O SACERDOTE E O EDUCADOR
José Ozildo dos Santos
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acerdote, orador, latinista, educador e musicólogo, o monsenhor Amâncio Ramalho Cavalcanti nasceu no dia 15 de março de 1886, na antiga Vila de Misericórdia - atual cidade de Itaporanga - no alto sertão paraibano. Foram seus pais Antônio Cavalcanti de Almeida Lacerda e dona Francisca Ramalho Cavalcanti. Sua família era radicada em Pombal e naquela cidade, fez seus estudos primários. E, vocacionado para o sacerdócio, aos treze anos de idade ingressou no Seminário Episcopal da Paraíba, onde fez seus estudos menores e os cursos de Filosofia e Teologia.
No dia 13 de novembro de 1904, recebeu das mãos de dom Adauto Aurélio de Miranda Henriques as ordens menores, em solenidade realizada na Catedral de Nossa Senhora das Neves. No entanto, como não possuía ainda a idade canônica, concluindo seus estudos superiores, tornou-se professor do referido Seminário.
Em 1906, transferiu-se para o Piauí, na companhia de dom Joaquim Antônio de Almeida, que fora nomeado primeiro Bispo da Diocese de Teresina. Naquela Diocese, foi vice-reitor do seminário local (1907-1911), diretor e professor do Colégio Diocesano (1908-1911). Em 1908, tornou-se diácono, ordenando-se sacerdote a 30 de maio de 1909, em cerimônia litúrgica realizada na Catedral de Nossa Senhora das Dores, em Teresina.
Em 1911, dom Joaquim de Almeida foi nomeado primeiro bispo da recém-criada Diocese de Natal e na companhia daquele prelado, o jovem padre Amâncio Ramalho veio exercer seu sacerdócio no Rio Grande do Norte. Em meados daquele ano, foi nomeado coadjutor da Paróquia de Ceará-Mirim, ascendo à condição de vigário no ano seguinte, em substituição ao padre Agnelo Fernandes de Queiroz.
Por alguns meses, durante o ano de 1914, esteve licenciado para tratamento de saúde. Em 1915, a convite de dom Adauto de Miranda Henriques, transferiu-se para a Paraíba, tornando-se pároco da antiga Freguesia de Nossa Senhora da Luz, sediada em Guarabira, em substituição ao cônego Vicente Férrer Pimentel, ali falecido no dia 6 de junho de 1915.
Monsenhor Amâncio Ramalho Cavalcanti
Naquela importante cidade do interior paraibano, sua permanência foi curta. Em princípios de 1916, tornou-se vigário da Catedral de Nossa Senhora das Neves, de João Pessoa, funções que acumulou com a direção do Colégio Diocesano Pio X. No entanto, no ano seguinte, foi obrigado a licenciar-se de suas atividades sacerdotais, por três meses, para submeter-se a novo tratamento médico.
Restabelecido, reassumiu suas funções. Distinguido com o título de cônego honorário da referida Catedral, em 1918 foi nomeado vigário da antiga Matriz de Sousa, no alto sertão paraibano.
Em 1922, deixando a Paraíba, por um curto período, esteve em Ilhéus, na Bahia, onde foi capelão e professor do Colégio Diocesano local. Naquela cidade, dirigiu “O Monitor”, periódico mantido pela diocese. Designado vigário de Itabuna, ali também exerceu sacerdócio por pouco meses. Retornando à Paraíba, ainda em meados de 1923, foi nomeado vigário cooperador da Paróquia de Itabaiana.
No ano seguinte, vinculando-se novamente à Diocese de Natal, tornou-se diretor do Colégio ‘Rui Barbosa’, na cidade de Ceará-Mirim. E, no final daquele ano, foi designado vigário da antiga Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, sediada em Jardim do Seridó (1925-1927), de onde saiu após ser nomeado diretor do Colégio Santa Luzia, de Mossoró. Ali, ao lado do padre Luís Mota, participou da reação organizada para defender a cidade contra o ataque do bando de Lampião, em junho de 1927(1).
Zeloso em suas funções, revelou-se um administrador probo e competente à frente do Colégio Santa Luzia, fazendo com que fosse aproveitado pelo Governo Revolucionário para administrar aquele município, na condição de prefeito discricionário, funções que exercer de 17 de outubro a 8 de dezembro de 1930 (2). Em 1934, comemorou suas bodas de prata sacerdotais, na cidade de Mossoró.
Educador de reconhecidos méritos, durante o governo de Rafael Fernandes, foi designado Diretor Estadual de Educação, funções que exerceu com brilho e destaque de 1935 a 1938. Sua ação como gestor público se fez presente em todos os municípios do Rio Grande do Norte. Em janeiro de 1936, assim noticiava um jornal natalense:
O Revmo. Cônego Amâncio Ramalho, acaba de inaugurar em Almino Affonso , florescente povoação do município de Patú, o Grupo Escolar ‘Clodomir Chaves’.
O acto, que foi assistido pelo Prefeito do município Júlio Fernandes e grande número de pessoas gradas, revestiu-se de grande pompa.
Discursaram, no momento, o Cônego Amâncio Ramalho, fazendo a inauguração, e depois a professora Alvanir Leão e o jovem José Chaves.
A Filarmônica Patuense sob a competente batuta do maestro Luiz Domiciano, executou diversas peças do seu repertório.
Terminado a inauguração, dirigiram-se os assistentes para a residência do Sr. Felinto Gadelha, onde foi servido ao Revmo. Cônego Amâncio Ramalho lauto jantar, seguindo-se depois outras festas, que se prolongaram até alta madrugada”(3).
Em 12 de maio de 1938, foi a Parelhas participar das celebrações do mês mariano e ali resolveu permanecer como vigário, funções que desempenhou até a sua morte, ocorrida a 24 de outubro de 1964.
Em Parelhas, o cônego Amâncio Ramalho realizou uma obra sacerdotal digna de registro. Sacerdote dinâmico, “dotado de altos predicados e excepcional formação religiosa”(4), a 11 de novembro de 1939, fundou em Parelhas a Congregação Mariana e a Pia União dos Filhos de Maria, congregando mais de 60 fieis (5), promoveu diversos melhoramentos na Igreja Matriz, construiu a Casa Paroquial e instalou uma escola de ensino primário, etc.
Em 1956, coordenou as festividades relativas ao primeiro centenário da cidade de Parelhas, realizadas de 10 a 20 de janeiro, durante a festa de São Sebastião, seu padroeiro. Agraciado com o título de Monsenhor, celebrou suas bobas de ouro sacerdotais, a 30 de maio de 1959, recebendo da população parelhense as mais sinceras homenagens.
Orador sacro dos mais talentosos, o monsenhor Amâncio Ramalho era um dos maiores latinistas do Rio Grande do Norte. Musicista, fundou em Parelhas a ‘Schola Cantarum’, espécie de conjunto orfeônico harmonioso, que durante muito tempo, foi a única do gênero no Estado e apresentou-se em diversas cidades, inclusive, em Natal, em junho de 1943.
Educador de reconhecidos méritos, o monsenhor Amâncio Ramalho foi um sacerdote, que sabia “guardar no fundo da alma os germes”, que alimentava “sem contrates sua robusta fé religiosa e sua incorrigível veia artística” (6).
Na cidade de Parelhas, viveu os últimos anos de sua vida, inteiramente dedicados à desenvolvimento social, econômico, humano e cultural de seu povo, sendo também seu guia religioso e conselheiro. Ali, Monsenhor Amâncio Ramalho ainda é lembrado por suas ações, por seus conselhos e exemplos do levita do Senhor.
NOTAS
1 - NONATO, Raimundo. À sombra dos tamarindos. Coleção Mossoroense, vol. LXXXIII. Rio de Janeiro: Gráfica Olímpica Editora Ltda., 1979, pág. 51.
2 - BRITO, Raimundo Soares. Legislativo e executivo de Mossoró numa viagem mais que centenária. Fortaleza: UFCE, 1985, p. 82.
3 - Jornal ‘A Ordem’, Natal-RN, edição de 30 de janeiro de 1936.
4 - NONATO, Raimundo. Op. cit., pág. 51.
5 - Jornal ‘A Ordem’, Natal-RN, edição de 22 de setembro de 1939.
6 - Jornal ‘A Ordem’, Natal-RN, edição de terça-feira, 15 de junho de 1943.
Parabéns. Ótimo trabalho.
ResponderExcluirEle foi elevado à categoria de Cônego em que data?
ResponderExcluirNestas ligeiras linhas de impressão, nenhum motivo nos afastou, uma linha, da justiça que costuma presidir os nossos atos. Não temos a alma mesquinha. Eis porque não podemos deixar de admirar também a dedicação do ilustre musicista Dr. Castro Cavalcanti, que nunca negou o seu concurso ao incansável padre Ramalho, todas às vezes que este o reclamava.
ResponderExcluirFoi uma festa verdadeiramente simpática e corretíssima, o Concerto de 7 de Setembro, merecendo os mais rasgados elogios a classe estudantil da nossa capital, o concurso da família teresinense e, de um modo especial, aquele que, com verdadeira dedicação e talento, que todos lhe reconhecem, levou à cabo a fiel execução do Concerto Pró-Riachuelo.
Queremos nos referir ao inteligente padre Amâncio Ramalho, a cuja batuta de se deve o desempenho e brilhantismo daquela festa musical, tão correta e tão grandiosa, que em todos os corações deixou a mais suave impressão. Parabéns”.
La vision e Gemito appassionato foram executados mui delicadamente pela senhorita Guiomar Oliveira.
ResponderExcluirTudo afinal correspondeu à expectativa do nosso público, que muito se dedicou pelo bom êxito do Concerto Pró-Riachuelo. Não podemos silenciar a impressão que os solos dos violinos deixaram em todos os corações.
Aos intervalos tocaram as duas bandas musicais Guarani e Polícia, exibindo bem ensaiadas peças que a todos agradaram.
Prestaram concurso forte não só diversos cavalheiros que, incansáveis, depressa transformaram o aspecto do nosso pobre Theatro, como, também, o Sr. Dr. Miguel Rosa que, como delegado do Comitê Pró-Riachuelo, no Estado, desenvolveu toda atividade, esforçando-se, desde o início dos ensaios, para harmonia e correção do festival.
O solo do Dr. Gonçalo Cavalcanti esteve irrepreensivelmente e foi admirável pelo gosto com que o executou e correção e graça com que foi acompanhado pela exímia musicista senhorita Alice S. Martins.
ResponderExcluirO Barbeiro de Sevilha, confiado à D. Durcila, acompanhada pela senhorita Lindoca Tote, mereceu muitos aplausos pelo bom desempenho.
Esteve agradabilíssimo o soldo do inteligente Eneas Maia, do qual a plateia pediu repetição. Deve-se acrescentar que foi acompanhado pela senhorita Zelinda Martins, já conhecida no nosso meio com uma das mais lisonjeiras promessas das pianistas desta terra.
A execução das peças, cuidadosamente ensaiadas pelo nosso talentoso companheiro padre Amâncio Ramalho, que não poupou esforços na incumbência que lhe fora confiada, esteve, como era de esperar, despertando o mais vivo entusiasmo no seio daquele seleto auditório. E nem devia ser o contrário, pois ali estavam os mais distintos artistas do nosso meio.
ResponderExcluirLevando as nossas mais sinceras felicitações àqueles que tão cabalmente se houveram no desempenho das partes que lhes foram confiadas, não podemos esquecer os nomes das distintas pianistas - senhoritas Alice Serra Martins e D. Rosita Belo, que se dedicarem ao ensino do piano, como se anuncia, certo poderão muito bem reformar o ensino deste instrumento aqui tão desconhecido.
O jornal O Apóstolo (PI), edição de 18 de setembro de 1910, página 3, publicou: “Realizou-se a 7 do andante, como se anunciara, o grande Concerto Pró-Riachuelo, promovido pela briosa classe estudantil teresinense e o que foi este festival está na consciência do nosso respeitável público.
ResponderExcluirAnunciado para as 8 e 1 / 2 da noite, a nossa casa de espetáculos achava-se caprichosamente ornamentada de festivos galhardetes, sendo profusa a iluminação.
O fim a que se destina aquela festa grandiosa, foi motivo para que a sociedade, no que ela tem de mais culto e elegante, ai estivesse, à hora aprazada, na mais doce alegria, aguardando o momento em que se devia ter início o Concerto.
A Guarani e a Polícia executaram várias peças.
Dado o sinal, em meio de profundo silêncio, começou o primeiro número da programação, que se encerrou debaixo de enorme salvas de palma. O programa, meticulosamente confeccionado, dividia-se em três partes e era variadíssimo. Nos intervalos fizeram-se ouvir diversos, que foram aplaudidos e, em virtude de serem longos, os discursos pronunciados, o Concerto prolongou-se até uma hora da madrugada.
Tive a honra de auxiliar suas Missas como seminarista,.Era de média estatura mas , como Sacerdote, era um Gigante !👏👏👏👏🙏🙏🙏🙏❤️❤️❤️❤️
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