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domingo, 11 de março de 2012

O RIO GRANDE DO NORTE NA CRÔNICA POLICIAL DO SÉCULO XIX

ASSASSINATOS EM CEARÁ-MIRIM
(Dezembro de 1879)

José Ozildo dos Santos

D
e 1867 a 1869 houve uma redução no número de crimes cometidos no Rio Grande do Norte. Dos 34 homicídios praticados neste período, dois que tiveram como palco o município de Ceará-Mirim merecem destaque. No dia 24 de dezembro de 1869, quando a população daquela próspera cidade comemorava o nascimento do menino Jesus, foi abalada com a notícia do assassinato do ancião José Joaquim Soares da Câmara, membro de uma das mais importantes famílias da região.
O crime foi praticado pelo escravo Joaquim (de propriedade da vítima), que contou com o auxílio de Agostinho de Barros Torres. O fato foi relatado pelo Chefe de Polícia ao Presidente da Província, nos seguintes termos:
“No dia 24 de dezembro próximo passado descançava  tranqüilo em sua casa, no sítio Tamanduá, o ancião proprietário José Joaquim Soares da Câmara, cuja família ali o havia deixado só em companhia de um menor, por ter ido à sede da villa ouvir a missa do Natal.
Nesse dia, Joaquim, escravo, que andava fugido com receio de ser castigado por faltas, que commettera como vaqueiro da fazenda do seu senhor concebeu o malévolo e criminoso intento de assassina-lo. E assim, para realisar tão nefando projecto convidou a Agostinho de Barros Torres, irmão de uma mulher com a qual entretinha relações illícitas.
Ao fechar da noite, depois de se haverem emboscado perto da casa, conseguiram invadi-la pela porta de detraz, e encontrando a victima no corredor, Agostinho desfechou-lhe uma tremenda cacetada sobre a cabeça, dando-lhe o escravo Joaquim por sua vez outra cacetada, das quaes instantaneamente succumbio aquelle infeliz.
Para cumulo de perversidade amarraram o cadáver pelo pescoço com uma corda de laçar gado e o suspenderam do chão atado em um torno, collocado na parede. Depois roubaram-lhe todo o dinheiro e papeis importantes, taes como títulos de divida, que existiam em casa.
Tendo-se evadido os autores de tão atroz, delicto, foram, depois em poucos dias capturados, mediante os esforços empregados pela polícia (...)”.
Dois dias depois desse sinistro acontecimento, ocorreu um novo crime naquele município: uma jovem de nome Joana foi assassinada por seus irmãos José e João Pedro de Castro. O fato ocorreu no lugar denominado Veríssimo, localizado nos subúrbios da antiga vila de Ceará-Mirim.
Os acusados, aproveitando-se da ausência de seus pais, por motivo de honra de família, assassinaram a irmã, “estrangulando-a com uma corda e por meio de compressões cujos vestígios foram observados no corpo de delito a que se procedeu”.
Presos, os irmãos José e João Pedro de Castro confessaram o horroroso crime que praticaram, declarando que amarraram a irmã depois de morta pelos pés e pelo pescoço, e, com o auxílio de um pau, conduziram-na para o mato, onde sepultaram o corpo da pobre moça numa cova rasa, previamente aberta. Dias depois, o referido cadáver foi exumado pelo delegado de polícia local, Major Miguel Ribeiro Dantas Júnior, responsável pelas prisões dos irmãos criminosos.
Pronunciados, os assassinos do ancião José Joaquim Soares da Câmara foram presos e recolhidos à cadeia de Ceará-Mirim. Ali, misteriosamente, o escravo Joaquim faleceu no dia 30 de junho de 1870, seis meses após assassinar seu antigo dono. O processo contra o segundo envolvido não foi apresentado.
Quanto aos irmãos José e João Pedro de Castro foram levados a juramento no dia 12 de setembro daquele mesmo ano de 1870. O primeiro, foi condenado à pena de morte, o segundo, à prisão perpétua.

Um comentário:

  1. Parabéns José Ozildo por mais este resgate histórico.

    Att.

    Rau Ferreira
    Blog HE

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