Hoje é

domingo, 19 de agosto de 2012

LOURIVAL PATRIOTA BATISTA:
O ‘LOURO DO PAJEÚ’


José Ozildo dos Santos

R
epentista por excelência, Lourival Patriota Batista ou simplesmente ‘Louro do Pajeú’, nasceu no dia 06 de janeiro de 1915, na antiga vila das Umburanas, hoje Itapetim, no Estado do Pernambuco. Em sua terra natal, fez os primeiros estudos, que foram continuados no Colégio Dom Vital, no Recife.


Lourival Batista cantou pela primeira vez aos 15 anos, em 1930, oportunidade em que fez dupla com o violeiro Pedro Ferreira. Dois anos mais tarde, transferiu-se para João Pessoa e depois para o Rio Grande do Norte, onde começou sua carreira como violeiro, profissão que exerceu até a sua morte, ocorrida no Recife, no dia 05 de dezembro de 1992.
Amigo e parceiro do talentoso poeta Pinto de Monteiro, ‘seu’ Louro - como era também conhecido - por muito tempo, empolgou plateias e animou muitas cantorias.
Cognado o ‘Rei do Trocadilho’, cantou na presença de grandes pesquisadores do folclore brasileiro, a exemplo de Luís da Câmara Cascudo, Manuel Diégues Júnior, Veríssimo de Melo, Gilberto Freire e Mário Souto Maior, entre outros.
Para entender porque Lourival Batista foi chamado o ‘Rei do Trocadilho’, basta analisar os versos de sua lavra, transcritos abaixo:

É muito triste ser pobre;
prá mim, é um mal perene...
trocando o ‘p’ pelo ‘n’,
é muito alegre ser nobre;
sendo pelo ‘c’, é cobre,
cobre, figurado, é ouro;
botando o ‘t’, fica touro;
como a carne e vendo a pele;
o ‘t’, sem o traço, é ‘l’;
termino só sendo ‘Louro’!

Boto o ‘d’ e boto o ‘e’,
boto o ‘c’ e boto o ‘a’,
depois, um acento agudo;
em vez de Deca, é decá!
tiro o ‘d’ e tiro o ‘e’...
seu Deca, venha até cá.

Eu me confio em André,
porque sua paga é grande;
tire o ‘r’ e o acento
que talvez o mesmo ande!
no princípio, bote um ‘m’;
por caridade, me mande...
Fiquei muito admirado
deste nome de Campelo:
sem ‘el’, fica campo,
sem o ‘p’, fica camelo;
tirando o ‘c’ e o ‘m’,
ainda se escreve apelo."

Canhotinho, está na hora
de convidar José Tota;
tire o ‘t’ e bote o ‘n’,
prá nós ganhamos a nota;
tire o ‘n’ e bote o ‘b’,
 para ver se Tota bota.

Prá Dragão, estás errado,
pois Lourival já te explica:
tira a letra, apaga letra,
bota letra e metrifica;
tira o ‘d’, apaga o ‘r’,
bota o ‘c’, vê como fica....

Pra não ser um só errado:
Errei eu; erraste tu;
errou Pinto do Monteiro,
e Louro do Pajeú!
e, na palavra coidado,
tira o ‘o’, e bote o ‘u’

Certa vez, estando em Campina Grande-PB, Lourival Batista recebeu de um amigo, o seguinte tema de bolso: ‘A parte que iluminou’. Imediatamente, aquele repentista itapetinense glosou:

Entre o gosto e o desgosto
O quadro é bem diferente:
Ser moço é ser Sol nascente,
Ser velho é ser um Sol posto:
Pelas rugas do meu rosto,
O que fui hoje não sou:
Ontem estive, hoje não estou,
Que o Sol, ao nascer, fulgura...
Mas, ao se pôr, deixa escura
A parte iluminou.

Em 1999, quando da realização do realizado do ‘Grande Encontro de Poetas e Repentistas’, realizada na cidade de João Pessoa, Lourival Batista Patriota foi lembrado como uma das maiores expressões da poesia popular nordestina.

domingo, 12 de agosto de 2012

O DISTRITO DE FÁTIMA E SEU POTENCIAL TURÍSTICO

José Ozildo dos Santos
Rosélia Maria de Sousa Santos

O
 DISTRITO DE FÁTIMA, localizado no município de Flores, no Sertão do Pajeú, encontra-se inserido no roteiro turístico do Estado de Pernambuco por seus inúmeros atrativos naturais e pelos vários sítios arqueológicos que possui. O território do referido distrito é cortado pelo Riacho do Cafundó, que corre por entre grandes paredões, formando, em determinados locais, verdadeiros canyon. Assim, têm-se o ‘Canyon do Cafundó, onde se encontram paredões com mais de 200 metros de altura, que se prolongam até o Covoado.

Canyon do Cafundó

Nessa última localidade, é possível encontrar inúmeros atrativos naturais, a exemplo da ‘Pedra da Esfinge’, da ‘Pedra do Boné’ e da ‘Gruta do Covoado’. É também no Cafundó, cerca de 10 Km da sede do Distrito de Fátima, onde se encontra a famosa ‘Casa de Pedra’, construída pelo patriarca da família ‘Marinheiro’, no final do século XIX.

Casa de Pedra da Família Marinheiro

O Riacho das Letras é outro curso d’água digno de registro no território do Distrito de Fátima. Ali, além de uma rica mata de galeria, é possível encontrar uma grande quantidade nichos e vários sítios arqueológicos, no leito do próprio riacho.

Paredão do Covoado

Após percorrer 2 Km pelo referido riacho, em sentido contrário ao seu curso, chega-se a um ponto que dá acesso à Serra da Letras, onde existem quatro grandes ‘salões’ naturais, dois dos quais contendo caracteres rupestres. São pinturas e gravuras de diversos tamanhos e formatos, registros significativos deixados pelos antigos grupos de caçadores-coletores, que habitaram o sertão do Pajeú.

Esfinge do Covoado
  
Pedra da Tartaruga do Cafundó
  
A beleza que se descortina a partir da Serra da Letras é algo que encanta qualquer visitante. O observador viaja no tempo, de um lado, vê inúmeros grafismos rupestres, de outro, o descortinar de amplos paredões que prolongam-se em direção ao Cafundó e ao Covoado.

Riacho das Letras

Riacho das Letras

Grafismos rupestres encontrados ao longo do Riacho das Letras

Nichos encontrados ao longo do Riacho das Letras

Os 'salões' da Serra das Letras

Os 'salões' da Serra das Letras contendo pinturas e gravuras rupestres

Outra localidade que integra o território do Distrito de Fátima e também digna de registro é o Sítio Icó. Ali, parece que tudo parou no tempo. Apesar de a grande parte da cobertura vegetal ter sido derrubada para dá espaço à agricultura, ainda é possível encontrar exemplares da vegetação nativa com 10 e até mesmo, 15 metros de altura.
Nessa localidade, distante apenas 9 Km do Distrito de Fátima é possível encontrar os mais belos atrativos naturais de todo o município de Flores. Trata-se da ‘Pedra Furada do Mundo Novo’, da ‘Pedra do Altar’, da ‘Pedra dos Três Cachorros’, da ‘Ponte de Pedra’, das ‘Escadas Naturais’, etc., etc. É preciso ver para crer como é possível existir tanta beleza um só lugar.


Pedra dos Três Cachorros

Pelos inúmeros atrativos naturais e sítios arqueológicos que possui, o Distrito de Fátima é considerado a região de maior potencial turismo no município de Flores.

Ponte de  Pedra do Icó

Ponte de  Pedra do Icó

 
 Pedra do Návio - Icó

 
Pedra Furada do Icó

Calçada de Pedra do Icó

Atualmente, o turismo rural no Distrito de Fátima vem acontecendo com significância social e sustentabilidade ambiental. O distrito também oferece aos visitantes a oportunidade de contemplar o artesanato, a arte popular e uma variedade de produtos de gastronomia regional.
Bacamarteiros, carros de boi, artesões, poetas repentistas, sanfoneiros, bandas de pífanos, doceiras e rezadeiras, são valores encontrados na cultura popular do Distrito de Fátima, que preserva outras tradições seculares. A Festa da Padroeira de Nossa Senhora da Fátima, por exemplo, é realizada a mais de meio século. E, hoje, constitui-se num dos maiores eventos religiosos de todo o Sertão do Pajeú.
No Distrito de Fátima, ritmos e cores se misturam para demonstrar toda a riqueza natural e a arte popular manifestada através dos mais diferentes folguedos populares. Ali, valores culturais se misturam à belíssima paisagem natural, constituindo-se em atrativos que encantam todos os visitantes, que são recebidos pela população local de sempre de braços abertos.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

O CÓLERA MORBUS NA PARAÍBA



José Ozildo dos Santos


E
m 1856, mal refeita de uma epidemia de varíola, que se difundira pelo interior da Província, e de uma outra de febre amarela, que atacara a população da capital, viu-se a Paraíba atingida pela epidemia do ‘cólera morbus’, o famoso mal do Ganges, que espalhou-se pelas províncias nordestinas. A epide­mia chegou à Paraíba, vinda do Pernambuco, através de Monteiro, em finais de dezembro de 1.855. Em fevereiro do ano seguinte, já havia atingido toda a Província. Em sua trajetória, a peste asiática ceifou muitas vidas e “de início, fez umas 80 vítimas na povoação de Monteiro, Em fins de desse mês de fevereiro, alastrou-se com maior violência, pelo litoral e pelo Brejo. O Brejo, sobretudo, transformou-se em campo aberto à invasão destruidora, que foi deixando, em sua passagem, vilas e povoações quase reduzidas a necrópoles abandonadas”(1).  
No Seridó paraibano, a epidemia também fez muitas vitimas. Durante aquele flagelo, a Paraíba, que possuía uma população orçada em 300.000 habitantes, sofreu um obituário de 25.400 mortos (2). Na freguesia de Cuité o número de mortos chegou a 271, para uma população calculada em pouco mais de 6000 almas (3). ­
Na cidade de Areia, no Brejo Paraibano, informa Horácio de Almeida, que foi improvisado um cemitério para onde “os defuntos eram carregados em redes ou padiolas, depositados uns sobre os outros na área do improvisado cemitério, enquanto os coveiros abriam valas para sepultá-los. Acontece que do amontoado de cadáveres alguns chegaram a levantar-se, assombrados consigo mesmo e assombrando ainda mais os coveiros com súplicas cavernosas, que não estavam bem mortos quando foram levados pelos carregadores, na pressa que davam-se de enterrar os coléricos”(4).
Foram 2.308 as timas do cólera morbus em Areia, segundo registros oficiais. Após sofrer os efeitos do cólera, o Seridó paraibano foi assolado pela fome, que campeava por toda a região devastada. A seca prolongou-se até 1.857. Em auxilio aos fla­gelados, o governo provincial remeteu para distribuição, alguns donativos e esmolas públicas.
Em dezembro de 1.861, ressurgiu no Pernambuco o mal do Ganges. Este episódio, que ficou conhecido como ‘o segun­do cólera’, em janeiro de 1.862, já havia atingido o Seridó paraibano. Entretanto, não foi tão mortífero quanto o primeiro (1.855-1.856), graças as providências adotadas e difundidas na Província.         
Segundo relatório apresentado à Assembleia Legislativa, pelo Presidente da Província, Dr. Francisco de Araújo Lima, o obituário causado pelo ‘segundo cólera’ na Paraíba, totalizou 3.323 mortos (5). O que é certo, é que famílias inteiras sucumbiram, deixando um rastro negro em nossa História.



NOTAS

1. ALMEIDA, Horácio de. Brejo de Areia (Memórias de um município). Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura/Serviço de Documentação, 1.957, pág. 129. (Coleção Vida Brasileira, vol. 12).
2. PINTO, Irineu Ferreira. Data para a História da Parayba (II). Edição fac-similar da de 1912. João Pessoa: Editora da UFPB, 1978, pág. 332.
3. PINTO, Irineu Ferreira. Op. cit., pág. 332.
4. ALMEIDA, Horácio de. Op. cit., pág. 129.
5. PINTO, Irineu Ferreira. Op. cit., pág. 332.

GOSTOU? COMPARTILHE!

Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites More