O CÓLERA MORBUS NA PARAÍBA
José Ozildo dos Santos
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m 1856, mal refeita de uma epidemia de varíola, que se difundira pelo interior da Província, e de uma outra de febre amarela, que atacara a população da capital, viu-se a Paraíba atingida pela epidemia do ‘cólera morbus’, o famoso mal do Ganges, que espalhou-se pelas províncias nordestinas. A epidemia chegou à Paraíba, vinda do Pernambuco, através de Monteiro, em finais de dezembro de 1.855. Em fevereiro do ano seguinte, já havia atingido toda a Província. Em sua trajetória, a peste asiática ceifou muitas vidas e “de início, fez umas 80 vítimas na povoação de Monteiro, Em fins de desse mês de fevereiro, alastrou-se com maior violência, pelo litoral e pelo Brejo. O Brejo, sobretudo, transformou-se em campo aberto à invasão destruidora, que foi deixando, em sua passagem, vilas e povoações quase reduzidas a necrópoles abandonadas”(1).
No Seridó paraibano, a epidemia também fez muitas vitimas. Durante aquele flagelo, a Paraíba, que possuía uma população orçada em 300.000 habitantes, sofreu um obituário de 25.400 mortos (2). Na freguesia de Cuité o número de mortos chegou a 271, para uma população calculada em pouco mais de 6000 almas (3).
Na cidade de Areia, no Brejo Paraibano, informa Horácio de Almeida, que foi improvisado um cemitério para onde “os defuntos eram carregados em redes ou padiolas, depositados uns sobre os outros na área do improvisado cemitério, enquanto os coveiros abriam valas para sepultá-los. Acontece que do amontoado de cadáveres alguns chegaram a levantar-se, assombrados consigo mesmo e assombrando ainda mais os coveiros com súplicas cavernosas, que não estavam bem mortos quando foram levados pelos carregadores, na pressa que davam-se de enterrar os coléricos”(4).
Foram 2.308 as vítimas do cólera morbus em Areia, segundo registros oficiais. Após sofrer os efeitos do cólera, o Seridó paraibano foi assolado pela fome, que campeava por toda a região devastada. A seca prolongou-se até 1.857. Em auxilio aos flagelados, o governo provincial remeteu para distribuição, alguns donativos e esmolas públicas.
Em dezembro de 1.861, ressurgiu no Pernambuco o mal do Ganges. Este episódio, que ficou conhecido como ‘o segundo cólera’, em janeiro de 1.862, já havia atingido o Seridó paraibano. Entretanto, não foi tão mortífero quanto o primeiro (1.855-1.856), graças as providências adotadas e difundidas na Província.
Segundo relatório apresentado à Assembleia Legislativa, pelo Presidente da Província, Dr. Francisco de Araújo Lima, o obituário causado pelo ‘segundo cólera’ na Paraíba, totalizou 3.323 mortos (5). O que é certo, é que famílias inteiras sucumbiram, deixando um rastro negro em nossa História.
NOTAS
1. ALMEIDA, Horácio de. Brejo de Areia (Memórias de um município). Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura/Serviço de Documentação, 1.957, pág. 129. (Coleção Vida Brasileira, vol. 12).
2. PINTO, Irineu Ferreira. Data para a História da Parayba (II). Edição fac-similar da de 1912. João Pessoa: Editora da UFPB, 1978, pág. 332.
3. PINTO, Irineu Ferreira. Op. cit., pág. 332.
4. ALMEIDA, Horácio de. Op. cit., pág. 129.
5. PINTO, Irineu Ferreira. Op. cit., pág. 332.
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