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sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

70 ANOS SEM ALLYRIO WANDERLEY

 

José Ozildo dos Santos

 

Figura da maior projeção da literatura paraibana, ALLYRIO MEIRA WANDERLEY foi considerados um dos maiores escritores do Brasil, na década de 1940. Jornalista da melhor escol dialogava com as letras de uma maneira magistral. Possuía um estilo único e a capacidade de se expressar elegantemente, falando o escrevendo.

Nasceu aos 22 de outubro de 1906, na fazenda Campo Comprido, termo e comarca do município de Patos, no sertão paraibano. Foram seus pais Francisco Olídio Mon­teiro Wanderley e Inácia Maria Meira Wanderley. Em 1912, aos cinco anos de idade, vencida a ‘Carta de ABC’, foi matriculado no ‘Colégio Leão XIII’, fundado e dirigido na cidade de Patos, pelo talentoso padre José Viana. Naquele estabelecimento de ensino, fez seus primeiros estudos.



Em fevereiro de 1919, transferiu-se para a capital paraibana, onde matriculou-se como interno do ‘Colégio Diocesano Pio X’. Em agosto daquele mesmo ano, mal tinha vencido a primeira etapa do ano letivo, adoeceu de uma infecção intestinal e teve que retornar ao lar paterno, onde esteve preso ao leito, por quatro meses. Com a saúde restabelecida, foi enviado para o Recife.

Naquela capital, concluiu o secundário no ‘Colégio Salesiano’. Em junho de 1924, deixou o Recife com destino à capital pau­lista tendo em mente prosseguir com os estu­dos e trabalhar. Entretanto, em São Paulo, não encontrou o esperado.

Os empregos que conseguiu, foram temporários. E, desempregado, as dificuldades foram aumentando. A lembrança dessa fase difícil de sua vida seria transportada para um de seus romances - ‘Bolsos Vazios’ - que, sem dúvidas, são suas próprias memórias. No início da década de 1930, passou a trabalhar como tradutor para jornais e editoras, de São Paulo.

Foi nesse período que traduziu para o português, vários autores russos consagrados, a exemplo de Leon Tolstoi (‘Khadji-Murat’ e ‘Padre Sérgio’), Dostoievski (‘O Jogador’) e Leonid Andreief (‘Judas Iscariotes’ e ‘Os Sete Enforcados’).

Jornalista talentoso, em 1931, passou a escrever para as páginas do jornal ‘A Razão’, publicado na capital paulista. Seguidamente, ali, atuou no ‘Correio de São Paulo’, ‘Correio Paulistano’, ‘O Dia’ (1933), ‘A Platéia’ e ‘A Gazeta’.

Era, pois, um jornalista de sucesso, quando estreou no mundo das letras com o romance ‘Sol Criminoso’, publicado em 1931. O referido livro, bastante aceito pela crítica, foi laureado pela Academia Brasileira de Letras (1932) e marcou uma época na literatura nacional. 

Conferencista de talento, dono da palavra limpa, ao longo de sua produtiva existência proferiu várias palestras, abordando sempre temas polêmicos. 

Espírito culto, possuidor de um estilo imitável, escrevia sem parar. De 1932 a 1933, produziu: ‘Cães sem Donos’ (romance), ‘Serões de uma Traça’ (volume de crítica) e inexplicavelmente deixou inacabado o romance ‘Caminhos da Bronzeada’.

Em 1934, publicou o romance ‘Os Brutos’. Desse último ano é também o seu segundo volume de crítica, intitulado ‘A Seara do Próximo’, que, a exemplo do primeiro, também ficou inédito. Por esse tempo, passou a escrever para as páginas d‘A Gazeta’, editada em São Paulo. 

Membro da Associação Paulista de Imprensa, em meados de 1935, publicou o polêmico livro ‘As Bases do Separatismo’, cujos exemplares numerados e rubricados pelo autor, foram apreendidos pela polícia, na capital paulista.

Por pregar em seu livro a divisão do Brasil em cinco regiões distintas, foi perseguido pelo Governo de Vargas. Retornando ao seio familiar, refugiou-se na Fazenda Campo Comprido - de seu pai - enquanto aguardava uma decisão judicial, por parte do Tribunal de Segurança Nacional.  

Absolvido por unanimidade, por algum tempo, continuou na cidade de Patos, isolado do ‘mundo’, mas apegado a sua pena. Em 1940, publicou seu quarto livro - ‘Bolsos Vazios’. Por esse tempo, passou a colaborar nas páginas d‘A União’, jornal estatal paraibano. 

Em João Pessoa, no início de 1945, dirigiu ‘O Estado da Paraíba’, matutino independente e noticioso. Ainda em finais daquele ano, convidado, tornou-se crítico literário do jornal ‘A Manhã’, editado no Rio de Janeiro, para onde transferiu-se.

Em julho do ano seguinte ingressou nos ‘Diários Associados’. E, com total liberdade de expressão passou a escrever para ‘O Jornal’, onde manteve por quase três anos uma coluna sob o título ‘A Ronda dos Livros’.

No Rio de Janeiro, publicou seu quinto livro - ‘Ranger de Dentes’ - romance que traz o subtítulo ‘Crônicas de um Ocaso’ (1945). Com este livro, iniciou uma série de romances autônomos. Assim, produziu ‘As Formigas’ e ‘Espinho Branco’, que ficaram inéditos. O primeiro, traz como subtítulo ‘Crônicas de um Ocaso II’.

Nos início da década de 1950, retornou à Paraíba, fixando-se em João Pessoa, onde, logo cedo, passou a militar na imprensa local, atuando como colunista nas páginas d‘O Norte’. Seguidamente, colaborou no ‘Correio da Paraíba’ (1953) e no ‘Paraíba Agrícola’ (1954), bem como no ‘Diário de Notícias’ (1953) e na ‘Gazeta de Alagoas’ (1953), estes últimos, editados no Rio de Janeiro e em Maceió, respectivamente.

Seu último livro - ‘Os Carneiros Cinzentos’ - foi publicado em 1954, através da Editora Teone, de João Pessoa. Lamentavelmente, não viveu o suficiente para ver o reconhecimento de sua obra literária, falecendo no dia 15 de janeiro de 1955, em sua residência, no bairro Santa Júlia, na capital paraibana.

Seu corpo, em câmara ardente, foi exposto por todo o dia no salão nobre da ‘Associação Paraibana de Imprensa’. Transladado para a cidade de Patos, foi sepultado no Cemitério São Miguel, em sua cidade natal. Homem inteligente e de imaginação fértil, é patrono da cadeira nº 37, da Academia Paraibana de Letras.

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