Manoel Esteves endereçou uma petição a dom José Fialho, Bispo de Olinda, a cuja diocese era subordinado o território norte-riograndense, solicitando autorização para erigir uma capela, no lugar chamado ‘Acari’, recebendo, no final, a devida:

“Ilustríssimo senhor. Dis o Sargento Mor Manuel Esteves de Andrade morador no districto do curato de Piancó que elle pretende erigir hua capella com a invocação de N. S. da Guia, no lugar xamado Acari districto do dito curato, para o fim de sua alma e dos mais moradores circunvizinhos, por ficarem distantes de sua Matriz oito dias de viagem, para cujo fim tem junto muita pedra, lhe fez a escritura do patrimonio que apresenta em meia legoa de terra que rende todos os annos de arrendamento deis mil reis, os quais aplica p.ª os paramentos, reparação, fabrica da dita capella por tanto pide a vossa Illustrissima lhe faça mercê atendendo ao muito serviço de Deos que se seguirá com a erecção desta capella conceder-lhe licença para apuder erigir, estando de todo acabada, e ornada com os paramentos necessários o seu Reverendo Parocho a possa benzer e nella celebrarem-se os divinos officios e já os moradores daquelle lugar alcansarão licença que apresentão para apuderem erigir por ter sido vossa Illustrissima informado do Reverendo Parocho ser util, em numerario, e receberá mercê. Para provisão para se erigir a capella na forma do estilo. Olinda, onse de Novembro de mil sete centos e trinta e sete estava a firma do Illustrissmo Senhor Bispo. Dom José Fialho por mercê de Deos, e da Sancta e Apostolica Bispo de Pernambuco, e do Concelho de sua Mag.e aq.m Deos goarde e d.a pela presente concedemos licença ao Sargento Mor Manoel Esteves de Andrade, para que possa erigir a capela de N. S. da Guia no lugar xamado Acari do curato de Piancó erecta na forma da nossa constituição dada em Olinda sob nosso signal, e sello aos dose dias do mês de Novembro de mil sete centos e trinta e sete, eu Miguel Alvares Lima escrivão da Câmara Episcopal o escrevi estava a firma do Illustrissimo Senhor bispo sello valla sem sello ex causa seis mil tresentos e vinte. Monteiro Registrada a folhas cento e setenta e nove do Livro trese do Registro Olinda dose de Novembro de mil sete centos e trinta e sete, etc, etc”.
Após receber a autorização, o fundador de Acari retornou ao Seridó e logo tratou de iniciar a construção da capela de Nossa Senhora da Guia, que tornou-se o marco da evolução histórica desta cidade.
Concluindo a capela, Manoel Esteves voltou à presença daquele prelado pernambucano, apresentando-lhe essa segunda petição:

“Diz o Sargento Mor Manoel Esteves de Andrade morador do certão do Acari Freguesia do Piancó donde elle Sup.e tem erecto hua capella invocação N. S. da Guia com provisão de vossa Illustrissima, para effeito de se benser por esta acabada, e ter os paramentos necessários. Só lhe falta provisão pide a vossa Illustrissima seja servido mandar provisão para se benser a dita capella estando na forma da constituição pelo seu Reverendo Parocho, ou sacerdote de sua licença pelos longes do dito lugar e se puder diser nella missa, e os mais divinos officios, e receberá mercê”.

No dia 14 de abril de 1738, dom José Tomás deu o seguinte despacho:  Passe provisão para se benser a capela na forma que se pede tendo ela os requisitos necessarios”. O documento final recebido pelo sargento-mor Manoel Esteves de Andrade tinha o seguinte teor:

“Concedemos licença ao sargento mor Manuel Esteves de Andrade, para que possa erigir a Capela de Nossa Senhora da Guia no lugar chamado Acari do Curato de Piancó, ercta na forma da nossa Constituição”.

No entanto, a ação pioneira do sargento-mor Manoel Esteves de Andrade não parou por aí. Retornando ao Acari, tratou de construir uma casa, ao lado esquerdo da capela, destinada à residência dos futuros párocos e sacristães. Esta casa, considerada a primeira do Acari, resistiu até 1908, quando foi demolida para dá lugar ao moderno Grupo Escolar Tomás de Araújo, onde, anos mais tarde, passou a funcionar a Prefeitura Municipal.


Igrejinha do Rosário, tombada pelo IPHAN 
              Lamentavelmente, o século XVIII é uma página obscura na história da cidade de Acari. Nada, exceto as sesmarias concedidas na região, até o presente foi divulgado e esta falta de documentos, nos impossibilita de relacionar os sacerdotes que foram capelães nessa localidade seridoense, durante os noventa e sete anos em que a Igreja de Nossa Senhora da Guia, permaneceu reduzida à condição de capela.
Nessa condição, ela integrou a freguesia de Nossa Senhora do Bom Sucesso do Piancó - sediada na atual cidade de Pombal, no alto sertão paraibano - até a criação da freguesia de Nossa Senhora Santana do Seridó, em Caicó, ocorrida a 15 de abril de 1748, em cumprimento as disposições contidas na provisão de 20 de fevereiro do ano anterior, expedida por dom frei Luís de Santa Teresa, à época, bispo de Olinda.
Entre os sacerdotes que passaram pela povoação de Acari, o mais antigo que se tem conhecimento é o padre José da Costa Soares, que a 15 de novembro de 1762 obteve por sesmaria uma data de terra, entre o rio Seridó e o Poço (sítio) da Raposa, na ribeira do Quipauá, no atual município de Santana do Seridó e que em 1776, exercia seu sacerdócio como capelão na próspera povoação, sede da futura freguesia de Nossa Senhora da Guia.
Lentamente, a pacata povoação do Acari foi ganhando importância e delineamento urbano. Em meados de 1832, para ali retornou o padre Tomás Pereira de Araújo, ordenado na capital baiana, aos 17 de março daquele ano.


Padre Tomás Pereira de Araújo

Nascido a 15 de janeiro de 1809, o padre Tomás Pereira foi o primeiro acariense a ser distinguido com o título de sacerdote. Filho do casal Antônio Pereira de Araújo e Maria José Medeiros, pelo lado paterno, era neto de José Damasceno Pereira e Maria dos Santos Medeiros, e, materno, de Tomás de Araújo Pereira (primeiro presidente da província do Rio Grande do Norte) e de Teresa de Jesus.
Seus estudos eclesiásticos foram realizados no Seminário de Nossa Senhora da Graça, sediado em Olinda, província de Pernambuco, onde matriculou-se em 1826. No entanto, como dom João da Purificação Marques Perdigão - bispo de Olinda - encontrava-se ausente de sua diocese, o jovem sacerdote teve que dirigir-se para a cidade de Salvador, onde recebeu a sagrada ordem do presbiterato das mãos do arcebispo dom Romualdo Antônio de Seixas, tendo como companheiro de ordenação, o padre Joaquim Félix de Medeiros, também natural do Seridó potiguar.
Ao retornar ao Acari, aquele sacerdote foi recebido festivamente e após celebrar sua primeira missa na capela de Nossa Senhora da Guia, tornou-se seu capelão, em substituição ao padre Manoel Cassiano Pereira da Costa.
Prestigiado em seu meio, o padre Tomás Pereira ingressou na política e a 10 de novembro de 1834, elegeu-se deputado à primeira legislatura da Assembléia Legislativa Provincial (1835-1837). No exercício de seu primeiro mandato parlamentar, integrou a Comissão de Negócios Eclesiásticos. Por sua iniciativa e empenho, foi criada a Freguesia de Acari, através da Lei Provincial nº 15, de 13 de março de 1835, sob a invocação de Nossa Senhora da Guia, sendo esta a sua primeira conquista como deputado provincial e legítimo representante dos interesses de seus conterrâneos.
No dia 17 daquele mês e ano, por provisão assinada pelo padre Francisco de Brito Guerra - visitador provinciano - foi nomeado vigário encarregado da Freguesia de Acari, cabendo-lhe a missão de instalar aquela nova sede paroquial, a 16 de abril seguinte.
Antes, porém, em janeiro daquele ano de 1835, o padre Tomás Pereira havia sido designado vigário encarregado da freguesia de Nossa Senhora das Mercês, sediada na povoação de Serra de Cuité, província da Paraíba, funções que desempenhou por um ano e que a partir do mês de março, passou a acumular com a regência da Freguesia de Nossa Senhora da Guia, de Acari.
Ainda por sua ação parlamentar, conseguiu a aprovação do projeto, que convertido em Lei, sob o nº 16, de 18 de março de 1835, aprovou a criação da Vila do Acari, instituída dois anos antes, pelo Conselho da Província.


Primitiva Igreja Matriz de Nossa Sra. da Guia, hoje Igreja do Rosário

Em 1836, o padre Tomás Pereira de Araújo candidatou-se ao cargo de vigário colado da freguesia sob sua regência. Para a instrução do processo de habilitação, sobre sua conduta e modos de vida, atestaram os vereadores da Câmara Municipal do Acari. Em ato contínuo, “o bispo autorizou-o a opor-se por despacho de 26 de janeiro de 1836, propondo-o em primeiro lugar para o Acari, em ofício ao presidente da Província, datado de 13 de julho. O presidente indicou-o em 30 de agosto de 1836. Ainda neste 1836 foi nomeado”.
Como já ocupava a referida freguesia, o padre Tomaz continuou n exercício de suas funções e oficialmente somente foi investido no cargo de vigário colado da freguesia de Nossa Senhora da Guia, aos 18 de maio de 1839, por procuração, oportunidade em que lavrado o seguinte termo:

“Aos 18 de maio de 1839, processa-se a cerimônia de colação na Matriz do Corpo Santo, do Recife, onde o delegado do Bispo, D. Marques Perdigão, fez a imposição do barrete ao diácono Francisco Jorge de Souza, procurador do Pe. Thomaz de Araújo, que, pelo mesmo fez a profissão de fé e juramento... Finalmente mandamos passar a presente em virtude da qual havemos ao dito Padre Thomaz Pereira de Araújo por ‘collado; e confirmado na villa do Acary, deste nosso Bispado na forma do direito e de nossa Constituição, e lhe damos jurisdição ordinária para poder administrar todos os sacramentos aos seus fregueses, aos quais mandamos sob pena imposta pelo Direito o receber como seu verdadeiro parocho”.

Político influente, filiado à hostes do Partido Liberal, o padre Tomás de Araújo retornou à Assembléia Provincial reeleito para as legislaturas de 1838-1839, 1840-1841, 1848-1849 e 1860-1861. Naquela Casa Legislativa, durante as sessões de 1849, foi substituído pelo suplente padre Luís da Fonseca e Silva.
Em agosto de 1864, recebeu em sua paróquia a visita do padre mestre Dr. José Antônio Maria Ibiapina - o apóstolo do Nordeste - que, em peregrinação, ali esteve realizando suas santas missões, fundando uma Casa de Caridade, que teve vida efêmera.


Igreja Matriz de Nossa Senhora da Guia 

Sacerdote dedicado, auxiliado por seus paroquianos, no período de 1859 a 1865, construiu a atual Igreja Matriz de Acari, que, à época, custou a importância de cem contos de réis, e, por suas proporções e tamanho, ainda hoje é a segunda maior do interior do Estado.
Na época, a imagem de Nossa Senhora da Guia, encontrava-se guardada na Igreja do Rosário. Sua translação para a nova Matriz, procedeu-se no dia 5 de agosto de 1867, oportunidade em que realizou-se uma magnífica festa, que “prolongou-se até o dia 16 daquele mês, com a presença, calculadamente, de oito mil pessoas, foi mister a construção de ruas de ranchos de palhas pela cidade”, para acomodar os visitante, fato, que durante muito tempo, foi lembrado pelo povo acariense.
À essa grande cerimônia compareceram 19 sacerdotes que não mediram as fadigas de uma jornada tão áspera até o sertão comburido pela inclemência do sol, vencendo óbices, a fim de reverenciarem a Virgem com as solenes cerimônias litúrgicas da benção de uma nova Matriz construída pelo esforço dos paroquianos e devotos das circunvizinhanças, graças à feliz iniciativa do vigário daquela centenária paróquia”.    
Homem culto, o padre Tomás era versado na língua latina e tido como excelente orador sacro. Inicialmente, regeu a Freguesia de Acari de 16 de abril de 16 de abril de 1835 a 4 de junho de 1870, quando foi substituído pelo padre Luís Marinho de Freitas.
De 1870 a 1873, esteve novamente como vigário encarregado da freguesia de Nossa Senhora das Mercês, sediada na vila de Serra do Cuité, no Curimataú paraibano, que à época, limitava-se com a antiga freguesia de Acari. No entanto, a 3 de agosto de 1873, reassumindo sua antiga paróquia, permaneceu como vigário colado de Acari até 2 de maio de 1893, quando doente, afastou-se de suas funções, falecendo no dia 13 de dezembro daquele ano. Em seus últimos momentos foi assistido pelo padre José Antônio da Silva Pinto, que oficiou suas exéquias.


Padre Tomás Pereira

Fugindo dos princípios da Igreja Católica, o padre Tomás Pereira deixou descendência no Seridó. E, espelhado, talvez, no exemplo do padre Francisco de Brito Guerra, em vida, no dia 7 de janeiro de 1869, compareceu perante um tabelião público na vila de Acari e assinando uma escritura de perfilhação, alegando fragilidade humana, reconheceu como seus, os seguintes filhos: Gercina Maria de Jesus, Teodora Maria de Jesus (filhas de Maria Custódia do Amor Divino); Maria Senhoria da Conceição (filha de Joaquina Senhorinha da Conceição); Manoel de Santana, Maria Inácia da Guia e Ana Maria da Guia (filhos de Antônia Maria da Conceição), “frutos de uniões clandestinas, proibidas pela Igreja”, que tornaram-se seus herdeiros e sucessores.
Por esta atitude, foi bastante censurado, dentro e fora da Igreja, fato que obrigou-o afastar-se de sua freguesia, passando a reger interinamente a Matriz de Nossa Senhora das Mercês, da vila de Serra do Cuité. Após promover o reconhecimentos de seus filhos o padre Tomás Pereira de Araújo “ainda viveu 24 anos e, certamente, transpassou-se com a consciência tranqüila por ter confessando publicamente o pecado cometido e, como cidadão, praticado um ato de justiça”.
Conta-se, que na juventude, o padre Tomás fora “um rapaz um pouco endiabrado e incorreu, muitas vezes nas iras do avô que depois de uma dúzia de bolos, trancava-o na cafua, tortura maior que a da palmatória. Quando em 1833 (?) o padre Tomás tirou, em concurso, a freguesia do Acari, o velho Tomás de Araújo, já cego, começou a exigir que o ouvisse de confissão. O padre, relutava, alegando o respeito filial, mas o velho replicava: O senhor como vigário da freguesia, não é meu neto é o meu pastor que tem a obrigação de atender a todos os penitentes que o procurarem. Não houve de evitar a confissão e o padre, lembrado talvez do castigo um tanto desumano, deu ao postulante a penitência de passar meia hora trancado na cafua. Tomás de Araújo cumpriu a pena e, ao sair da cafua, mandou chamar um pedreiro e demoliu-a”.

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