José Ozildo dos Santos
Criado pela Lei Estadual Nº 907, de 21 de novembro de 1953, o município de Ouro Branco foi oficialmente instalado no dia 1º de janeiro do ano seguinte. Na época, ‘A Voz do Seridó’, periódico editado na cidade de Currais Novos, sob a responsabilidade de Oscar Pinheiro, Wladimir Limeira e Gumercindo Amorim, publicou a seguinte nota: “Em Ouro Branco, sob a presidência do sub-delegado local foi instalado o novo município. Falara muitos oradores, inclusive o Deputado Neto Guimarães, o vereador Wladimir Limeira e o Coleto Álvaro Fragoso. Presença de luzida caravana do município paraibano de Santa Luzia. Luis Brasilisso fez entusiástico discurso”.
Assim surgiu no cenário geopolítico do Estado do Rio Grande do Norte, o município de Ouro Branco.
Às 05:00 horas da manhã daquele dia 1º de janeiro de 1954, cinqüenta e sete anos atrás, uma giranda de fogos despertou a nascente cidade, que acordou em clima de festa. Os preparativos para o ato solene de instalação do novel município tiveram início no mês anterior. A população local contava os dias desde que tomou conhecimento que o governador do estado Sylvio Piza Pedroza, havia sancionado a lei criando o municio de Ouro Branco.
Ainda noticiando as festividades e o ato de instalação do referido município, o jornal ‘A Voz do Seridó’ em sua edição mensal de janeiro de 1954, dizia em sua página 2:
“No dia primeiro do corrente mês, foi instalado o município de Ouro Branco, desmembrado de Jardim do Seridó. A sessão de instalação, que teve lugar nos salões do Grupo Escolar, contou com a presença de compacta multidão, que aplaudiu, entusiasticamente os oradores e de delegações dos municípios de Currais Novos, Parelhas, Jardim do Seridó e de Santa Luzia, no estado da Paraíba”.
Em 1954, Jardim de Seridó, município mãe, era administrado pelo senhor Antônio Antídio de Azevedo. No entanto, o referido prefeito talvez chateado com a perda de tão significativo centro produtivo e deixando de cumprir um importante compromisso administrativo, não veio a Ouro Branco para participar do ato de instalação do citado município.
Na época, este fato repercutiu negativamente em todo o Seridó, e, principalmente, em Ouro Branco, onde o referido prefeito havia sido bem votado nas eleições de 3 de outubro de 1950. Ausente também esteve o juiz titular da Comarca, o Dr.Vandeci Abanez Veras, que deveria presidir a solenidade de instalação do novo município.
Registrando este de ato descompromisso para com o povo ourobranquense, a ‘A Voz do Seridó’ assim se expressou:
[...] O sub-delegado de Polícia, na ausência de qualquer outra autoridade superior, de acordo com a Lei, presidiu a sessão, durante a qual discursaram o deputado Neto Guimarães, autor do projeto de criação do município, o vereador curraisnovense Wladimir Limeira, o coletor federal Álvaro Fragoso, o líder parelhense Natanael Rodrigues de Carvalho e dois representantes de Santa Luzia.
Nenhum dos dozes vereadores de Jardim do Seridó compareceu ao ato de instalação do município de Ouro Branco e isto também foi notado pela população local. O deputado João Neto Guimarães, a quem Ouro Branco deve sua emancipação política, era natural de Currais Novos, onde foi prefeito discricionário no período de 1934-1935. Eleito deputado, teve uma passagem curta pela Assembléia Legislativa do Rio do Grando, somente fazendo parte da legislatura de 1950 a 1954. Na política, foi substituído por seu filho Mariano Guimarães, que também foi prefeito de Currais Novos (1963-1969).
O vereador Wladimir Limeira, importante liderança do Partido Social Democrático (PSD) curraisnovense, destacou-se na Câmara Municipal daquela cidade seridoense, por suas constantes intervenções e pleitos a favor dos servidores públicos municipais. Além de político, militou na imprensa provinciana, sendo redator d‘A Voz do Seridó’.
O coletor federal Álvaro Fragoso, possuía raízes paraibanas e era membro de uma importante família da Serra do Teixeira, da qual faz parte Dom Antônio Fragoso, ex-bispo de Crateús (CE), Luiz Fragoso Batista (Frei Hugo) e José Fragoso Filho (Frei Domingo), três irmãos que abraçaram a vida religiosa.
O líder parelhense Natanael Rodrigues de Carvalho, que se fez presente ao ato de instalação do município de Ouro Branco, viveu seus últimos de vida em sua terra natal, desfrutando da admiração e do respeito de seus conterrâneos, tendo administrado interinamente a cidade de Parelhas, no período de 1947 a 1948.
Noticiou ainda ‘A Voz do Seridó’, que durante as solenidades de instalação do município de Ouro Branco:
[...] O líder local Luiz Brasilisso, futuro candidato a prefeito pela coligação pessedo-progressista, pronunciou também entusiástico discurso. Usou ainda da palavra o prócer proletário pessedista de Currais Novos, snr. Luiz Bandeira de Melo”.
As festividades de instalação do município de Ouro Branco transcorreram ao longo de todo o dia. Girandas de fogos eram ouvidas a cada hora. E, “à noite foi levado a efeito magnífico baile, que se prolongou até às primeiras horas da manhã do dia seguinte”.
Assim foi a instalação do município seridoense de Ouro Branco, direto das páginas amareladas de um velho jornal – de minha coleção – para as páginas da Web, cinqüenta e sete anos depois.
JBAnota – O Blog Construindo a História, do historiador José Ozildo Santos, é uma fonte de pesquisa que tem prestado serviço a história do pais e ao estado do Rio Grande do Norte. Os parabéns pela iniciativa e a expectativa de que seja perseverante no resgate dos fatos marcantes do povo brasileiro.
ResponderExcluirPostado por AssessoRN - Jornalista Bosco Araújo
Caro Professor. Apesar de algumas críticas recebidas, a cada dia me sinto mais satisfeito por ter cedido o arquivo do Fórum de Caicó para o Curso de História da UFRN/CERES. Encontrei vários trabalhos escritos pelos alunos do referido curso que se baseiam no material judicial cedido.
ResponderExcluirNossa história ainda precisa ser escrita e blogs como o teu são espaços especiais para historiadores presentes e futuros. Parabéns pelo trabalho.
Caro Henrique Vilar,
ResponderExcluirSempre achei que a sua iniciativa foi por demais louvável e ímpar. Sob a orientação dos professores do Curso de História da UFRN/CERES, grande parte do acervo judiciário da antiga Comarca do Seridó, foi catalogada e disponibilizada para a pesquisa acadêmica, enriquecendo a história do Rio Grande do Norte com fatos autênticos e evitando que a mesma seja ‘escrita’ com base em ‘causos’. Para o historiador, o documento histórico possui uma dimensão muito grande. Espero que exemplos como o seu sempre aconteçam. Pois, somente assim um dia seremos um povo... conhecedores de nossa verdadeira história, pelos menos.
Um forte abraço,
Ozildo
Parabéns pela matéria. Um pequeno adendo: Mariano é irmão de João Neto. Obs: sou neto de João e sobrinho neto de Mariano.
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