José Ozildo dos Santos
Rosélia Maria de Sousa Santos
Rosélia Maria de Sousa Santos
1 APRESENTAÇÃO
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istoricamente, o serviço social se configurou no âmbito das relações entre o Estado e a sociedade como fruto das transformações ocorridas nos processos de produção e reprodução da vida social, que instituíram limites e possibilidades ao exercício profissional, condicionando as respostas profissionais dos assistentes sociais aos limites do sistema capitalista.
O presente artigo tem por objetivo mostrar porque o serviço social tradicional, ao longo de seu processo histórico, se preservou fechado em interpretações superficiais das situações sociais-problemas, sem conseguir relacioná-las com a divisão de classe ou com o processo ideológico capitalista.
2 DESENVOLVIMENTO
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Serviço Social surgiu a partir da iniciativa dos grupos dominantes, setores da burguesia, Estado e Igreja, constituindo-se, basicamente, por militantes femininas do movimento católico, que incorporaram a formação doutrinária católica para enfrentamento dos ‘problemas sociais’ (IAMAMOTO, 2007).
Dissertando sobre as origens da profissionalização do Serviço Social, Paulo Neto (2001, p. 79) afirma que:
Originalmente parametrado e dinamizado pelo pensamento conservador, [o Serviço Social] adequou-se ao tratamento dos problemas sociais quer tomados nas suas refrações individualizadas (donde a funcionalidade da psicologização das relações sociais), quer tomados como seqüelas inevitáveis do ‘progresso’ (donde a funcionalidade da perspectiva ‘pública’ da intervenção - e desenvolveu-se legitimando-se precisamente como interveniente prático-empírico e organizador simbólico no âmbito das políticas sociais.
No princípio, os profissionais do Serviço Social foram considerados agentes requisitados pelos interesses burgueses. Tais profissionais tinham suas ações dirigidas à classe subalternalizada e sua missão era implementar e executar as políticas sociais alinhadas com a lógica de expansão do capital.
As pioneiras assistentes sociais possuíam um contato direto com o ambiente operário, tendo como objetivo manter o funcionamento ‘adequado’ da sociedade, cabendo-lhe a missão de desenvolverem ações voltadas para o soerguimento moral da família operária, visando conter a influência anarco-sindicalista.
Influenciados pela concepção de homem-sociedade-estado, alimentada, principalmente, pela doutrina social da Igreja Católica, esses profissionais limitavam suas ações à confirmação da ordem constituída, excluindo-se à crítica. Eram, desta forma, desautorizados a fazer qualquer questionamento que negasse os alicerces da realidade social, da vida social concreta no mundo capitalista.
No Brasil, o Serviço Social foi fortemente influenciado pelos pressupostos do funcionalismo adotado pelo Serviço Social norte-americano, sem, contudo, apresentar uma superação do ideário neotomista, estruturando-se nos períodos em que as concepções desenvolvimentistas tiveram hegemonia no Brasil e no continente latino-americano (AGUIAR, 1985).
Distanciando um pouco da influência européia, no Brasil, o Serviço Social, no princípio, apresentou uma roupagem diferente da caridade, pois seu campo de atuação era o Estado e entidades filantrópicas do empresariado, desenvolvendo um trabalho que se limitava a ações educativas junto à família operária, visado à prevenção dos ‘problemas sociais’.
Nesse período, a questão social era vista, segundo registra Martinelli (2001, p. 114), “de forma bastante reducionista, como manifestação de problemas individuais, passíveis de controle, através de uma prática social cada vez mais nitidamente concebida como uma atividade reformadora do caráter’.
Iamamoto (2007) mostra que o Serviço Social surgiu para atuar em favor da classe dominante, visando conter o avanço do proletariado, impedindo suas lutas e conquistas.
Nesse sentido, o Serviço Social foi concedido para não enfrentar a questão social, ignorando-a. Na concepção de Iamamoto (2007, p. 20-21):
Desconhecendo o caráter de classe dos antagonismos sociais, os efeitos desses antagonismos são considerados motivos relevantes para um tratamento sócio-educativo da ‘clientela’, tratamento esse de cunho doutrinário e moralizador, amplamente haurido no senso comum da classe de origem desses profissionais.
No princípio, os militantes do corpo do Serviço Social internalizaram o projeto de sociedade capitalista e acreditavam nas suas ações, embasadas pela doutrina católica, muito mais do que por uma base propriamente científica.
Embora não estivesse visivelmente no seu discurso, as assistentes sociais serviam aos interesses burgueses, atuando frente às demandas da classe trabalhadora. Nesse período histórico, o Serviço Social não era requisitado pela clientela. Ele era imposto aos usuários como obrigação burocrática às suas aspirações.
Informa Martinelli (2001), que tais profissionais agiam contra as manifestações dos trabalhadores. O serviço social não as enxergavam como expressão da luta de classes e sim como conflitos sociais, geradores de desordem, que deveriam ser equacionadas em favor do equilíbrio da sociedade.
Esse posicionamento fazia com que o proletariado organizado não legitima-se a atuação do Serviço Social. A classe trabalhadora sentia que a ação profissional só os imobilizava política e socialmente.
De tal forma, que o Serviço Social não era requisitado pelo proletariado, por considerá-lo impregnado pelo o pensamento conservador e ser formado por agentes do preconceito. Nesse período histórico, apenas os segmentos mais pobres, que necessitavam da assistência pública, para conseguirem sobreviver no regime capitalista, viam as assistentes sociais com ‘bons olhos’.
Entretanto, se o proletariado ‘repulsava’ o Serviço Social, a burguesia apoiava a sua prática. Pois, para manter sua hegemonia na sociedade, ela necessitava oferecer práticas assistenciais, serviços e benefícios, ocultando a dimensão política das expressões da questão social, e tudo fazia para “bloquear o desenvolvimento da consciência de classe do proletariado e sua organização política” (MARTINELLI, 2001, p.118).
Apesar de se ter registrado nas décadas de 1940 e 1950 uma busca por conhecimentos científicos na psicologia, psicanálise, medicina e no direito, visando reformular sua atividade, o serviço Social continuou fechado em interpretações superficiais das situações sociais-problemas. E, não conseguia relacionar tais situações com a divisão de classes ou com o processo ideológico capitalista.
Informa Martinelli (2001), que o aprofundamento técnico-científico desenvolvido nessa época, não produziu transformações na atuação dos agentes do Serviço Social, que continuaram a intervir com suas tendências pragmáticas e empiricistas em ações educativas e preventivas de transgressões, que poderiam vir a acontecer de acordo com desajustes individuais e morais.
As transformações ocorridas no Serviço Social, nos Estados Unidos, não refletiram nos profissionais vinculados a esse setor no Brasil, de tal forma que aqui:
O Serviço Social manteve seu caráter técnico-instrumental voltado para uma ação educativa e organizativa entre o proletariado urbano, articulando, na justificativa dessa ação o discurso humanista, calcado na filosofia aristotélico-tomista, aos princípios da teoria da modernização presente nas ciências sociais (IAMAMOTO, 2007, p. 21).
Fechado em seu modelo tradicional, apesar de conhecer os novos procedimentos de intervenção, baseados no modelo norte-americano, o Serviço Social no Brasil ainda continuou apresentando traços de um projeto profissional preso aos fundamentos do reformismo conservador e embasado no modelo aristotélico-tomista.
Nesse contexto, o que se percebia era que as assistentes sociais atendiam as exigências de tecnificação, impostas pela modernização da sociedade capitalista e do Estado, sem perder o seu caráter missionário. Havia, pois, uma contradição entre seus objetivos e suas ações.
3 CONCLUSÃO
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echado em interpretações superficiais, no princípio, o Serviço Social defendia a parceria do operariado com a burguesia, utilizando um discurso de ‘cooperação mútua’, tentando convencer o proletariado a empenhar-se ao máximo em seu trabalho, superando qualquer diferença social.
Sustentando a estratégia de controle social, difundindo o modo capitalista de pensar, o Serviço Social tradicional utilizava uma prática voltada aos interesses burgueses, por entender que esta era única forma de consolidar-se como grupo profissional.
E, assim, preso a esses interesses, o Serviço Social não foi capaz de encarar as questões sociais com um problema e nem de correlacioná-las com a divisão de classe ou com o processo ideológico capitalista. Sequer era capaz de vê que era utilizado como instrumento de ampliação da ordem capitalista e de contenção de possíveis avanços do proletariado na direção da luta de classes.
5 REFERÊNCIAS
1. AGUIAR, Antônio G. de. Serviço social e filosofia: das origens a Araxá. 3. ed. São Paulo: Cortez, 1985.
2. IAMAMOTO, Marilda Vilella. Renovação e conservadorismo no serviço social: Ensaios críticos. São Paulo: Cortez, 2007.
3. MARTINELLI, Maria Lúcia. Serviço social: identidade e alienação. São Paulo: Cortez, 2001.
4. PAULO NETTO, José. Capitalismo monopolista e serviço social. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2001.
PARABENS ESSE TEXTO SO ENRRIQUECEU O NOSSO VOCABULARIO E MEU ENTENDIMENTO SOBRE A LINDA PROFISSAO ESCOLHIDA POR MIM1
ResponderExcluirÓtimo como complemento de estudo!
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