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sábado, 24 de agosto de 2013


CHATEAUBRIAND BANDEIRA DE MELO
 
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asceu a 2 de maio de 1855, na antiga Vila de São de João do Cariri, Província da Paraíba(1). Foram seus pais o Dr. Francisco Aprígio de Vasconcelos Brandão e dona Dionísia Filadélfia da Costa Ramos. Seu pai, bacharel em Direito, ex-deputado provincial, fundou naquela vila o primeiro colégio de ensino secundário, projetando-se como um dos maiores educadores do Cariri paraibano.

Chateaubriand Bandeira de Melo

Foi com o próprio pai, que o jovem Chateaubriand aprendeu as primeiras letras e fez seus estudos básicos. Posteriormente, ingressando na Faculdade de Medicina da Bahia, diplomou-se em finais de 1880. Por algum tempo, residiu em Barbalha, Província do Ceará, onde iniciou sua clínica médica. Retornando à Paraíba, estabeleceu-se com consultório médico em Campina Grande e ali permaneceu por muito tempo como o único médico da cidade.
Médico conceituado, a princípio, utilizava o nome Chateaubriand de Vasconcelos Brandão. Anos mais tarde, juntamente com seu irmão Francisco José, incorporou ao seu prenome o ‘Bandeira de Melo’, numa referência à sua família paterna, de origem pernambucana.
Em Campina Grande, o Dr. Chatô - como era popularmente conhecido - gozava de elevado prestígio social, sempre atendendo com presteza a ricos e pobres. Figura acatadíssima, participou de muitos empreendimentos, visando o progresso da cidade ‘Rainha da Borborema’, que ensaiava seus primeiros passos, em busca do desenvolvimento social e econômico.
Médico brilhante, conseguiu ganhar fama como profissional dedicado, construindo riqueza após longos anos, atuando como o único médico do município, assistindo seus 16.000 habitantes. Amigos e correligionário do Dr. Irineu Joffily, coordenou a campanha política, quando da eleição daquele ilustre advogado e historiador, elegeu-se deputado geral, em agosto de 1889 e teve seu mandato prejudicado pela Proclamação da República.
Em 1892, convidado pelo Dr. Álvaro Machado, segundo Presidente da Paraíba no novo regime, o Dr. Chateaubriand integrou a lista oficial de candidatos à Assembleia Estadual Constituinte. Eleito, teve uma participação destacada nos trabalhos constituintes.
Prestigiadíssimo em seu partido, foi lançado como candidato à Câmara dos Deputados, antes mesmo de concluir seu mandato como deputado estadual. Assim, eleito deputado federal, representou a Paraíba na Baixa Câmara durante a legislatura de 1894-1896. Reeleito em 1900, foi vítima do processo de depuração imposto aos candidatos alvaristas, patrocinado por Epitácio Pessoa, Ministro da Justiça, no Governo Campos Sales, que, nessa condição, resolveu prestigiar a oposição, na Paraíba.
Sempre presente aos acontecimentos da história de Campina Grande, o Dr. Chatô, foi o orador escolhido para falar em nome da comunidade, quando das solenidades de inauguração da Estação Ferroviária e consequente chegada do primeiro trem àquela cidade, a 2 de outubro de 1907.
Homem íntegro e “católico por convicção, comungava todas as manhãs, tinha a devoção de Santo Antônio, promovendo a 13 de junho, todos os anos, às suas custas, festas ao seu Santo protetor" (2).
Conhecido e respeitado por seu espírito fraterno, Chateaubriand Bandeira de Melo faleceu a 29 de abril de 1936, em Campina Grande, enlutando toda a cidade, onde seu nome encontra-se imortalizado, designando uma via pública, no Bairro São José.
Casado com a senhora Amanda de Albuquerque Borborema de Melo, teve uma única filha: Maria das Neves Bandeira de Melo, que desposou o Dr. Antônio Pereira Diniz, ilustre advogado, prefeito discricionário de Campina Grande, procurador geral de justiça, que eleito deputado federal, foi mais tarde, ministro do Tribunal de Contas da União.
 

BOQUEIRÃO - PB, 24 de junho de 2001.

Notas

1. O historiador Humberto Nóbrega, em seu livro ‘As Raízes das Ciências da Saúde na Paraíba’, pag. 217, informa que o Dr. Chateaubriand Bandeira de Melo nasceu a 2 de junho de 1853.
2. NÓBREGA, Humberto. As Raízes das Ciências da Saúde na Paraíba. João Pessoa: UFPB/EDUFP, 1979, pag. 219.

domingo, 21 de julho de 2013

DOM JOSÉ TOMÁS GOMES DA SILVA

 
José Ozildo dos Santos

 
Sacerdote, educador e jornalista, nasceu a 4 de agosto de 1873, na povoação de Barriguda, atual cidade de Alexandria, à época, parte integrante do município de Martins, no Oeste potiguar. Foram seus pais o Dr. Tomás Gomes da Silva e dona Ana Constância da Silva.
Na cidade de Martins, fez seus estudos primários e vocacionado para o sacerdócio, ingressou no tradicional Seminário de Olinda, recebendo a tonsura clerical, em 1893, concedia por Dom Raimundo da Silva Brito, futuro primeiro Arcebispo de Olinda. Criada a Diocese da Paraíba, a convite de Dom Adauto de Miranda Henriques, transferiu-se para a capital paraibana e no Seminário local, reiniciou seus estudos, recebendo as ordens menores, a 28 de outubro de 1894, seguidas do subdiaconato (1895) e do diaconato (1896).
Sua ordenação sacerdotal, ocorreu a 15 de novembro de 1896, em cerimônia litúrgica realizada na Catedral de Nossa Senhora das Neves, recebendo a sagrada ordem do presbiterato das mãos de Dom Adauto, de quem tornou-se um dos principais auxiliares.  

Dom José Tomás Gomes da Silva 

Homem culto, cedo revelou-se educador dos mais talentosos. Ainda em princípios de 1897, foi nomeado professor de Língua Portuguesa, do tradicional Liceu Paraibano, integrando também o corpo docente do Seminário Episcopal da Paraíba, ali lecionando Eloqüência, Filosofia e Direito Canônico (1897-1907).
Designado secretário do Bispado (1897-1911), foi distinguido com o título de Cônego do Cabido Paraibano (1905) e posteriormente, elevado à dignidade de Monsenhor, pelo Papa Pio X (1907). Diretor Espiritual do Seminário Episcopal Paraibano, na condição de Visitador Diocesano, percorreu diversas freguesias do Rio Grande do Norte e da Paraíba.
No exercício das referidas funções, coletou donativos pecuniários, que foram destinados à formação do patrimônio da futura Diocese de Natal. Durante muito tempo, militou na imprensa e sob a sua direção, a 27 de maio de 1897, surgiu em na capital paraibana o jornal católico ‘A Imprensa’.
Homem de letras, participou da fundação do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano (1905). A 7 de março de 1911, foi elevado ao episcopado, após ser escolhido pelo Papa Pio X, para ocupar o recém-criado Bispado de Sergipe. Sua sagração episcopal, ocorreu em solenidade realizada na Catedral de Nossa Senhora das Neves, tendo com sagrante Dom Adauto de Miranda Henriques e consagrantes, os bispos Joaquim Antônio de Almeida e Augusto Álvaro da Silva, titulares das Dioceses de Natal e Barra do Rio Grande-BA, respectivamente. Empossou-se na Diocese de Aracajú, a 4 de dezembro de 1911, num ato religioso que contou com grande número de fiéis e autoridades civis e religiosas.
No exercício de seu episcopado, fundou o Seminário Diocesano de Aracajú, criou várias paróquias e ordenou diversos sacerdotes. Durante 37 anos, ocupou o sólio sergipano, com dignidade e dedicação, falecendo no exercício de suas funções a 31 de outubro de 1948, aos 75 anos de idade. Seu corpo, foi sepultado na Catedral de Aracajú.
 

segunda-feira, 8 de julho de 2013


ERNESTO HERÁCLIO DO REGO

  
José Ozildo dos Santos

 
Pernambucano, natural da cidade de Belo Jardim, Ernesto do Rego nasceu a 31 de dezembro de 1910 e era filho do casal João Ernesto do Rego e Josefina Heráclio do Rego. Com apenas um ano de idade, transferiu-se para o atual município de Boqueirão, no Cariri paraibano, onde seu pai era um dos mais abastados proprietários rurais da região.  Ali, criou-se, somente ausentando-se para estudar em Limoeiro e posteriormente, no Recife, onde concluiu o antigo curso secundário.
Membro de uma tradicional família de políticos, que durante décadas comandou os destinos administrativos dos municípios pernambucanos de Belo Jardim e Limoeiro, Ernesto do Rego era primo do prestigiado Coronel Francisco Heráclio do Rego, que projetou-se no cenário político daquele Estado, elegendo-se deputado estadual e federal em várias legislaturas.
 
Ernesto Heráclio do Rego 
 
Após o falecimento de seu pai, Ernesto do Rego herdou uma extensa propriedade denominada ‘Fazenda Nova’, localizada no antigo território do município de Cabaceiras, que, por seu trabalho e contínua dedicação, tornou-se o melhor e mais rico imóvel rural da região.
Redemocratizado o país, ingressou na política, filiando-se à União Democrática Nacional - UDN, partido que a partir de 1947, passou a agrupar as forças de maior expressão eleitoral no Estado, elegendo-se prefeito do município de Cabaceiras, onde, ainda muito jovem, na condição de importante agropecuarista, passou a gozar de elevado prestígio pessoal.
Em 1950, elegeu-se deputado estadual. No entanto, sem vocação para os debates do plenário da Assembleia Legislativa, Ernesto do Rego não disputou sua reeleição, embora tivesse condições de lograr êxito. Preferiu limitar-se a política municipal e a 3 de outubro de 1955, conquistou nas urnas seu segundo mandado como prefeito de Cabaceiras. Naquele município, sua segunda administração foi por demais proveitosa. Com parcos recursos, determinou a abertura e a conservação de várias estradas vicinais e recuperou todos os prédios públicos existentes na sede do município, além do Grupo Escola da Vila de Barra de São Miguel.
Durante sua administração (30-11-1955 a 29-11-1959), de acordo com a nova divisão administrativa do país de 31 de dezembro de 1955, o município de Cabaceiras passou a ser composto por sete distritos: Cabaceiras (sede), Alcantil, Caturité, Riacho de Santo Antônio, Potira (atual Barra de São Miguel), Carnoió, Bodocongó e Caturité. Uma extensa área para se administrar com quase nenhum recurso, visto que naquele tempo, os municípios sobreviviam apenas das receitas arrecadadas em seu território.
Mesmo assim, sua ação administrativa fez-se presente em todo o município. E, o maior reconhecimento de seu trabalho foi a consagradora votação alcançada por José Braz do Rego, seu filho, nas eleições de 3 de outubro de 1958. Acadêmico de Direito, Zé Braz elegeu-se deputado estadual aos 22 anos de idade, após totalizar 3.132 votos, tornando-se o mais jovem membro da Assembleia Legislativa, durante a legislatura de 1959-1963.
Ainda durante sua gestão administrativa como prefeito de Cabaceiras, foi concluído o Açude Epitácio Pessoa, na antiga vila de Carnoió, atual município de Boqueirão. Naquela época, a serenidade da pacata vila foi quebrada e “a medida que se desenvolviam os trabalhos de construção do açude, aumentava a população local”.
Dirigente responsável, Ernesto do Rego participou diretamente do progresso da futura cidade de Boqueirão, dando inteiro apoio e auxiliando na busca das soluções para todos os problemas ali surgidos. No dia 11 de janeiro de 1957, o referido açude foi inaugurado pelo Presidente Juscelino Kubitschek.
Concluindo sua administração como prefeito de Cabaceiras, Ernesto do Rego centralizou sua atividade política no recém-criado município de Carnoió, emancipado a 30 de abril de 1959, para cuja conquista, foi ele o principal mentor. Ali, aos 11 de agosto de 1963, elegeu-se prefeito constitucional, empossando-se no dia 30 de novembro seguinte, num vibrante ato festivo, no qual foi registrada uma das maiores concentrações populares de toda a história de Boqueirão.
Na prefeitura municipal de Boqueirão, Ernesto do Rego teve uma atuação marcante. Em sua gestão, foi responsável pela organização administrativa do município e pela construção de várias escolas municipais, tanto na cidade como na zona rural, especialmente na sede dos distritos não servidos por grupos estaduais. Administrador probo, tornou-se uma liderança incontestável no município de Boqueirão. Reeleito prefeito para mais outros dois mandatos, administrou aquela comuna paraibana ainda nos períodos de 31-01-1973 a 30-01-1977 e de 31-01-1983 a 30-12-1988.
Durante trinta anos, Ernesto do Rego comandou os destinos políticos de Boqueirão, sempre elegendo seus candidatos a prefeito e a maioria dos membros do poder legislativo. Homem de grande visão, foi responsável pela realização das principais obras de cunha administrativo, educacional e social no município, sendo digno de registro a construção e instalação da Maternidade Edite Lucena do Rejo, hoje, mantida pela Associação de Proteção à Maternidade e à Infância de Boqueirão, além da construção dos edifícios onde funciona a sede do governo municipal e o Clube Recreativo, entre outros.
Ernesto do Rego, durante toda sua vida, primou pela lealdade aos amigos, que considerava-os preciosos. Homem de posições firmes e atitudes fortes, jamais deixou de atender uma reivindicação justa, mesmo que lhe fosse formulado por um adversário. Político sério, não era homem de pedir. Em 1965, com a instituição do bipartidarismo, filiou-se aos quadros da Aliança Renovadora Nacional - ARENA, pela qual elegeu-se prefeito de Boqueirão, no pleito de 15 de novembro de 1972. Após a reforma partidária de 1979, ingressou no Partido Democrático Social - PDS, que garantiu legenda para sua terceira eleição à prefeitura de Boqueirão, no pleito de 15 de novembro de 1982.
Os últimos anos de sua vida, Ernesto do Rego permaneceu afastado da política. Com a saúde abalada, foi submetido a tratamento médico, por vários meses, no Recife, onde faleceu a 13 de março de 1999, aos 89 anos de idade incompletos. De seu casamento com a senhora Edite Lucena do Rego, nasceram três filhos, dos quais, alcançou projeção e destaque, o já citado Dr. José Braz do Rego, eleito deputado estadual por três legislaturas consecutivas, falecido prematuramente quando exercia as funções de Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado.
Como político e cidadão, Ernesto Heráclio do Rego contribuiu muito para o desenvolvimento da cidade de Boqueirão, a qual amou e dedicou sua vida durante três décadas, na condução de seus destinos políticos e na busca de soluções aos mais variados problemas enfrentados por seus munícipes. Lamentavelmente, por um descuido da história e devidos aos vícios da política, seu nome, ali, sequer é lembrado, designando o mais simples logradouro público. Talvez, no dia que a gratidão tornar-se um tesouro de todos, o poder público e o povo de Boqueirão, preste uma homenagem sincera a esse grande líder, evitando que as gerações do futuro, sejam contagiadas pela mesquinhez do presente. 
 

Boqueirão - PB, 30 de maio de 2001.

 

segunda-feira, 24 de junho de 2013

UM CASO DE ANTROPOFAGIA EM POMBAL (1877)


José Ozildo dos Santos
1. Intróito

A seca de 1877 castigou o homem sertanejo, expulsando-o de sua terra e obrigando-o a procurar abrigo no litoral. Lavas de retirantes arrastavam-se em longas caminhadas seus corpos esqueléticos e quase sem vidas.
Em termos de intensidade, duração, extensão ou mortalidade, aquela longa estiagem não apresentou alterações em relação às demais secas. No entanto, contribuiu para mudar o imaginário da população urbana e principalmente das autoridades, pois foi a partir daquele triste ano de 1877 que a seca no nordeste passou a ser vista como um fenômeno de caráter social.
Por outro lado, os acontecimentos registrados na história da cidade de Pombal, durante aquele longo e doloroso período de estiagem, abalaram a população local e fizeram revelar em sua principal protagonista, uma prática que a civilização há muito tenta esquecer: a antropofagia.

2. O acontecimento

Em 1877, a cidade de Pombal, no sertão paraibano, mal tinha se refeito dos efeitos do cólera morbus, quando sobreveio uma grande seca. Durante aquela seca, que entrou para a história como uma das mais devoradoras, registrou-se um caso de antropofagia na cidade: uma mulher matou uma criança e comeu-lhe a carne para não morrer de fome.
Os autos do processo referentes a esse hediondo crime encontram-se arquivados no Cartório do 1º Ofício, da cidade de Pombal (1). A autora do crime, conhecida por Donária dos Anjos, havia chegado à cidade de Pombal, na condição de retirante.
O referido crime ocorreu no dia 27 de março de 1877 e indignou a população local. Na época, o jornal ‘O Publicador’(1), editado na capital paraibana, em sua edição do dia 24 de abril de 1877, noticiou que “a 27 de Março próximo findo a retirante Donária dos Anjos encontrou na casa do mercado da cidade de Pombal a menor Maria de cinco annos de idade, levou-a com o maior carinho para sua casa, próxima ao cemitério; ahi chegando, decapitou a mesma menor, enterrou a cabeça e comeu a carne do corpo da sua victima! Presa, Donária confessou este horroroso crime. Está sendo processada pelas autoridades da cidade”(2).
O promotor público e o delegado de polícia da cidade de Pombal, abriram rigoroso inquérito a fim de apurar a responsabilidade do ato criminal e de pura selvageria. Nos referidos autos processuais, entre outras coisas, lê-se: “O promotor público da Comarca de Pombal, usando da fa­culdade que lhe confere a Lei, vem perante V. Sa., denunciar a Donária dos Anjos, pelo fato que passa a expor: Chegando a denunciada, com sua vítima, em seu antro, matou-a por meio de sufocação, decepou-lhe a cabeça, reduziu o corpo a diver­sos pedaços de carne, cozinhou parte destes, que comeu, guar­dou outros em uma moita de onde foram devorados pelos cães, e num riacho que passa a pouca distância do Cemitério, enter­rou, à sombra de uma oiticica, a cabeça de sua desditosa víti­ma, que foi exumada” (3).
Formulada a denúncia, o digno representante do Ministério Publico encaminhou os autos ao juiz de direito da Comarca, Dr. Antônio Muniz Sodré de Aragão (4). Este, cumprindo as determinações do Código Criminal, em vigor na época, procedeu o interrogatório da acusada, que, declarou “que era natural do termo de Piancó e ali residia, mas que se achava nesta cidade [Pombal], quando foi presa, para onde se tinha retirada por causa da seca. Respondeu ter 18 anos e que cometeu o crime oprimida pela grande fome que a afligia, e que se achava arrependida de o ter praticado” (5).
Donária dos Anjos foi recolhida à histórica Cadeia de Pombal (6), onde amargou nas grades por um longo período em sua infeliz existência. A história não registra a data em que aquela pobre mulher foi posta em liberdade.
Na época em que ocorreu o fato, o juiz da Comarca encaminhou um oficio à Câmara Municipal, “dando conhecimento do estado precário em que se acha a popula­ção local, atemorizada pela fome”, cobrando do poder público municipal, providências que pudessem amenizar a situação (7).
A seca de 1877 reduziu todos à miséria. Lavras de retirantes deixaram o sertão e seguiram para o litoral, em busca de sobrevivência. No entanto, muitos não chegaram ao destino esperado, vencidos pela fome e pela seca, ficaram pelo caminho. E, mortos, tornaram-se comida para as aves de rapinas.
Voltando ao caso de antropofagia ocorrido em Pombal, crê-se, que a menina Maria, de apenas 5 anos de idade, estava procurando algo para comer, quando foi levada da frente à Casa do Mercado por Donária dos Anjos para o local do crime, com a promessa de receber algum alimento para saciar a sua fome. Quanto à Donária dos Anjos, “debilitada e com sintomas de loucura, devido às conseqüências dos infelizes anos de fome que a afligiu, passou a viver emocionalmente perturbada pelo remorso do horrendo crime que praticou. Depois, com o tempo, foi solta, momento em que retornou ao município da sua terra natal, onde naturalmente veio a falecer, marcada pelo resto da vida pela barbárie cometida”(8).
Protagonista de uma história macabra, Donária dos Anjos viveu seus últimos dias de vida num verdadeiro isolamento social. Dela, poucos se aproximavam e muitos a evitavam. Louca, ignorada por seus conterrâneos, foi encontrada morta no chão de um casebre, nos arredores de Piancó e sepultada sem nenhum cortejo. No entanto, seu nome ficou na história, assinalando uma prática incomum no mundo moderno.

3. As controvérsias

O crime bárbaro praticado por Donária dos Anjos, apesar ter sido no final do século XIX e chocado a sociedade paraibana da época, foi, em parte, esquecido pela história oficial. A tradição popular tratou de dá-lhe várias versões, sem, contudo, perder o sentido primitivo.
Uma das desfigurações desta triste história pode ser vista nuns versos colhidos e divulgados por José Américo de Almeida, atribuídos aos poetas populares Nicandro Nunes da Costa e Bernardo Nogueira, que assim narram os acontecimentos de 1877, em Pombal:

Foi-se a abelha, foi-se a caça,
A quem se pede nega,
Não há ceifa, não há rega...
Como é que o povo passa?
Do cabrum há pouca raça,
Uma galinha não há
Como o povo viverá
Nesta terra? E os animais?
Mas, se Deus sabe o que faz,
Deus o remédio dará.

Xiquexique, mucunã,
Raiz de imbu e colé,
Feijão brabo, catolé,
Macambira, imbiratã,
Do pau pedra a carimã,
A paneira e o murrão,
Maniçoba e gordião,
Comendo isso todo o dia,
Incha e causa hidropisia,
Foge, povo do sertão!
A fome foi tão canina
Que, se mais saber tu queres,
No Pombal duas mulheres
Comeram uma menina (9).

Dramatizando o fato vivido por Donária dos Anjos e pela menina Maria, os poetas populares Nicandro Nunes da Costa e Bernardo Nogueira erroneamente, afirmam que o referido crime foi praticado por duas mulheres. No entanto, ‘pintam’ a fome de forma canina e devoradora.
Nicandro Nunes da Costa foi considerado “o príncipe dos poetas populares do seu tempo” (10). Nascido na Vila de Teixeira-PB, estava no auge de sua carreira quando sobreveio a seca de 1877. O mesmo também se pode dizer de Bernardo Nogueira, que também nasceu em Teixeira, no ano de 1832.
Ambos foram contemporâneos dos fatos ocorridos em Pombal e viveram numa cidade localizada a poucos quilômetros do palco do triste infausto. Entretanto, é estranho, que os mesmos apresentem uma versão ambígua para a referida história.
No entanto, não somente Nicandro e Nogueira erraram ao registrarem o fato protagonizado por Donária dos Anjos. O historiador Horácio de Almeida (11) também incorreu em erro diverso: gravou o nome da autora do crime como Dionísia dos Anjos e fixou como palco da tragédia o município de Patos. Talvez, por ter ocorrido naquela cidade o assassinato de uma outra inocente, chamada Francisca, cuja autoria do crime é atribuída ao casal Absalão e Domila Emerenciano.
Os acontecimentos de Patos foram registrados em julho de 1923. Portanto, 46 anos após o ato de antropofagia praticado por Donária dos Anjos. Em Patos, a devoção popular fez também erigir uma cruz à menina Francisca, posta num local ermo, no Sítio Trapiá, onde o corpo daquela criança foi encontrado. Posteriormente, ali foi construída uma capela.
O referido local era, na primeira metade do século passado, conhecido com ‘A Cruz da Menina’, da beira da estrada. Hoje, sedia um importante parque religioso, considerado um dos maiores do Nordeste (12).
Nota-se, que em ambas as cidades, construiu-se uma ‘cruz da menina’. Assim, crê-se que foi isto, o fato que levou o historiador Horácio de Almeida, em parte, ao erro.
Em 1898, o romancista e folclorista Rodolfo Teófilo lançou seu magnífico livro ‘Os Brilhantes’ (13), onde romanceia a saga de Jesuíno Brilhante, o ‘cangaceiro romântico’, que entrou para a história do Rio Grande do Norte como o ‘Robin Hood dos sertões’, por roubar dos ricos e destruir o fruto de seus atos com os pobres, durante a seca de 1877.
No referido livro, aquele escritor cearense também reconta o ato hediondo praticado por Donária dos Anjos, embora que de forma substancial, sem identificar seus personagens. Mas, ligando-o aos sofrimentos do povo nordestino, registrados durante aquela estiagem, que ficou conhecida como a ‘seca dos dois sete’. Outras versões existem. No entanto, não são dignas de registros.

4. A cruz da menina como marco religioso na cidade de Pombal

Em Pombal, a Cruz da Menina encontra-se localizada nas proximidades da antiga Estação do Trem e do Cemitério Nossa Senhora do Carmo, no Bairro da Estação, distando cerca de 750 metros da histórica Matriz de Nossa Senhora do Rosário. Conta-se que “o crime ocorreu na localidade onde está erguido o Pedestal, próximo de um riacho que antigamente passava ali, (hoje servindo como galeria de captação de águas poluídas), se destacando em uma de suas margens, frondosa árvore de oiticica, na qual ficou ‘arranchada’ e depois foi presa à desditosa Donária dos Anjos” (14).

 A Cruz da Menina, em Pombal  (2007)
A Cruz da Menina, em Pombal (2012)

No local onde sepultaram a ‘criança mártir’, os moradores da antiga cidade de Pombal amontoaram pedras e colocaram uma cruz, num sentimento de fé cristã. Com o passar dos tempos, o local foi se tornando um ponto de convergência de fiéis. A tradição popular registra que várias foram as preces alcançadas e isto fez do local um marco de religiosidade.
Em 1948, a senhora Dalva Carneiro Arnaud - irmã do futuro senador Ruy Carneiro - ­fez uma promessa à Menina Mártir. Cinco dias, depois alcançou a graça desejada. Sensibilizada e agradecida, mandou demolir o amontoado de pedras e construir um pedestal em alvenaria com uma cruz de madeira no alto.
A referida construção, foi executada no exato local onde foram enterrados os restos mortais da menina Maria, anteriormente indicado pelas pedras que vinham sendo amontoadas por gerações, desde 1877.
Entretanto, a cruz de madeira, exposta ao desgaste do tempo, vêm sendo substituída ao longo dos anos. Atualmente, “está a Cruz da Menina em uma área de aproximadamente 150 m², circundada por uma calçada em paralelepípedos, um espaço livre, sem nenhuma proteção de acesso. No entorno do Pedestal existem pequenos canteiros de flores e árvores plantadas, em desenvolvimento. Em memória da Menina, ainda não existe uma placa que registre um pouco da sua história ou a data do trágico fato ocorrido (15).
O pedestal da ‘Cruz da Menina’, construído em 1948, ainda conserva suas características originais. Em sua base, os fiéis depositarem ramalhetes de flores e acendem velas, na esperança de suas pressas serem atendidas.
O acesso a ‘Cruz da Menina’ é bom, pois a mesma encontra-se dentro do perímetro urbano. No entanto, o local ainda não possui uma capela. Esta, se existisse, proporcionaria a celebração de atos litúrgicos, fato, que faria com que o local tornar-se um ponto turístico, não mais se limitando a um simples marco religioso.

5. A religiosidade em torno da ‘Cruz da Menina’, em Pombal-pb

Pouco tempo depois do martírio da pobre menina Maria, o local onde foi sepultado o que dela restou, tornou-se um marco da religiosidade do povo de Pombal. Em 1879, os efeitos da seca iniciada dois anos antes, ainda poderiam ser notados.
Registra a história local, que “fome, miséria, morte, o imobilismo das autoridades públicas que nada ofereciam para mitigar a situação, fez um grupo de devotos se voltarem para os poderes dos céus. Contam que esse grupo saiu da Igreja em procissão noturna, com velas acesas, rezando, cantando benditos e ladainhas pelos armados da cidade, depois tomaram os caminhos na direção da Cruz da Menina, em solicitude para a volta das chuvas de inverno. Lá chegando todos se ajoelharam, momento em que rezavam e pediam a intercessão da Menina Maria para minimizar os efeitos da trágica seca, que se alastrava por todo o sertão (16).
O episódio narrado acima, demonstra que o local onde hoje ergue-se a ‘Cruz da Menina’ tornou-se um marco religioso, ainda durante a grande seca de 1877-1879. E, a medida que as preces iam sendo alcançadas, o mesmo foi ganhando importância religiosa.
Quando se formou a primeira romaria em torno da ‘Cruz da Menina’, “era uma noite escura do final de dezembro de 1879, surpreendentemente, em meio às preces iniciou-se uma forte chuva com relâmpagos e trovões, apagando todas as velas, o que não impediu dos devotos continuarem contritos em suas preces, naquele instante, já uns impressionados com o fenômeno, outros ligeiramente assustados, alguns emocionados, chorando, sem entender aquela bendita chuva repentina. As águas caindo do céu, em meio aos relâmpagos e trovoadas, traziam o vento noturno de longe, que passava forte entre galhos e folhas de uma frondosa oiticica ali próxima, balançando a grande árvore, como quem dando uma resposta às preces dos piedosos religiosos, ao mesmo tempo, parecendo anunciar o prenúncio de um bom inverno, o que realmente aconteceu a partir do mês seguinte, janeiro de 1880" (17).
Vendo a chuva cair de forma surpreendente, os fiéis passaram a dizer que estavam presenciando um milagre. E que a pobre menina mártir havia intercedido junto ao Criador, por todos os que ali rezavam, pedindo chuva para molhar a terra e trazer de volta a vida para o sertão. Nesse momento, “alguém interpretou as águas da chuva como sendo lágrimas do sacrifício da Menina Maria, os relâmpagos, a luz de um novo amanhecer, os trovões, o despertar de todas as esperanças, sem os sofrimentos vividos até então” (18).
A manifestação popular realizada ao pé da ‘Cruz da Menina’, em finais de 1879, assinala a primeira graça coletiva alcançada por aqueles que acreditam na criança, que de forma trágica, havia perdido a sua vida, e que pelas circunstâncias de sua morte, tornou-se um símbolo de renovação da fé. Em janeiro de 1880, as chuvas voltaram a cair na região, em grande quantidade, enchendo, em pouco tempo, o sertão de vida.
Assim, nasceu o fenômeno religioso em torno da ‘Cruz da Menina’, na cidade de Pombal, no sertão paraibano. Ao longo dos anos, outros fatos foram contados como milagres e atribuídos à menina martirizada em 1877. Vários depoimentos já foram registrados. Atualmente, a ‘Cruz da Menina Mártir ’é diariamente visitada por devotos, pessoas que vem de diferentes cidades da Paraíba e de estados vizinhos, em busca milagres.
Chegando ao local, os devotos colocam-se de joelhos ao pé da Cruz e rezam agradecendo pelas graças recebidas. Outros, nada pedem, apenas visitam o lugar por um sentimento de compaixão, fé e sentimento cristão. Quase 130 anos após o registro da primeira graça alcançada, a ‘Cruz da Menina’ continua erguida, como um símbolo representativo da fé de um povo, renovada a cada prece.
Na atualidade, a ‘Cruz da Menina Maria’ tem uma grande importância histórica e religiosa para o município de Pombal. Ela é um relicário que deve ser preservado, ampliado e modernizado, para consolidar-se como mais um ponto do turístico religioso, no sertão paraibano.
Lamentavelmente, a ‘Cruz da Menina’, de Pombal, ainda não conquistou a atenção dos investimentos públicos e privados, no que diz respeito a sua transformação em parque religioso, inserido-se no roteiro turístico do Estado. Esta é uma prece que ainda não foi alcançada pelos devotos e fiéis da ‘Menina Mártir’.

NOTAS
1. Jornal diário, ‘O Publicador’ tinha como redator o talentoso padre Lindolfo Correia e circulou na capital paraibana, no período de 1862 a 1886 (MARTINS, Eduardo. Primeiro jornal paraibano (apontamentos históricos). João Pessoa: A União, 1976, pág. 29.
2. O Publicador’, Cidade da Parahyba, edição de 24 de abril de 1877.
3. SEIXAS, Wilson Nóbrega. Op. cit., p. 416.
4. Baiano, diplomado pela Faculdade de Direito do Recife, na turma de 1860 (BEVILÁQUA, Clóvis. História da faculdade de direito do Recife. Brasília: INL/MEC/CFC, 1977.
5. SEIXAS, Wilson Nóbrega. Op. cit., pág. 417.
6. Alicerçada no ano de 1848, a Cadeira de Pombal ficou famosa por concentrar presos perigosos, a exemplo dos cangaceiros ‘Rio Preto’, Chico Pereira e Lucas Brilhante, irmão do célebre Jesuíno Brilhante. Hoje, a velha cadeia, é sede da ‘Casa da Cultura’, “completamente esquecida, deteriorada, inexistente para sua finalidade a que foi criada” (ARAÚJO NETO, José Tavares de; ABRANTES, Verneck. A cadeia velha de Pombal (Manifesto em defesa do patrimônio histórico). Pombal: Andyara, 2004. pág. 7.
7. SEIXAS, Wilson Nóbrega. Op. cit., pág. 417.
8. ABRANTES, Verneck. A cruz da menina de Pombal. Coleção Nossa história, nossa gente, vol. 2Pombal: Martins, 2006, pág. 5.
9. ALMEIDA, José Américo de. A Paraíba e seus problemas. 3 ed. João Pessoa: SEC/DCG/A União, 1980, p. 127.
10. BATISTA, Francisco das Chagas. Cantadores e poetas populares. 2 ed. João Pessoa: SEC/CEC/A União, 1997, pág. 15.
11. ALMEIDA, Horácio de. Brejo de Areia (Memórias de um município). Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura/Serviço de Documentação, 1957, pág. 87.
12. SANTOS, José Ozildo dos. Patos: Uma cidade centenária. In: A Voz do Povo, Patos-PB, edição especial, outubro de 2003, pág. 8-9.
13. TEÓFILO, Rodolfo. Os Brilhantes. 2 ed. São Paulo/Rio de Janeiro: Melhoramentos/INL/MEC, 1972.
14. ABRANTES, Verneck. A cruz da menina de Pombal. Coleção Nossa história, nossa gente, vol. 2. Pombal: Martins, 2006, p. 8.
15. Idem, idem.
16. ABRANTES, Verneck. Op. cit., pág. 5.
17. ABRANTES, Verneck. Op. cit., pág. 6.
18. Idem, idem.2. Jornal diário, ‘O Publicador’ tinha como redator o talentoso padre Lindolfo Correia e circulou na capital paraibana, no período de 1862 a 1886 (MARTINS, Eduardo. Primeiro jornal paraibano (apontamentos históricos). João Pessoa: A União, 1976, pág. 29.
2. O Publicador’, Cidade da Parahyba, edição de 24 de abril de 1877.
3. SEIXAS, Wilson Nóbrega. Op. cit., p. 416.
4. Baiano, diplomado pela Faculdade de Direito do Recife, na turma de 1860 (BEVILÁQUA, Clóvis. História da faculdade de direito do Recife. Brasília: INL/MEC/CFC, 1977.
5. SEIXAS, Wilson Nóbrega. Op. cit., pág. 417.
6. Alicerçada no ano de 1848, a Cadeira de Pombal ficou famosa por concentrar presos perigosos, a exemplo dos cangaceiros ‘Rio Preto’, Chico Pereira e Lucas Brilhante, irmão do célebre Jesuíno Brilhante. Hoje, a velha cadeia, é sede da ‘Casa da Cultura’, “completamente esquecida, deteriorada, inexistente para sua finalidade a que foi criada” (ARAÚJO NETO, José Tavares de; ABRANTES, Verneck. A cadeia velha de Pombal (Manifesto em defesa do patrimônio histórico). Pombal: Andyara, 2004. pág. 7.
7. SEIXAS, Wilson Nóbrega. Op. cit., pág. 417.
8. ABRANTES, Verneck. A cruz da menina de Pombal. Coleção Nossa história, nossa gente, vol. 2Pombal: Martins, 2006, pág. 5.
9. ALMEIDA, José Américo de. A Paraíba e seus problemas. 3 ed. João Pessoa: SEC/DCG/A União, 1980, p. 127.
10. BATISTA, Francisco das Chagas. Cantadores e poetas populares. 2 ed. João Pessoa: SEC/CEC/A União, 1997, pág. 15.
11. ALMEIDA, Horácio de. Brejo de Areia (Memórias de um município). Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura/Serviço de Documentação, 1957, pág. 87.
12. SANTOS, José Ozildo dos. Patos: Uma cidade centenária. In: A Voz do Povo, Patos-PB, edição especial, outubro de 2003, pág.
13. TEÓFILO, Rodolfo. Os Brilhantes. 2 ed. São Paulo/Rio de Janeiro: Melhoramentos/INL/MEC, 1972.
14. ABRANTES, Verneck. A cruz da menina de Pombal. Coleção Nossa história, nossa gente, vol. 2. Pombal: Martins, 2006, p. 8.
15. Idem, idem.
16. ABRANTES, Verneck. Op. cit., pág. 5.
17. ABRANTES, Verneck. Op. cit., pág. 6.
18. Idem, idem.

sexta-feira, 31 de maio de 2013


FRANCISCO PINTO DE ABREU


José Ozildo dos Santos
                       
Bacharel em Direito, jornalista, educador e poeta, nasceu a 25 de novembro de 1869, em Campina Grande, Província da Paraíba, sendo filho legitimo de Bernardo Pinto de Abreu e dona Cândida Leopoldina de Oliveira. Em sua terra natal, fez seus estudos básicos. Mais tarde, matriculou-se na tradicional Faculdade de Direito do Recife, diplomando-se em Ciências Jurídicas Sociais, em abril de 1892.
Iniciou sua vida profissional, na Província de Pernambuco, onde ocupou inúmeros cargos, entre eles, o de Promotor Público interino, no Recife, e efetivo, no município do Cabo, além de ter sido Curador Geral de Órfãos, na capital e Juiz Distrital, em Olinda.

 

Francisco Pinto de Abreu

Em fins de 1895, transferiu-se para o Rio Grande do Norte, após ter sido nomeado Diretor Geral da Instrução Pública, pelo Governador Pedro Velho. Professor de matemática no Ateneu Norte-rio-grandenses, com a reforma constitucional e judiciária de 1898, ingressou na magistratura como Juiz de Direito de Ceará - Mirim, funções que exerceu até 30 de setembro de 1901.
Filiado ao Partido Republicano, elegeu-se Deputado à Assembleia Legislativa, para a legislatura de 1901-1903, que foi a quarta do período republicano. Naquela Casa, ocupou a Vice-presidência de sua Mesa Diretora. Ainda em 1901, reassumiu suas funções no Ateneu, passando a ocupar a cadeira de Francês, tornando, ainda, Diretor do referido estabelecimento de ensino (1901-1904). Reeleito deputado, cumpriu seu mandato parlamentar até 1906.
Em 1908, retornou à direção da Instrução Pública, no segundo Governo Alberto Maranhão, “tendo promovido e organizado a Reforma do Ensino daquele ano, autorizada pela lei de 22 de novembro de 1907”. Por seus esforços, como Diretor da Instrução Pública, foi criada a Escola Normal, instalada a 13 de maio de 1908 e vários grupos escolares e escolas isoladas, em todo o território do Estado, sendo, também, “suprimidas todas as escolas primárias existentes, sob o regime de “cooperação municipal”.
Secretário do Governo Alberto Maranhão, no período de 1911 a 1913, foi posteriormente nomeado para ocupar o cargo vitalício de Consultor Jurídico do Estado, funções que das quais afastou-se em 1916, quando, por injunções políticas da época, teve seus vencimentos reduzidos à metade. Desta forma, regressou ao Recife, ali estabelecendo-se com escritório de advogado e, em seguida, assumindo a Secretaria Geral do Estado, no Governo José Rufino.
Anos mais tarde, aposentou-se como professor e Diretor da Escola Normal de Recife, em cuja cidade faleceu a 11 de julho de 1951. Casado três vezes, desposou em segundas núpcias a senhora Maria Suzana de Moura, de tradicional e ilustre família norte-riograndense.
Sócio fundador do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do norte, foi seu primeiro secretario e pertenceu ainda a outras instituições literárias e históricas. Em sua extensão bibliografia, encontramos: ‘Cartas ao Povo’, ‘Amador em literatura’, ‘A Decadência’, ‘Exercícios de numeração’, ‘Espinhos e pétalas’; ‘Frutos e Flores’, ‘Ideias e Máximas’, ‘Discursos’, ‘Poder da Virtude’ (drama), ‘Lírios Murchos’, ‘Poesias’, ‘Notas Jurídicas’ (curso médio), ‘Musa infantil’ (recitação escolar) e ‘O Problema da instrução’.
Jornalista exímio, deixou valiosa coloração esparsa na imprensa diária e em revistas, que circularam na cidade do Natal e no Recife. Homem culto, o Dr. Francisco Pinto de Abreu foi uma espécie de “pedagogo nato mais professor do que bacharel”, que imprimiu reformas didáticas no ensino do Rio Grande do Norte, e, por seu “intermédio nasceria a Escola Normal definitiva”, em Natal.

domingo, 14 de abril de 2013

OS ANIMAIS NO ADAGIÁRIO NACIONAL - I

José Ozildo dos Santos
Rosélia Maria de Sousa Santos

1.               A águia não caça moscas.
2.               A aranha vive do que tece.
3.               A aranha vive do que tece.
4.               A carangueja ao atá quer brincar.
5.               A necessidade faz o sapo pular (ou saltar).
6.               A aranha, da boa flor, faz peçonha.
7.               A ave de bico encurvado, guarda-te dela como do diabo.
8.               A besta comedeira, pedras na cevadeira.
9.               A besta louca, recoveiro maduro.
10.           A besta que muito anda, não falta quem a tanja.
11.           A boi velho não busques abrigo.
12.           A boi velho não cates abrigo.
13.           A boi velho, capim fresco [novo].
14.           A boi velho, chocalho novo.
15.           A burra do vilão mula é no verão.
16.           A burra velha, cilha nova.
17.           A burro velho, albarda nova.
18.           A burro velho, cangalha nova.
19.           A burro velho, capim novo
20.           A cão danado, todos a ele.
21.           A cão fraco acodem as moscas.
22.           A cão grande, grande osso.
23.           A cão mordido todos chicoteiam.
24.           A cão, gaviãozão.
25.           A carangueja ao atar quer brincar.
26.           A carne de lobo, dente de cão.
27.           A carneiro capado não apalpes o rabo.
28.           A cavalo comedor cabresto curto.
29.           A cavalo dado não se abre a boca.
30.           A cavalo dado não se olham os dentes para não levar mordida.
31.           A cavalo magro vêm as moscas.
32.           A cavalo novo, cavaleiro velho.
33.           A cavalo velho, capim novo.
34.           A cobra maior engole a menor.
35.           A cobra quando entra n'água, deixa o veneno em terra.
36.           A cobra se oculta debaixo da erva.
37.           A coelho ido conselho vindo.
38.           A coruja acha seus filhos lindos.
39.           A coruja gaba seu toco.
40.           A cotia ficou sem rabo de tanto cumprimentar.
41.           A formiga ainda pequena mata o crocodilo.
42.           A formiga quando quer se perder, cria asas.
43.           A formiga sabe a folha que rói.
44.           A gado que rói, nunca faltaram farrapos.
45.           A galinha da minha vizinha é mais gorda que a minha.
46.           A galinha da minha vizinha sempre é melhor do que a minha.
47.           A galinha da vizinha põe mais ovos que a minha.
48.           A galinha não põe pelo papo, senão pelo galo.
49.           A galinha o bicho come; a mulher dá que falar.
50.           A galinha onde tem os ovos, tem os olhos.
51.           A galinha que canta como galo corta-se-lhe o gargalo.
52.           A galinha tem os olhos onde tem os ovos.
53.           A galinha velha dá bom caldo.
54.           À galinha, aparta-lhe o ninho, pôr-te-á o ovo.
55.           A gato pintado não se confia a guarda do assado.
56.           A gato velho camundongo novo.
57.           A lebre é de quem a levanta, e o coelho de quem o mata.
58.           A macaco velho não se ensina a fazer caretas.
59.           A mosca nunca pousa senão na fraqueza.
60.           A mula boa, como a viúva, deve ser gorda e ligeira.
61.           A mula com mataduras, nem cevada nem ferraduras.
62.           A mula de vilão, mula é de verão.
63.           A mula e a mulher com afagos fazem os mandados.
64.           A mula e a mulher com pau se quer.
65.           A mula velha, cabeçada nova.
66.           A mula, com afago; o cavalo, com castigo.
67.           A mulher andeira diz de todos, e todos dizem dela.
68.           A ovelha lazarenta gosta de beber na nascente.
69.           À ovelha louçã disse a cabra: dá-me a lã.
70.           A ovelha mais ruim, é a primeira que berra.
71.           A ovelha pior do bando é a primeira que espirra.
72.           A ovelha pior do bando é a que espirra.
73.           A ovelha que é do lobo, Santo Antônio não a guarda.
74.           A ovelha que não tem dono, come-a o lobo.
75.           A pássaro dormente, tarde entra o sebo no ventre.
76.           A porca ruiva o que faz, isso cuida.
77.           A porco gordo, unta-se-lhe o rabo.
78.           A preguiça anda tão devagar, que a pobreza logo a alcança.
79.           A preguiça caminha tão devagar que a pobreza em pouco alcança.
80.           A preguiça morreu de sede ao pé dum rio.
81.           A preguiça morreu de sede, andando a nadar.
82.           A raposa ama enganos, o lobo, cordeiros, e a mulher, elogios.
83.           À raposa dormente, não lhe amanhece galinha no ventre.
84.           À raposa dormida, não lhe cai comida na boca (nada lhe cai na barriga).
85.           A raposa faz o que o leão não consegue.
86.           A raposa faz pela semana com que ao domingo não vá à igreja.
87.           À raposa indolente, não lhe cai a comida no dente.
88.           A raposa muda de pele, mas não de manha/ de natureza/de vezo.
89.           A raposa não mata galinha onde tem os filhos.
90.           A raposa prega às galinhas.
91.           A raposa se conhece pela cauda.
92.           A raposa tanto faz na semana que no domingo vai à missa.
93.           A raposa tem sete manhas, a mulher tem a manha de sete raposas.
94.           A vaca foi para o brejo.
95.           A vaca que não come com os bois, ou comeu antes, ou comerá depois.
96.           A vaca, bem cozida e mal assada.
97.           Abelha atarefada não tem tempo para tristezas.
98.           Abelha dá mel, mas não quer saber de agrado.
99.           Abelha dá o mel, mas não foi feita para beijos.
100.       Abelha preta é arapuá, tempero de negro é manguá.
101.       Abelha só dá mordidela em quem trata com ela.
102.       Abelha, ovelha, pena atrás da orelha e parte na igreja, desejava para seu filho a velha.
103.       Abelha-mestra não tem sesta, e, se a tem, pouca e depressa.
104.       Abelhas e ovelhas têm suas defesas.
105.       Águias não caçam moscas.
106.       Alazão tostado, antes morto que cansado.
107.       Alazão, ou muito bom, ou muito ladrão.
108.       Ao coelho ido, conselho vindo.
109.       Ao gato, por ladrão, não lhe dês de mão.
110.       Ao gato, por ladrão, não o tires de tua mansão.
111.       Ao porco e ao genro, mostra-lhe a casa, e virá cedo.
112.       Aonde está o galo, não canta a galinha.
113.       Aonde o galo canta, aí janta.
114.       Aos cavalos e às mulheres, é guardá-los de alugueres.
115.       Aos peixes não se ensina a nadar.
116.       Aqui é que a porca torce o rabo.
117.       Aqui há gato escondido com o rabo de fora.
118.       Ara com os bois, semeia com as vacas.
119.       Aranha matutina envenena a sina.
120.       Arrenego do cavalo que se enfreia pelo rabo.
121.       As águias não caçam moscas.
122.       As águias não dão pombos.
123.       As cadelas apressadas parem cães tortos.
124.       As galinhas põem pelo bico, e às mulheres o leite vai-lhes pela boca.
125.       As galinhas prendem-se pelo bico.
126.       As moscas apanham-se com mel.
127.       As moscas magras são as mais importunas.
128.       As moscas são sempre as mesmas.
129.       As moscas se pegam com mel.
130.       Até as rãs mordiam, se tivessem dentes.
131.       Até lá ou morre o burro ou quem o tange.
132.       Até marimbondo tem casa.
133.       Até o asno não tropeça duas vezes na mesma pedra.
134.       Até os cisnes se tisnam.
135.       Até os gatos querem fazer sapatos.
136.       Atirar na porca e acertar no leitão.
137.       Atrás do cururu peado todo bicho é corredor.
138.       Ave de bico nunca fez o dono rico.
139.       Ave de casa mais come do que vale.
140.       Ave escarmentada o laço receia.
141.       Aves da mesma pena andam juntas.
142.       Aves de rapina escolhem sempre o melhor.
143.       Aves de rapina não querem companhia.
144.       Babava como boi com aftosa
145.       Bacalhau de porta de venda.
146.       Bacalhau é comer de negro, negro é comer de onça.
147.       Bacalhau quer alho.
148.       Bafo de cão, até com pão.
149.       Bafo de gato que nem chegue ao fato.
150.       Bago a bago, enche a galinha o papo.
151.       Baleias no canal, terás temporal. 
152.       Barata sabida não atravessa galinheiro.
153.       Barbado como um leopardo.
154.       Bem sabe o gato cujas barbas lambe.
155.       Bem se lambe o gato, depois de farto.
156.       Besta de carga, cangalhas ao lombo.
157.       Besta grande, cavalo de pau.
158.       Bezerra brava não mama nada.
159.       Bezerrinha mansa em todas as vacas mama.
160.       Bezerro de pobre não chega a boi.
161.       Bezerro manso mama na mãe dele e na dos outros
162.       Bezerro manso mama todas as vacas.
163.       Bicho que mija pra trás, põe o dono pra frente.
164.       Boa é a galinha que o outro cria.
165.       Bode não morre de fome.
166.       Bode só dá chifrada em quem anda a pé.
167.       Bode também tem barba
168.       Bode, quando não salta, berra.
169.       Boi à larga a si se mata.
170.       Boi andando no pasto, pra lá e pra cá, capim que acabou ou está pra acabar...
171.       Boi aquerenciado, não cansa de sofrer.
172.       Boi atolado, pau nele.
173.       Boi brabo em pasto alheio amansa.
174.       Boi bravo, chegando na terra alheia, se faz de manso.
175.       Boi bravo, depois de morto, todo mundo segura o chifre dele.
176.       Boi bravo, na terra alheia, se faz manso.
177.       Boi cansado, passo seguro.
178.       Boi com boi é que faz junta.
179.       Boi com cincerro no pescoço, é peta pelejar pra se esconder, não é?..
180.       Boi cornudo, cavalo cascudo.
181.       Boi de guia é que bebe água limpa.
182.       Boi em terra alheia é vaca.
183.       Boi irado, n terra dos outros, é bezerra.
184.       Boi ladrão não amanhece em roça.
185.       Boi latreiro, bebe água barrenta.
186.       Boi lerdo bebe água suja
187.       Boi luzidio nunca tem fastio.
188.       Boi mais velho é sempre culpado pela horta ser mal lavrada
189.       Boi manso é que arromba a porteira.
190.       Boi manso em seu corno cresce.
191.       Boi manso novilho atropela
192.       Boi manso, aperreado, arremete
193.       Boi manso, novilho atropela
194.       Boi mau em seu corno cresce.
195.       Boi mocho não dá chifrada.
196.       Boi morto, boca de cobra.
197.       Boi morto, vaca é.
198.       Boi não berra por bezerro.
199.       Boi que come farinha, não cansa.
200.       Boi que marra, quer choupa.
201.       Boi que se atrasa bebe água suja
202.       Boi ronceiro bebe água suja.
203.       Boi sabe a cerca que fura.
204.       Boi solto se lambe todo.
205.       Boi sonso é que arromba curral (ou cerca).
206.       Boi sonso não erra marrada.
207.       Boi sonso, a marrada é certa (chifrada certa).
208.       Boi velho conhece o outro pelo berro.
209.       Boi velho ensina a lavrar o novo.
210.       Boi velho gosta de erva tenra.
211.       Boi velho lavra com os ossos.
212.       Boi velho só com os ossos toca o carro.
213.       Boi velho só morre em terra de gente besta
214.       Boi velho, passo seguro.
215.       Boi velho, rego direito.
216.       Boi viajado, gasta a quina do casco.
217.       Boi, em terra alheia, vira vaca
218.       Boi, na terra alheia, até as vacas chifram
219.       Boiada estoura, é perto do pouso.
220.       Bom cabrito não berra
221.       Bom cão de caça até a morte abana o rabo.
222.       Bom cão de caça até a morte dá ao rabo.
223.       Borboleta quando pousa na gente traz sorte.
224.       Borreguinha mansa mama a sua teta e a alheia.
225.       Burra velha de longe aventa as pegas.
226.       Burrinho que me leve e não cavalo que me arraste.
227.       Burro bravo dá coice até no vento.
228.       Burro bravo dá coice no vento.
229.       Burro calado por sábio é contado.
230.       Burro calado se torna sábio
231.       Burro calado, sábio é.
232.       Burro carregado de açúcar até a rabichola é doce.
233.       Burro com fome, cardos come.
234.       Burro de carga é que aguenta tranco
235.       Burro de muitos depressa fica esfalfado.
236.       Burro de muitos, depressa fica cansado.
237.       Burro e burriqueiro nunca pensam do mesmo modo.
238.       Burro e carroceiro nunca estão de acordo.
239.       Burro esbarrado, burro dado.
240.       Burro gosta de ouvir seus zurros.
241.       Burro mau, a passo ou a trote, corre para casa sem chicote.
242.       Burro mau, indo para casa, corre sem pau.
243.       Burro morto, cevada ao rabo.
244.       Burro não amansa, se acostuma.
245.       Burro não é gato nem cobra, para querer enxergar no escuro.
246.       Burro não se mete em lugar de onde ele não sabe sair.
247.       Burro preto do embornal branco leva o dono até o canto.
248.       Burro que a Roma vá, burro volta de lá.
249.       Burro que dá coice em parede, em si o dá.
250.       Burro que geme, carga não teme.
251.       Burro que muito zurra, pede cabresto.
252.       Burro que vai a Santarém, burro vai e burro vem.
253.       Burro queimado-negro, casa em cima de pedra, e negro chamado Pedro, eu tenho medo...
254.       Burro só não gosta é de principiar viagens...
255.       Burro velho de longe aventa as pegas.
256.       Burro velho gosta de capim novo.
257.       Burro velho não acerta com a encruzilhada.
258.       Burro velho não amansa, acostuma.
259.       Burro velho não aprende línguas.
260.       Burro velho não aprende/não toma ensino.
261.       Burro velho não recebe ensino.
262.       Burro velho não se amansa; acostuma-se, mas não é de confiança.
263.       Burro velho não toma andadura, e se a toma, pouco dura.
264.       Burro velho não toma ensino.
265.       Burro velho não toma freio.
266.       Burro velho só morre em terra de gente besta.
267.       Burro velho, mais vale matá-lo que ensiná-lo.
268.       Burro velho, não aprende línguas.
269.       Burro, onde encosta, mija.
270.       Burro, quando está infeliz, até no lajeiro se atola.

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