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quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

PEDRO AMÉRICO:

O ESCRITOR

José Ozildo dos Santos

D
e certa forma, Pedro Américo foi a maior descoberta promovida pela naturalista Jacques Brunet, na Paraíba. Quando aquele francês chegou em Areia, no ano de 1853, surpreendeu-se com um jovem garoto, que possuía uma grande vocação para a pintura e notificou o fato ao conhecimento do governo imperial. Ao deixar Areia, Brunet levou consigo o jovem Pedro Américo, que embora tivesse pouco mais de 10 anos de idade, passou a ocupar o cargo de desenhista assistente da missão científica, viajando por o nordeste brasileiro, transportando-se em seguida para o Rio de Janeiro, onde ingressou no Colégio Pedro II e depois na Academia Imperial de Belas Artes (AIBA).  


Seu sucesso era tamanho, que foi notado até pelo imperador Dom Pedro II. Amante das artes, aquele monarca encarregou-se pessoalmente de providenciar sua transferência para Paris, concedendo-lhe, para tanto, uma bolsa de estudos.
Em 'Na cidade eterna', Pedro Américo apresenta-se como um romancista completo. Talvez, por ter sido grande demais na pintura, a sua obra literária ainda não tenha merecido a devida atenção. O referido livro traz como subtítulo 'Sonho de Juventude'.
Trata-se de um romance descritivo e psicológico, conforme rotula o próprio autor, acrescentando que "o romance psicológico é talvez, o mais difícil do gênero".  Nele, Pedro Américo analisa a alma de um artista em situações imaginárias, numa "tentativa de sondar o espírito e o coração humano".
Em 'O Holocausto', escrito e publicado em Roma, no ano de 1882, Pedro Américo faz um desabafo, numa carta-prefácio dirigida ao seu amigo Luís Guimarães Júnior, afirmando que "em quanto as paixões políticas corroem as inteligências eleitas e estragam quase tudo quanto em nosso país tem alguma beleza, vai o magnânimo coração brasileiro achando prêmios para todas as energias e prantos para todas as desgraças, menos para as grandes vocações artísticas, que lutam heroicamente e sucumbem, depois de alastrarem o solo de luzes e o umedecerem de lagrimas".
Pedro Américo era um homem extremamente ligado à sua terra natal. Mesmo vivendo na 'Cidade Eterna', não esquecia a sua exuberante cidade de Areia, 'escondida no pendor oriental da serra da Borborema'.
O drama narrado em 'O Holocausto', se desenvolve em Areia. E nele, Pedro Américo traz para a ficção, figuras que lembram personagens reais de sua própria cidade natal.  Escrito em português, o referido romance foi publicado em Florença, no ano de 1882.
O romancista não conseguia se separar do pintor. Até escrevendo, Pedro Américo conseguia pintar. Entre um espaço e outro, no romance 'O Holocausto' aquele paraibano ilustre, pintou diversos quadros que retratam sua terra natal.
Num determinado momento, registrou: "De continuo banhada pelos ventos irregulares das bandas do mar, que fica-lhe a mais de vinte léguas ao oriente, sob um céo transparente e de cor intensissima, cingida de um verdadeiro Éden de robusta vegetação, Arêas impressiona menos aos estrangeiros pelos seus habitantes, cujos costumes são simples e brandos, pelo seu clima temperado e saudável, pelos seus fructos succulentos e saborosos, do que pela formosura de suas mulheres, freqüentemente louras, pela sua tendência à elegância e ao progresso, e, principalmente, pela sua situação geológica, eminentemente própria para desenvolver a sensibilidade e a melancolia".
Pedro Américo era um provinciano autêntico. Em quase tudo que escreveu e publicou, a Paraíba ou a cidade de Areia, com suas 'estórias' e seu povo, se fazem presentes. Assim também foi em 'Amor D'esposo', uma espécie de narrativa histórica, publicada em Florença, no ano de 1886.
Nele, o autor novamente ilustra a narrativa com figuras humanas, cujos perfis foram criados a partir de personagem reais de sua querida cidade de Areia, indo buscar no passado a figura de seu avô, o velho Manoel de Cristo, com quem aprendeu música, informando que o mesmo "era um Pernambucano conhecido em toda a sua província natal, na província da Parahyba, nas do Rio Grande do Norte, do Ceará, e ainda em outras, pelo seu grande talento de compositor de musica sacra, pela sua coragem, pelas suas idéas adiantadas, pelos seus serviços á causa publica, pelas suas innumeras relações com os homens summos do paiz, por numerosos acontecimentos sociaes e políticos a que ligara o próprio nome, e, finalmente, por todos os dotes que exornavam a sua grande alma de artista e patriota".
Embora tenha saído ainda muito jovem da Paraíba, Pedro Américo carregava consigo as lembranças de sua terra. E, de forma imaginária, respirava o suave aroma do pendor oriental da serra da Borborema.
No entanto, este lado provinciano de Pedro Américo não é explorado por seus biógrafos. A justificativa para isto resume-se a pouca divulgação de sua obra literária, na atualidade.  Sem sombra dúvidas, uma reedição integral das obras literárias de Pedro Américo seria uma grande contribuição à literatura paraibana e preencheria algumas lacunas da vida desse magnífico filho da Borborema, dotado de altos predicados e de vasta cultura.
A verdade é que muito pouco se conhece de nossa produção literária do século XIX e até o momento, pouca também sido a atenção dada a mesma por parte dos organismos culturais do estado.
Em algumas páginas do livro 'Amor D'esposo', Pedro Américo deixa pequenas notas autobiográficas, assim o faz quando afirmou: "muitos dos meus companheiros de estudo, quer das Universidades da Sorbone e de Bruxelas, quer do Instituto de Mr. Ganot, ou ainda da Academia das Belas Artes de Paris, riam-se da exagerada pureza da minha alma, e, para se divertirem, apostavam que eu havia de acabar frade ou soprano da Capela Sixtina".
Pedro Américo não foi somente um gênio na pintura. Ele também possuía o dom da palavra limpa, do aticismo da linguagem. Falando ou escrevendo, ele também era um gênio.
Sua longa permanência na Europa, em país como França, Itália e Portugal, possibilitou-lhe o contato direto com renomados nomes da literatura e da filosofia universal do século XIX. E, mesmo caminhando pelas amplas ruas de Paris ou de Roma e conquistando aplausos em inúmeras exposições ou conferências, Pedro Américo continuou sendo um autêntico filho da Paraíba.
Talvez, tenha sido isto o que fez com seus conterrâneos lembrassem de seu nome, elegendo-o deputado à Assembléia Nacional Constituinte de 1891, onde também teve uma participação significativa, conforme pode-se constatar através da leitura de seus discursos parlamentares, publicados no Rio de Janeiro, em 1892.

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