A PEDRA DO LETREIRO DA FAZENDA
ANGICOS,
EM EMAS - PB
José Ozildo dos Santos
Rosélia Maria de Sousa Santos
Almair de Albuquerque Fernandes
Localizada
na Fazenda Angicos e distante cerca de 2,5 km da cidade de Emas, a Pedra do Letreiro, ou melhor, o Sítio Arqueológico Angicos é o mais
importante do município. Formado por duas grandes rochas arredondadas, nele é
possível encontrar pinturas e gravuras rupestres, existindo, em alguns locais,
sobreposição de caracteres.
Pela
quantidade, pela visibilidade, contornos e definição dos caracteres, o
mencionado sítio possui um grande valor arqueológico. No painel principal, localizado cerca de 1,10
m acima do nível do solo, estende-se um conjunto de símbolos geométricos, bem
definidos, que mesclam gravuras e pinturas.
Na
parte superior, bem no centro do referido painel, algo chama a atenção.
Trata-se de uma pintura, que esboça algo semelhante a uma cruz, envolta a
diversos outros pequenos símbolos, a maioria com visibilidade comprometida.
Esse
painel se desenvolve por toda a lateral da pedra suporte que foi polida em sua
base, antes da confecção dos caracteres que apresentam. À semelhança do
primeiro bloco, o segundo também é completamente coberto de caracteres, tanto
pinturas quanto gravuras. No entanto, quando comparado com o primeiro bloco,
anteriormente descrito, apresentam um maior número de pinturas e gravuras.
O sítio
mostra gravações com frequência de sinais geométricos (circulares e lineares),
apresentando-se mesclados no meio das pinturas rupestres, em ambos os blocos
rochosos.
As
gravações, em sua grande maioria, estão colocadas sobre as rochas
horizontalmente, com raros casos verticais. O mesmo ocorre com as pinturas.
Todas
as representações rupestres encontradas nesse sítio estão expostas às intempéries,
o que vem produzindo um elevado desgaste natural. Nele, não é notada nenhuma
pichação. Muitas das gravuras existentes na base, somente têm seus contornos
definidos quando observadas cuidadosamente.
A técnica de produção dos capsulares do
Sítio Angicos foi a gravação por polimento, executada por um instrumento
aguçado, que criou cavidades uniformes e circulares, com bordas bem definidas.
As
pinturas e gravuras existentes no referido município, possuem semelhança com as
encontradas em outras localidades do sertão paraibano, que "ocorrem principalmente em painéis horizontais, decorando outeiros
de grandes proporções quase sem deixar espaços livres".
Envoltas
pelas lendas populares, tais representações rupestres foram produzidas com
apurada técnica. Mas, a quem atribuir tão perfeitos detalhes em rocha tão dura
como o granito? Teriam sidos produzidos por uma comunidade pré-histórica, que
deixou os vestígios de sua passagem, gravados nas duras rochas?
Seriam vestígios deixados por fenícios, como
afirmou Ludovico Schwennhagen, pesquisador
austríaco que visitou a Paraíba copiando nossos caracteres rupestres e
promovendo palestras?
Na
concepção da professora e arqueóloga Gabriela Martin: "A tendência atual entre os
arqueólogos é não interpretar as representações rupestres e sim apenas
descrever o que há, o que se pode ver, procedendo-se a análise mais técnicas do
que interpretativas, utilizando-se critérios técnicos que valorizam saber-se como
grafismos foram realizados, quais os recursos matérias empregados e,
principalmente, quais os grafismos que podem ser considerados como
representativos de uma tradição rupestre determinada".
O Sertão
Paraibano é rico em registros rupestres. São gravuras e pinturas, que assumem
formas e tamanhos diferentes e encontram-se espalhadas por quase todos os
municípios da região, em serras, penhascos, cursos d'água e em outros lugares.
Dissertando sobre a característica temática das gravuras rupestres existentes
no nordeste brasileiro, principalmente, ao longo da cordilheira da Borborema, o
historiador e professor Wanderley de Brito, afirma que: "Não sabemos que razões impulsionaram estes
gravadores a decorar exaustivamente tão extensos lajedos. De composição
esdrúxula, estes tapetes pétreos de gravuras nos conduzem às mais profundas
reflexões sobre o universo cabalístico de nossos ancestrais e, diante do
testemunho de tão complexa cultura, que se precipitou na obscuridade, nos
sentimos um epifenômeno completamente destituído de referencial.
Sobre
a origem dessas intrigantes pinturas existem várias teorias, inclusive, aquelas
que escapam ao domínio da arqueologia e que afirmam serem tais caracteres,
vestígios deixados por alienígenas que visitaram a Terra em remotas eras. Tais
conjecturas não possuem embasamento científico e nem sustentação acadêmica.
A
arqueóloga Gabriela Martin, que já há vários anos vem estudando as gravuras e
pinturas rupestres do interior nordestino, ressalta que: "São conhecidas as dificuldades de relacionar-se
registros rupestres com a cultura material, identificadora dos grupos étnicos
responsáveis, pois muitas e muitas vezes, as pinturas e, ainda mais, as
gravuras rupestres, especialmente no Brasil, são a única variável visível que marca
a presença humana e identifica sítios arqueológicos. Muitos deles foram
pintados ou gravados, sem que as condições de permanência no local ou a escolha
seletiva de rochas ao longo dos cursos d’água, ofereçam condições de se obter
vestígios de cultura material factíveis de relacionamento seguros com os
registros".
No
entanto, é oportuno ressaltar que “os
primeiros conquistadores europeus ficaram perplexos ao encontrarem, pintados ou
gravados nas rochas, símbolos cujo significado os índios brasileiros desconheciam
e atribuíram a seres míticos sua confecção em remotíssimas eras.
Aproximadamente quatro séculos após sua descoberta, certo mistério envolve
ainda as inscrições rupestres brasileiras que os aborígines chamavam de
itaquatiaras”. Pois, essas “itaquatiaras,
virtualmente encontradas em todo o Brasil, ostentam inscrições gravadas ou
pintadas e gravadas e pintada. Estão situadas às vezes em locais comodamente
atingíveis ou em lugares alcantilados de acesso penosíssimo. Em algumas são
vistas figurações primitivas e em pequeno número, noutras, desenhos
artisticamente elaborados em grandes painéis no interior de grutas ou a céu
aberto”.
Mas,
quem foram os executores das gravuras e pinturas rupestres do município de
Emas? A teoria mais aceita é que tais vestígios do passado teriam sido obra dos
indígenas, "o que não quer dizer que
tenham sido executadas, obrigatoriamente, pela população que os portugueses
encontraram no Brasil no século XVI. Podem ter sido obra de grupos indígenas
extintos ou que não mais habitavam o local à época do descobrimento".
Independentemente de existir ou não uma
interpretação para as inúmeras pinturas e gravuras rupestres existentes no
município de Emas, urge conservá-las a todo custo. Pois, Quase todos esses
vestígios encontram-se a céu aberto e estão sujeitos às ações do intemperismo,
sofrendo um processo contínuo de desgaste.
A análise múltipla destas
pinturas/gravuras proporcionará respostas também múltiplas, permitindo que a sociedade atual tenha um maior conhecimento da
sociedade pré-histórica que realizou tais representações.
FONTE:
SANTOS, José Ozildo dos; SANTOS, Rosélia Maria de Sousa; FERNANDES, Almair de
Albuquerque. Aspectos Históricos,
Antropológicos e Geopolíticos do Município de Emas – PB. Patos: Soluções
& Consultoria e Projetos, 2011