Hoje é

domingo, 14 de julho de 2019


A PEDRA DO LETREIRO DA FAZENDA ANGICOS,
EM EMAS - PB


José Ozildo dos Santos
Rosélia Maria de Sousa Santos
Almair de Albuquerque Fernandes

Localizada na Fazenda Angicos e distante cerca de 2,5 km da cidade de Emas, a Pedra do Letreiro, ou melhor, o Sítio Arqueológico Angicos é o mais importante do município. Formado por duas grandes rochas arredondadas, nele é possível encontrar pinturas e gravuras rupestres, existindo, em alguns locais, sobreposição de caracteres.
Pela quantidade, pela visibilidade, contornos e definição dos caracteres, o mencionado sítio possui um grande valor arqueológico.  No painel principal, localizado cerca de 1,10 m acima do nível do solo, estende-se um conjunto de símbolos geométricos, bem definidos, que mesclam gravuras e pinturas.
Na parte superior, bem no centro do referido painel, algo chama a atenção. Trata-se de uma pintura, que esboça algo semelhante a uma cruz, envolta a diversos outros pequenos símbolos, a maioria com visibilidade comprometida.
Esse painel se desenvolve por toda a lateral da pedra suporte que foi polida em sua base, antes da confecção dos caracteres que apresentam. À semelhança do primeiro bloco, o segundo também é completamente coberto de caracteres, tanto pinturas quanto gravuras. No entanto, quando comparado com o primeiro bloco, anteriormente descrito, apresentam um maior número de pinturas e gravuras.
O sítio mostra gravações com frequência de sinais geométricos (circulares e lineares), apresentando-se mesclados no meio das pinturas rupestres, em ambos os blocos rochosos.
As gravações, em sua grande maioria, estão colocadas sobre as rochas horizontalmente, com raros casos verticais. O mesmo ocorre com as pinturas.
Todas as representações rupestres encontradas nesse sítio estão expostas às intempéries, o que vem produzindo um elevado desgaste natural. Nele, não é notada nenhuma pichação. Muitas das gravuras existentes na base, somente têm seus contornos definidos quando observadas cuidadosamente.
A técnica de produção dos capsulares do Sítio Angicos foi a gravação por polimento, executada por um instrumento aguçado, que criou cavidades uniformes e circulares, com bordas bem definidas.
As pinturas e gravuras existentes no referido município, possuem semelhança com as encontradas em outras localidades do sertão paraibano, que "ocorrem principalmente em painéis horizontais, decorando outeiros de grandes proporções quase sem deixar espaços livres".
Envoltas pelas lendas populares, tais representações rupestres foram produzidas com apurada técnica. Mas, a quem atribuir tão perfeitos detalhes em rocha tão dura como o granito? Teriam sidos produzidos por uma comunidade pré-histórica, que deixou os vestígios de sua passagem, gravados nas duras rochas?
 Seriam vestígios deixados por fenícios, como afirmou Ludovico Schwennhagen, pesquisador austríaco que visitou a Paraíba copiando nossos caracteres rupestres e promovendo palestras?
Na concepção da professora e arqueóloga Gabriela Martin: "A tendência atual entre os arqueólogos é não interpretar as representações rupestres e sim apenas descrever o que há, o que se pode ver, procedendo-se a análise mais técnicas do que interpretativas, utilizando-se critérios técnicos que valorizam saber-se como grafismos foram realizados, quais os recursos matérias empregados e, principalmente, quais os grafismos que podem ser considerados como representativos de uma tradição rupestre determinada".


O Sertão Paraibano é rico em registros rupestres. São gravuras e pinturas, que assumem formas e tamanhos diferentes e encontram-se espalhadas por quase todos os municípios da região, em serras, penhascos, cursos d'água e em outros lugares. Dissertando sobre a característica temática das gravuras rupestres existentes no nordeste brasileiro, principalmente, ao longo da cordilheira da Borborema, o historiador e professor Wanderley de Brito, afirma que: "Não sabemos que razões impulsionaram estes gravadores a decorar exaustivamente tão extensos lajedos. De composição esdrúxula, estes tapetes pétreos de gravuras nos conduzem às mais profundas reflexões sobre o universo cabalístico de nossos ancestrais e, diante do testemunho de tão complexa cultura, que se precipitou na obscuridade, nos sentimos um epifenômeno completamente destituído de referencial.

Sobre a origem dessas intrigantes pinturas existem várias teorias, inclusive, aquelas que escapam ao domínio da arqueologia e que afirmam serem tais caracteres, vestígios deixados por alienígenas que visitaram a Terra em remotas eras. Tais conjecturas não possuem embasamento científico e nem sustentação acadêmica.
A arqueóloga Gabriela Martin, que já há vários anos vem estudando as gravuras e pinturas rupestres do interior nordestino, ressalta que: "São conhecidas as dificuldades de relacionar-se registros rupestres com a cultura material, identificadora dos grupos étnicos responsáveis, pois muitas e muitas vezes, as pinturas e, ainda mais, as gravuras rupestres, especialmente no Brasil, são a única variável visível que marca a presença humana e identifica sítios arqueológicos. Muitos deles foram pintados ou gravados, sem que as condições de permanência no local ou a escolha seletiva de rochas ao longo dos cursos d’água, ofereçam condições de se obter vestígios de cultura material factíveis de relacionamento seguros com os registros".
No entanto, é oportuno ressaltar que “os primeiros conquistadores europeus ficaram perplexos ao encontrarem, pintados ou gravados nas rochas, símbolos cujo significado os índios brasileiros desconheciam e atribuíram a seres míticos sua confecção em remotíssimas eras. Aproximadamente quatro séculos após sua descoberta, certo mistério envolve ainda as inscrições rupestres brasileiras que os aborígines chamavam de itaquatiaras”. Pois, essas “itaquatiaras, virtualmente encontradas em todo o Brasil, ostentam inscrições gravadas ou pintadas e gravadas e pintada. Estão situadas às vezes em locais comodamente atingíveis ou em lugares alcantilados de acesso penosíssimo. Em algumas são vistas figurações primitivas e em pequeno número, noutras, desenhos artisticamente elaborados em grandes painéis no interior de grutas ou a céu aberto”.



Mas, quem foram os executores das gravuras e pinturas rupestres do município de Emas? A teoria mais aceita é que tais vestígios do passado teriam sido obra dos indígenas, "o que não quer dizer que tenham sido executadas, obrigatoriamente, pela população que os portugueses encontraram no Brasil no século XVI. Podem ter sido obra de grupos indígenas extintos ou que não mais habitavam o local à época do descobrimento".

Independentemente de existir ou não uma interpretação para as inúmeras pinturas e gravuras rupestres existentes no município de Emas, urge conservá-las a todo custo. Pois, Quase todos esses vestígios encontram-se a céu aberto e estão sujeitos às ações do intemperismo, sofrendo um processo contínuo de desgaste. 
A análise múltipla destas pinturas/gravuras proporcionará respostas também múltiplas, permitindo que a sociedade atual tenha um maior conhecimento da sociedade pré-histórica que realizou tais representações.

FONTE: SANTOS, José Ozildo dos; SANTOS, Rosélia Maria de Sousa; FERNANDES, Almair de Albuquerque. Aspectos Históricos, Antropológicos e Geopolíticos do Município de Emas – PB. Patos: Soluções & Consultoria e Projetos, 2011




Nenhum comentário:

Postar um comentário

GOSTOU? COMPARTILHE!

Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites More